Escrito
por Wanderley Oliveira
Quem ama de forma amadurecida
reconhece que não pode mudar ninguém. Apenas podemos colaborar, orientar,
incentivar...
Acreditar que nosso amor é
capaz de mudar quem nós amamos.
Parece-me que o fato de haver uma
maior proximidade entre nós e as pessoas que amamos, de forma muito sutil
passamos a acreditar que, por conhecê-las muito bem, temos o direito e a
capacidade de mudá-las.
Se existe algo muito difícil de
ser mantido em relações afetivas é o respeito às escolhas. Isso retira de nós a
possibilidade de examinar as pessoas amadas como uma individualidade, com suas
características próprias. Perdemos facilmente o senso de limite. E se uma das
partes abre mão de preservar sua identidade, sua necessidade e seus
sentimentos, a outra parte, mesmo que bem intencionada, poderá exceder em
desejos, sonhos e projetos para serem seguidos pela pessoa que ama. E, nessa
forma de construir a relação, uma das partes vai cada vez mais assumindo o
comando da relação e perdendo a noção de sua influência decisiva e controladora
sobre a outra parte.
Observe como funciona a lei
divina. Nem mesmo Deus nos retira das situações complicadas sem que ofereçamos
nosso desejo sincero de mudar. Se houver preguiça e más escolhas, permanecemos
nas sombras da maldade ou do erro por decisão pessoal; nesse caso, nem mesmo o
Criador pode nos retirar disso. O amor não é capaz de salvar quem não deseja
ser salvo. É da lei de Deus que ofereçamos algo para que alguma transformação
ocorra nos nossos destinos e para que mereçamos a força do amor em nosso favor.
Se essa lei vigora assim na
relação de Deus para conosco, quanto mais entre nossas relações! Se alguém que
amamos não quer sair do vício ou de alguma atitude infeliz, será uma ilusão
acreditar que nosso amor vai salvá-lo.
Muitos pais e mães se entregam a
culpas lamentáveis por acreditarem que o amor que tinham por seus filhos não
foi suficiente para retirá-los de dores e comportamentos que eles optaram por
escolha própria. Diante de suas culpas, ficam reféns de seus filhos que os
manipulam e exploram ao perceberem suas reações de fragilidade e desespero.
Assim também acontece com esposas que tentam “salvar” seus maridos com o seu
“amor”. Maridos alcoólatras, infiéis, desonestos, folgadões...
A realidade é que o amor não muda
ninguém quando essa pessoa não quer mudar. Além disso, é preciso ainda pensar
que, muitas vezes, o que chamamos de amor quase sempre está intoxicado de
piedade, desespero, dor, desorientação, mágoa pelo fato de a pessoa amada não
agir como gostaríamos e, até mesmo, de raiva. Todos esses sentimentos tomam o
lugar do amor que não amadureceu, e somente um amor amadurecido é capaz de nos
levar a ter atitudes e sentimentos diferentes desses que foram mencionados.
Quem ama de forma amadurecida
reconhece que não pode mudar ninguém. Apenas podemos colaborar, orientar,
incentivar, alertar, refletir e apoiar.
Acreditar que somos
responsáveis pelas escolhas de quem amamos.
Essa já é outra ilusão que decorre
da anterior. Quem acredita que pode mudar o outro acaba também se sentindo
responsável pelo que ele faz ou pelas escolhas que faz. A mesma linha de
raciocínio anterior funciona nesse assunto: a decisão e o sentimento é do outro
e não é responsabilidade nossa. Em qualquer contexto, mesmo onde exista o mau
exemplo de nossa parte, a pessoa que amamos pode ou não decidir por copiar
nossa atitude. A escolha é dela. Ela vai responder por isso e não poderá nos
culpar. Inegavelmente, influenciamos uns aos outros, mas não é da lei divina
que respondamos pelo que o outro faz.
Quando há uma identificação de
nossa parte com a escolha do outro, a ponto de supormos que responderemos pelo
que ele fez ou faz, isso acontece porque já desenvolvemos essa sensação de
culpabilidade por não mudar a pessoa amada. Isso advém da nossa rebeldia em
assumir que não somos onipotentes. Assumir nossa impotência é algo ainda muito
difícil de aceitar.
Acreditar que amar é
conceder à pessoa amada uma importância maior do que nós próprios.
Quando o nosso foco de amor é
totalmente deslocado para o outro, agregamos uma concepção de que o outro tem
mais importância que nós próprios. Com esse foco, passamos a desconsiderar
nossas necessidades e gostos para atender a pessoa amada. Um verdadeiro jogo de
manipulação e desrespeito se estabelece a partir dessa postura.
Amar não é abdicar completamente
de si. O verdadeiro amor é algo que se aplica também a nós. Mesmo amando
alguém, mantemos nossa individualidade. Temos sonhos. Amor de verdade é
parceria, troca e nutrição.
Colocar alguém como a pessoa mais
importante da nossa vida é agredir o nosso próprio equilíbrio. A sanidade e o
equilíbrio só existem quando temos claro para nós que é muito bom amar e ser
amado, mas a pessoa mais importante e a quem mais necessitamos devotar amor é a
nós mesmos. Aliás, em realidade, salvação de verdade só existe nessa ótica.
Quando damos maior importância a alguém que a nós próprios, caminhamos para ou
já estamos no autoabandono, que, em síntese, é a atitude de desamor a si
próprio.
Isso tem muito mais a ver com
egoísmo que com amor. Quando damos importância superlativa ao outro, estamos,
em verdade, tentando nos realizar nele, nos sentir importante tentando mudar o outro
ou fazer algo de bom ao outro para nos sentir com algum valor. Uma atitude
nociva e que reflete a baixa autoestima e a educação que muitos de nós
recebemos para agradar aos outros quando queremos ser amados. Um grave
equívoco!
Um comentário:
Serviu muito pra mim!!!
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