Hei de passar meu dia, sem querer ficar pensando, preocupado, no dia que vou ter amanhã.
Vou aguentar o que me acontecer, já
que amanhã, quando acordar a luz, já estarei melhor.
Cuidarei de me sentir feliz, quieto
com a hora, que me veio, dentro da qual habito, vivendo-a devagarinho.
Vou pensar um pouco, vou ler alguma
coisa boa, vou enriquecer-me de alguma idéia certa, de alguma ideia pura.
Darei um jeito de ajustar-me aos
fatos, sem pretender que os fatos se ajustem a mim.
Farei um bem a alguém, pelo mero
gosto de ver feliz um meu irmão, o primeiro que me aparecer.
Farei tudo para ir contra meu feitio,
aceitando, sem me queixar, a primeira amolação que me vier.
Calar-me-ei um pouco mais, não
contando logo o que me sucedeu de triste, guardando-o dentro de mim.
Vou mostrar um rosto melhor, cuidar
mais da minha aparência, para nada somar à cruz dos meus irmãos.
Tratarei de falar menos, de escutar
mais, para dar ensejo de alguém desabafar.
Desistirei de corrigir todo mundo,
lembrando de que todo mundo deve sofrer os defeitos, que moram em mim, maiores
do que imagino e mais implicantes.
Farei um pequenino programa de vida,
ordenando de algum modo o repetente curso das minhas horas.
Irei contra minha pressa, contra
minha indecisão, nem me adiantando, nem me atrasando.
Tenho de arranjar uns minutos de
silêncio e reflexão, lembrando de que tenho alma e coração.
Acreditarei na beleza, acreditarei na
bondade, sem me deixar desencantar com o que houver de ruim, na vida.
Falarei, de vagar, com filial
confiança a meu Deus, aumentando meu hábito de lembrar-me dele, no calor das
horas, na roldana dos trabalhos.
Vou acabar com minhas implicâncias
com o dia de ontem, que não existe mais; com o dia de amanhã, que ainda não é,
não pode, nem deve ser meu.
Capricharei em tudo, como se tratasse
do derradeiro dia da vida, como se fosse o primeiro.
Só por hoje, sem apegos nenhuns, nem
ânsias nenhumas, certo de que cada dia me leva para mais perto do Pai,
adiantando a hora de entrar na pátria.
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