Revista Espírita Allan Kardec, nº 37
Um dos flagelos da humanidade chama-se solidão.
Mas o que é a solidão? Seria a ausência de companhia, de pessoas
à nossa volta? Seria estar longe das civilizações?
Mais grave do que estar só é sentir-se só. Duas pessoas que
vivem situações parecidas poderão ter comportamentos diferentes. Enquanto uma é
infeliz, a outra sobrevive, e bem.
Solidão, mais do que estar só, é a insatisfação da pessoa com a
vida e consigo mesma. É precisar da multidão à sua volta, por não perceber que
pode bastar-se por si mesma, desde que descubra a riqueza do seu interior. A
solidão nasce da insegurança e da necessidade de sentir-se amada, porque ignora
que o grande truque é amar.
Há quem use solidão como tempo de inspiração, análise e
programação. Não é mais a solidão popularmente conhecida, porque se transforma
em recolhimento ao próprio íntimo, necessidade que todos temos, sem nos dar
conta. Vez que outra, é preciso estar só. Tentamos nos dar bem com os outros,
mas não sabemos viver na harmonia de nós mesmos. Quando Amyr Klink, saindo da
África, chegou à Bahia, navegando dias e dias, sozinho em sua pequena embarcação,
perguntaram-lhe se a solidão não teria sido seu maior obstáculo. A resposta foi
que nunca estivera só, porque muitos torciam por ele e, além disso, fazia o que
lhe causava prazer. Quem age dessa forma não dá espaço para a solidão.
Cabe analisar quem são as vítimas da solidão. E responderíamos
que são os que não lutam, que nada realizam, não amam, não vivem...!
Quem se fecha em seus problemas, em suas mágoas, melindra-se
facilmente, auto-flagela-se e inutiliza preciosas oportunidades de realizações
importantes. Deus não pode ocupar-se com os que insistem em ser infelizes.
Deixa primeiro que despertem e valorizem a vida, para depois enviar-lhes a
ajuda que possam compreender.
O antídoto para a solidão, mais do que os antidepressivos ou os
divãs dos analistas, é a ocupação. De qualquer tipo. Trabalho profissional,
trabalho de lazer, trabalho de amor ao próximo. Quem se achar em sofrimento,
procure ser útil. Quem vive gastando o tempo para reclamar de má sorte,
experimente aplicar as horas tristes no trabalho. E como catalisador para esse
entendimento não podemos desprezar um agente eficaz contra a solidão: O Centro
Espírita.
Nesse pequeno compartimento da imensa Casa de Jesus há, sempre,
disponibilidade de vagas para serviços no bem. E, sempre, atinge primeiro o
próprio agente. É aí que o jovem estudante busca serenidade para entender as
lições mais difíceis; é aí que a moça, frustrada com a perda do namorado,
encontra para substituí-lo um amor diferente, sublimado; é ai onde a mãe que
ficou, prematuramente, sem o filho querido, conhece outros filhos que suprirão
a falta dele; é ai onde a viúva, idosa e enferma, encontra a companhia de
operosos auxiliares do Cristo, para suavizar o seu isolamento e a saudade do
companheiro; é aí, enfim, onde todo sofrimento se transforma em progresso e
entendimento.
Nenhum outro lugar, por mais prazer que ofereça, pode combater a
solidão como o Centro Espírita, sem dispêndio para aquele que chega com a mágoa
no coração. Ali, enquanto serve, se cura; quando oferece, recebe; ao sorrir, se
alegra; com ajuda, se reergue.
Abençoado Centro Espírita, que além destes abriga também os que
se sentem infelizes, que têm a alma sensível pronta para oferecer-se. São os
que têm consciência de como a vida é boa e retribuem a Deus pela dádiva, ao invés
de queixar-se do abandono ou revoltar-se contra os atos comuns da vida de todos
nós. Centro Espírita que a todos recebe, servidores e necessitados, com a
intenção de irmaná-los e integrá-los em um só propósito e diminuindo a
infelicidade porque esta, sempre, faz seu ninho no escuro de cada um,
independente da idade, saúde ou situação financeira.
Felizes os que despertam e passam pela porta estreita do Centro.
Metade do problema já estará resolvido.
Felizmente, a cada dia os que ali aportam são em maior número e,
brevemente, chegará o dia em que o entendimento será absoluto.
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