Por: Leda Maria Flaborea
Batismo é a prática dos ensinamentos
do Cristo, fé em Deus e trabalho no bem.
Nos vários departamentos da atividade
cristã, em todos os tempos, surgem controvérsias no que se refere aos problemas
do batismo na fé... A sua origem está nas práticas dos povos ditos
pagãos. Entretanto, ele se modifica no seu conceito, após Jesus: antes d`Ele, o
batismo era feito com água e, depois d`Ele, com fogo. Os homens batizando
na carne, Jesus no Espírito.
Irmãos nossos de outras crenças,
cristãos ou não, têm em suas práticas o uso da água como purificação
espiritual. O sacerdócio criou, para isso, cerimoniais e sacramentos. Assim, há
batismos de recém-nascidos, há batismos de pessoas adultas, dependendo da
crença que envolva as instituições. Sem desmerecer seus ritos, é necessário,
todavia, que o examinemos à luz da Doutrina Espírita. Todo aquele que crê em
Deus e aceita os ensinamentos do Mestre Jesus, poderia analisar melhor esse
assunto através da lógica. É importante nos lembrarmos desse procedimento, porque
a renovação espiritual não se verificará somente por práticas externas, nesta
ou naquela idade física. Determinadas cerimônias materiais, nesse
sentido, segundo nosso estimado benfeitor espiritual Emmanuel, eram
compreensíveis nas épocas em que foram empregadas.
Paulo deixou claro que o batismo como
era realizado à época de Jesus não era mais importante que a divulgação, o
ensino e a prática das luzes que Ele deixou. E o apóstolo assim dizia, porque
sabia que o ponto alto de sua missão era a evangelização das massas e não o
batismo como era prática comum entre os profetas e os apóstolos, daí a sua
assertiva em uma carta aos coríntios, (1:14 a 17): “(...) porque o Cristo me
enviou não para batizar, mas para evangelizar”.
Evangelizar, então, segundo Paulo de
Tarso, (São Paulo para os irmãos de outros credos cristãos), é levar àqueles
que não sabem os ensinamentos de Jesus, ajudando-os a vivenciá-los, como forma
de elevação espiritual e aperfeiçoamento moral.
Sabemos que nos anos iniciais da
escola humana, mais precisamente na instrução infantil, os pequenos precisam da
colaboração de figuras, de objetos, de tudo que seja concreto, coisas adequadas
ao seu entendimento, para que possam atravessar as portas iniciais do
conhecimento e avançar até estudos mais complexos, o que vai exigir, mais
adiante, maiores elaborações do pensamento.
Todavia, em relação ao ensino do
Evangelho, ele próprio não deixa dúvidas, pois faz imensa luz. E é em Atos,
(19:5), que encontramos a conclusão: “(...) E os que ouviram foram batizados em
nome de Jesus”. Aí está o batismo de fogo: o convite do Excelso amigo à
renovação, à transformação dos nossos sentimentos e nossos pensamentos, que
demandará de cada um de nós atitudes de renúncia e sacrifícios, esforços e
determinação... É o convite para “amar a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo”, tão difícil de ser realizado, pois ainda estamos
presos às raízes do egoísmo, do orgulho desmedido, do olhar para si mesmo e
imaginar que somos o centro do mundo.
A proposta de Jesus a uma mudança na
nossa forma de olhar o outro coloca-nos em situação de igualdade, irmanados nas
mesmas dificuldades, pois, ao conseguirmos enxergar mais o outro do que a nós
mesmos, atendendo ao convite bendito do Mestre de amor e bondade, teremos sido
batizados em nome d`Ele... Aí reside a sublime verdade. “A bendita renovação da
alma àqueles que ouviram os ensinamentos do Mestre Divino, exercitando-lhes as
práticas. Muitos recebem notícias do evangelho todos os dias, mas somente os
que ouvem estarão transformados”, afirma Emmanuel com muita propriedade, no
livro Vinha de Luz, na lição 158.
Sob essa luz, parece-nos possível
concluir que, para o Espiritismo, batismo é a prática dos ensinamentos do
Cristo, através do exemplo vivido com resignação, fé na Providência Divina e
trabalho no bem.
As nossas transgressões às leis
divinas podem ser remidas através do batismo de fogo da expiação que elas
suscitam. Provações e expiações terrenas são, portanto, formas de batismo; e
quando tivermos triunfado sobre elas teremos sido batizados, mais uma vez, em
nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Em O Evangelho segundo o Espiritismo,
Allan Kardec escreve, por causa da intensa perseguição que a Doutrina Espírita
sofria no seu início, o seguinte comentário, lembrando outra forma de batismo: “(...)
A perseguição é o batismo de toda ideia nova, grande e justa, e cresce com a
magnitude e a importância da ideia”. Foi assim com Jesus; é assim com o
Espiritismo!
Na concepção espírita do pecado
original, posto que ninguém será responsabilizado pelo erro que o outro
cometeu, o batismo deve ser encarado como uma cerimônia iniciática ou de
consagração à crença que o postulante abraça. Como espíritas, entretanto,
devemos entender, segundo revelação dos Espíritos Iluminados, que o verdadeiro
batismo da criança se processa através da educação. O Espiritismo educa o homem
para a vida em sociedade, e prepara-o para a caminhada em direção a Deus.
E como espíritas, na sagrada missão de paternidade, compreender que o batismo,
aludido no Evangelho, é a solicitação das bênçãos divinas para todos aqueles
que venham a se reunir no instituto da família.
Longe de quaisquer cerimônias de
natureza religiosa, o espírita deve entender o batismo como o apelo do seu
coração ao Pai de Misericórdia, para que os seus esforços sejam santificados no
trabalho de conduzir as almas que lhes são confiadas, compreendendo, além
disso, que esse ato de amor e compromisso divino deve ser continuado por toda a
vida, na renúncia e no sacrifício, em favor da perfeita cristianização dos
filhos, sob o pálio do trabalho, da dedicação. Assim afirma Emmanuel,
respondendo a questão 298, do livro O consolador, psicografado pelo saudoso
Francisco Cândido Xavier.
E é, ainda, no prefácio do livro No
Mundo Maior, de André Luiz, também chegado a nós pela abençoada mediunidade de
Chico Xavier, que Emmanuel deixa registrada uma frase de grande alerta para
todos nós. Diz ele, textualmente: “O batismo simbólico ou o tardio
arrependimento no leito de morte não bastam para garantir o futuro espiritual
de ninguém. Se a mera arte humana exige a paciência dos anos para se chegar ao
seu término, que dizer da obra sublime do aperfeiçoamento da alma, destinada a
glórias indescritíveis”.
A generosa pedagogia de Jesus
continua a propor, até hoje, que se busque o Reino de Deus, entendendo a
expressão como a espiritualidade que devemos conquistar, conscientes de que
ninguém a logrará à custa de rituais externos, por mais honestos que sejam, que
não impliquem a mobilização de nossas forças intelectuais, morais e às vezes
físicas.
O que nos parece verdadeiro é que
cada movimento que fazemos na busca de solucionar nossas dificuldades, com
dignidade, honestidade, com fé em Deus e em nós mesmos; cada luta que travamos
conosco, no nosso íntimo, procurando ser criaturas melhores todos os dias; cada
pequeno sucesso de superação das nossas imperfeições morais mostra que estamos
no caminho certo. Caminho de luz, de harmonia dentro e fora de nós, de profundo
agradecimento ao Pai Misericordioso pelas oportunidades que nos dá de sermos
todos os dias batizados em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Bibliografia:
GODOY, Paulo Alves. O Evangelho Pede
Licença, 3ª ed., Edições FEESP – S. Paulo/SP - “Não vim para batizar” – 1997 –
p. 145.
SCHUTEL, Cairbar. O Batismo, Editora
Casa O Clarim – MATÃO/SP.
EMMANUEL (Espírito). Caminho, Verdade
e Vida, [psicografado por] F. C. Xavier – 20 ed., CEC, 1995, lição 158.
PAULO – I CORÍNTIOS, 1: 14-19.
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