Por: Clara Proença Braga
Início
de semana, início da aula, e meu professor de Filosofia entra em sala e começa
a falar de valores. É um assunto delicado de comentar e principalmente lecionar
sobre o tema, mas, após algumas explanações conceituais, ele quis expor a
mudança de valores sofrida na sociedade com o passar do tempo e o fez com um
exemplo bem inquietante: relacionamentos.
Utilizando-se
do quadro, ele colocou ali três gerações bem distintas e as características
que, em média, representavam os pensamentos das pessoas sobre a relação a dois.
A
primeira geração era dos 60 aos 85 anos e a descrição era conhecer, namorar,
noivar, casar e morte. A segunda geração, dos 35 aos 55 anos, era descrita como
conhecer, namorar, noivar(?), casar(?) e separar, com as interrogações
simbolizando as incertezas na ocorrência desse fato, por se relacionarem com a
vontade do casal. Enfim, chegou-se à geração que nos interessa: a nossa. A
faixa etária era de 15 aos 30 anos e a ordem era ficar, namorar, noivar (?),
casar (?) e separar.
A
mudança de pensamentos e valores fica mais que evidente! As mulheres passaram a
possuir um papel mais decisivo e independente nos relacionamentos, a família
não mais decide os casais, apenas oferece suporte; a separação torna-se, não
uma certeza, mas um ato viável e aceito pelos demais; a política do desapego
cria raízes na mentalidade do jovem; o casamento
torna-se opcional diante da facilidade de “juntar” as coisas…
Modificações
das mais diversas e muitas para melhor, mas será que nesse desenvolvimento na
forma de nos envolvermos estamos perdendo alguma coisa?
Permitam-me
dizer que estamos. E, talvez, mais do que seja possível dimensionar no
momento.
A
geração da qual participo é a terceira do quadro de giz, uma geração que antes
de buscar seriedade em algum relacionamento quer testá-lo, e testá-lo, e
testá-lo… Muitos testes, de vários tipos e de tempo indeterminado. Você fica
uma vez, você fica esporadicamente, você fica sério e então, talvez, você
namore… Quer dizer, entre em um relacionamento sério.
É
nesse momento que o mundo deve dar uma estacionada e refletir: algum
relacionamento não é sério? Obviamente, alguns valores atuais dizem que sim. E,
mais que isso, envolvimento e apego são mazelas que apenas causam sofrimento e
decepção, logo, a melhor forma de evitar isto é a política do desapego e ficar
com várias pessoas, tendo em vista que a monogamia é sufocante e devastadora.
Sinceramente,
que mentalidade mais limitada e, infelizmente, comum! Salvo as exceções, as
pessoas de fato acreditam e defendem estas ideias e por trás de toda essa
certeza que expressam, temos o medo.
A
verdade é que relacionamentos são um desafio diário, que só são vencidos quando
há sentimento e força de vontade por ambos os lados e, mesmo assim, sempre há a
possibilidade de um dos lados desistir desta luta no meio do caminho, por
motivos dos mais diversos, e a decepção de se ver sozinho pode ser
traumatizante.
A
decepção amorosa é tão natural e humana como o ato de respirar, faz parte da
formação de caráter e de superação. Todos são capazes de superar as dores de um
coração partido, e sem band-aid e sem traumas, mas com a mentalidade de que, se
nem a vida é eterna, sofrimento não há de ser e que somos capazes de amar mais
de uma vez.
No
fim, quando se ama, o que queremos é a companhia, é a risada, a conversa, as
memórias e as histórias; queremos desfrutar da confiança sem a incerteza do
próximo passo; queremos deixar a vida seguir seu curso sem que coloquemos
empecilhos e defeitos; queremos acreditar que vai dar certo, diferente do
ocorrido nas outras vezes. Quando é para valer, não tem meio sério e muito
sério, porque tudo é importante, já que a pessoa é importante.
Todavia,
para sentir tudo isso, querer tudo isso é preciso coragem e vontade, é preciso
se desprender das amarras de uma sociedade que acha que sentimentos são
esquecíveis e controláveis quando eles não são. Sentimentos são um dos pontos
mais complexos e fundamentais da psique humana e jamais devem ser tratados de
forma banal. É preciso acreditar em si e na sua capacidade de ser relevante
para alguém e desprender-se da facilidade que a individualidade carrega e
buscar os desafios de um mundo em que não se vive só.
O
mundo é difícil e sempre foi. Cada geração tem seus traumas e seus medos, mas o
medo de amar não é uma opção quando a magia da vida está em compartilhar,
sentir, expressar, demonstrar, e desapego só se for do egoísmo, do orgulho, da
inveja e do rancor. A luta, diferente do que nos vendem diariamente, não é por
mentalidades indiferentes e corações desapegados, mas por mentalidades que se
importam e corações que amam.
Um comentário:
Nossa que ajuda que esse texto me deu muito lindo e mantenham o blog atualizado
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