Por: Walter Barcelos
"Indubitavelmente, os que consigam
abster-se da comunhão afetiva, embora possuindo em ordem todos os recursos
instrumentais para se aterem ao conforto de uma existência a dois, com o fim de
se fazerem mais úteis ao próximo, decerto que traçam a si mesmos escaladas mais
rápidas aos cimos do aperfeiçoamento." — Emmanuel
O sexo é criação divina em todas as
pessoas e em todos os seres, para que tudo participe e coopere no processo
maravilhoso e profundo da Vida e da Evolução. Deus não criaria alguma coisa,
para que Ele mesmo, depois, proibisse a sua utilização. O sexo foi criado para
manifestar-se no corpo e no Espírito, dentro da Lei de Evolução, o que indica
estar num processo constante de aperfeiçoamento, dentro das experiências nos
séculos. A sexualidade, portanto, que se manifesta no Espírito imortal, visa ao
seu engrandecimento para a Eternidade.
21.1 — Causas básicas da abstinência
sexual e celibato
A abstinência sexual e a vida
celibatária não são requisitos absolutos para todos os Espíritos, mas somente
para uma determinada fração de criaturas, atendendo suas necessidades
particulares de serviço, resgate e burilamento. São duas as causas básicas que
provocam a abstenção sexual e a vida de solidão afetiva na experiência humana.
O Espírito Emmanuel esclarece-as:
"Abstinência, em matéria de sexo e
celibato, na vida de relação pressupõe experiências da criatura em duas faixas
essenciais — a daqueles Espíritos que escolhem semelhantes posições
voluntariamente para burilamento ou serviço, no curso de determinada
reencarnação, e daqueles outros que se vêem forçados a adotá-las, por força de
inibições diversas.
Uma parte de
Espíritos escolhe a vida celibatária, a fim de terem condições e tempo
suficiente para o cumprimento integral de determinada tarefa em auxilio à
Humanidade, outros para educar melhor os seus sentimentos e outros, ainda, não
alcançam a união matrimonial, na Terra, em virtude de inibições psicológicas e
físicas nascidas da consciência culpada, torturada por erros e crimes da
afeição mal dirigida, em vidas pretéritas.
21.2 — Pessoas celibatárias sofrem
incompreensões. Celibato: período para educação dos próprios impulsos
As criaturas com vida celibatária na
Terra muito dificilmente são compreendidas e normalmente sofrem críticas e
acusações, por parte de familiares e amigos, de possuírem indiferença, frieza,
preguiça, irresponsabilidade ou de serem afeitos à vida fácil, porque não se
casaram, fugindo das obrigações sagradas do matrimônio. São acusações que não
retraíam a realidade espiritual destas criaturas, na maioria dos casos. Não
podemos taxar as pessoas que vivem solidão afetiva, sejam homens ou mulheres,
servindo a uma ordem religiosa qualquer ou participando da vida em sociedade,
como criaturas sem necessidades afetivas, assexuais e sem anseios do coração.
Salvo as exceções de
causa já mencionadas, são portadoras de equipamentos genésicos perfeitos,
anseios afetivos intensos, que obedecem a um programa elevado de serviço e
burilamento, quando almas superiores; ou a um processo expiatório, quando menos
elevadas, tolhidas por inibições diversas.
Tais Espíritos devem passar por estas
experiências de caráter transitório, ou seja, não eterna, pois nenhum Espírito
está destinado a uma vida solitária, indefinidamente, através das
reencarnações. Ninguém foi criado para viver só. Em futuras reencarnações,
estes mesmos Espíritos retomarão a experiência da união conjugal, a qual por
certo saberão muito honrar, valorizar, executando os seus sagrados deveres.
Emmanuel no livro "Vida e
Sexo", observa: "Abstinência e celibato, seja por decisão súbita do
homem ou da mulher, interessados em educação dos próprios impulsos, no curso da
reencarnação, ou seja por deliberação assumida, antes do renascimento na esfera
física, em obediência a fins específicos, não contam indiferença e nem
anestesia do sentimento."
21.3 — Canalização das energias sexuais
para objetivos espirituais
Uma pequena parte dos Espíritos em vida
celibatária, seja em atividades nas diversas ordens religiosas do mundo ou fora
dela, em outras realizações nobres, são almas já com respeitáveis conquistas
evolutivas de sabedoria e amor, que buscam aproveitar o máximo de suas vidas no
serviço à Humanidade. Estes fazem de suas existências um serviço constante de
amor e abnegação, embora não deixem também de sofrer duras e difíceis carências
para testar e ratificar seus valores espirituais. Suas energias sexuais não
estão paralisadas, pois, sendo elas energias da própria vida, estão sendo
aplicadas em manifestações elevadas de ordem espiritual, no exercício da fé, da
caridade, da assistência fraternal, da instrução, da arte, da educação e da
ciência.
O Espírito Emmanuel explica a
canalização das energias sexuais: "Agindo assim, por amor, doando o corpo
a seviço dos semelhantes e, por esse modo, amparando os irmãos da Humanidade,
através de variadas maneiras, convertem a existência, sem ligações sexuais, em
caminho de acesso à sublimação, ambientando-se em climas diferentes de
criatividade, porquanto a energia sexual neles não estancou o próprio fluxo;
essa energia simplesmente se canaliza para outros objetívos — os de natureza
espiritual."
21.4 — Vida de sacerdote: lutas e
sofrimentos
Para aquilatarmos um pouco das grandes
lutas experimentadas pelo Espírito em vida celibatária, vejamos alguns detalhes
da vida religiosa do Padre Damiano, personagem do livro "Renúncia", o
qual é o próprio autor espiritual, Emmanuel, e que soube aproveitar muito bem
essa experiência, em mais de uma vez, para a sublimação das energias sexuais
dentro da disciplina, do amor e da abnegação:
"Que fora a sua vida de sacerdote
senão aquele rigoroso programa esboçado pela jovem Alcíone? Recordava os tempos
difíceis, as horas de tentações mais ásperas, os sacrifícios longos, as dores
que pareciam sem termo. (...)"
Ninguém conseguirá valores espirituais
respeitáveis sem esforço, persistência, desprendimento e humildade.
21.5 — Celibato voluntário sem
aproveitamento espiritual
Entre os Espíritos que se encontram em
vida celibatária servindo às diversas ordens religiosas do mundo, somente uma
minoria é que já educou e sublimou realmente os seus impulsos sexuais, pois a
maioria tem, nesta experiência difícil de silêncio afetivo, uma grande
oportunidade a fim de educar suas emoções e desejos para a vida espiritual
superior.
Os hábitos exteriores da convivência
regulada, da disciplina planejada, do regime afetivo e da vida de ascetismo não
determinam, por si só, as conquistas dos valores espirituais. Pode-se viver em
pleno egoísmo e muito distante das virtudes cristãs. É o que vemos na pergunta
de "O Livro dos Espíritos", na Questão 698: "O celibato
voluntário representa um estado de perfeição meritório aos olhos de Deus?
"Não, e os que assim vivem por
egoísmo, desagradam a Deus e enganam o mundo." Vida monástica, por si só,
não é sinônimo de evolução espiritual. Podemos passar uma vida toda com
disciplinas rígidas e não aproveitá-las para o aprimoramento dos sentimentos.
Num regime de abstenção sexual, sem
desenvolver os valores do coração, através do serviço de amor desinteressado
aos semelhantes, a alma continuará estacionária e sem sublimação das energias
sexuais. O Espírito Emmanuel aprofunda esta análise sobre celibato e
aperfeiçoamento espiritual:
"A criatura que abraça encargos
dessa ordem está procurando ou aceitando para si mesma aguilhões regeneradores
ou educativos, de vez que ordenações e providências de caráter externo não
transfiguram milagrosa-mente o mundo íntimo. As realizações da fé, por isso mesmo, se concretizam à base de
porfiadas lutas da alma, de si para consigo."
21.6 — Causas mais comuns do celibato:
inibições irreversíveis e processos de inversão
A esmagadora maioria dos Espíritos em
vida celibatária, nas ordens religiosas ou fora dela, são criaturas menos
elevadas em grandes lutas expiatórias para educar seus impulsos genésicos, que
em vidas passadas foram muito mal aplicados. Agora voltam em abstinência
sexual, não simplesmente por uma aceitação voluntária, mas, sim, impulsionados
por duas forças poderosas de contenção sexual: inibições irreversíveis e
processos de inversão, que são os complexos psicológicos profundos e o
fenôasmeno da homossexualidade, seja no homem ou na mulher. As causas
espirituais são básicas na maioria das experiências celibatárias, como nos diz
Emmanuel:
"(...) encontramos aqueles outros,
os que já renasceram no corpo físico induzidos ou obrigados à abstinência
sexual, atendendo a inibições irreversíveis ou a processos de inversão pelos
quais sanam erros do pretérito ou se recolhem a pesadas disciplinas que lhes
facilitem a desincumbência de compromissos determinados, em assuntos do
Espírito".
Podemos considerar os Espíritos, nestes
casos acima, como submetidos ao regime de abstinência sexual involuntária, pois
uma força mais poderosa do que a própria vontade ou aptidão, determinou este
tipo de experiência para disciplinar e educar as suas energias desordenadas e
muitas vezes confusas.
2 comentários:
Nossa, maravilhoso texto, impecável, esclarecedor e digamos que nos faz refletir muito sobre o que estamos fazendo da nossa vida, dos nossos impulsos, o quanto conhecemos a nos mesmo intimamente, um desafio e tanto eu diria.
Excelente explicação, acredito que a minha timidez seja um freio afim de fazer enxergar a busca por uma vida mais regrada e próxima de Deus.
Postar um comentário