Por Alessandro Viana Vieira de Paula
Certamente a questão proposta no título deste artigo já foi amplamente
discutida e abordada por inúmeros confrades espíritas, todavia, gostaria de
trazer à baila as reflexões do próprio codificador, Allan Kardec, sobre o
assunto em pauta.
Na Revista Espírita de dezembro de
1868, Allan Kardec inicia o artigo enaltecendo a importância das assembleias
religiosas, das reuniões coletivas nos templos religiosos, porque estão de
conformidade com a proposta do Cristo: “Onde quer que se encontrem duas ou três
pessoas reunidas em meu nome, aí estarei com eles” (Mateus, XVIII, 20).
São inquestionáveis os resultados
que se produzem quando há a comunhão de pensamentos, sobretudo quando
alicerçados num ideal comum, que é de estudar, refletir, aprofundar-se sobre as
propostas morais de Jesus.
Quando estamos no templo
religioso, obviamente o nosso real objetivo deve ser de busca do sentido da
vida, de fortalecimento moral, de reflexão em torno das questões espirituais
ali tratadas, para que possamos nos transformar intimamente para melhor, tendo
o amor vivido e pregado por Jesus como meta maior.
Em grupo de pessoas esse objetivo
se torna mais factível, porque notamos que há inúmeros indivíduos com as mesmas
lutas morais que nós, buscando a superação dos vícios, da ignorância e dos
próprios limites morais, e saímos dos templos religiosos motivados por essa
energia coletiva e pela comunhão de pensamentos.
Nesse sentido, Allan Kardec afirma
que: “Sendo a vontade uma força ativa, esta força é multiplicada pelo
número de vontades idênticas, como a força muscular é multiplicada pelo número
de braços”.
Joanna de Ângelis assevera que
muitos buscam a religião mais por formalidade, pressão social ou exigência
familiar, portanto, nota-se que estes, porque desconectados do ambiente religioso,
terão dificuldades em atingir os efeitos benéficos acima descritos.
O Codificador ainda descreve outro
ponto positivo das reuniões religiosas sérias: “... se o pensamento
coletivo adquire força pelo número, um conjunto de pensamentos idênticos, tendo
o bem por objetivo, terá mais força para neutralizar a ação dos maus Espíritos;
assim, vemos que a tática destes últimos é impelir para a divisão e para o
isolamento. Sozinho, o homem pode sucumbir, ao passo que, se sua vontade for
corroborada por outras vontades, poderá resistir, segundo o axioma: A união faz
a força, axioma verdadeiro no moral quanto no físico”.
Acrescenta,
ainda, o nobre Codificador: “Por outro lado, se a ação dos Espíritos
malévolos pode ser paralisada por um pensamento comum, é evidente que a dos
bons Espíritos será secundada. Sua influência salutar não encontrará
obstáculos; não sendo os seus eflúvios fluídicos detidos por correntes
contrárias, espalhar-se-ão sobre todos os assistentes, precisamente porque
todos os terão atraído pelo pensamento, não cada um em proveito pessoal, mas em
proveito de todos, conforme a lei da caridade”.
Na atualidade, lamentavelmente,
vemos muitas famílias e pessoas afastadas dos templos religiosos, porque
sintonizadas com as correrias e comodidades da vida moderna, preocupadas apenas
com o usufruir, lembrando-se de Deus somente nos momentos de dor, de forma que
perdem os inúmeros benefícios espirituais e morais que a religião pode ofertar.
Allan Kardec ao lançar a questão:
“O Espiritismo é uma religião?” afirma que o conceito correto de religião, na
sua acepção nata e verdadeira, “é um laço que religa os homens numa comunidade
de sentimentos, de princípios e crenças... O efeito desse laço moral é o de
estabelecer entre os que ele une, como consequência da comunidade de vistas e
de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a
benevolência mútuas”.
Também se conceitua religião, com
veracidade, como sendo a oportunidade de conexão da criatura com o Criador
Celestial.
Entretanto, conforme nos orienta o
Codificador, o conceito de religião foi sendo comprometido, distorcido ao longo
do tempo, em razão dos ritos e formalismos criados pelo homem, de forma que, ”na
opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto”.
Dessa forma, Allan Kardec diz que: “Não
tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção
usual do vocábulo, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo
valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz:
doutrina filosófica e moral”.
Que notável a explicação do
Codificador! O Espiritismo, de fato, é destituído de ritos, imagens, adorações
e cultos, de forma que as pessoas, que trazem na intimidade o conceito
distorcido de religião, têm dificuldade de entender o Espiritismo como
religião.
Quando chegam à Casa Espírita pela
primeira vez, são tomadas de espanto, dada a simplicidade do ambiente, que não
tem imagens, santos, velas, ritualismos e autoridades religiosas.
Allan Kardec ainda aborda os laços
que deve unir os espíritas. Deve ser um “sentimento todo moral, todo
espiritual, todo humanitário: o da caridade para todos, ou, por outras
palavras: o amor do próximo, que compreende os vivos e os mortos, desde que
sabemos que os mortos sempre fazem parte da humanidade”.
Conclui o Codificador: “A
caridade é a alma do Espiritismo”.
Assim
sendo, na acepção correta da palavra religião, que é de conectar o homem a Deus
e a si mesmo numa comunidade de sentimentos, de princípios e de crenças que o
ajudarão a se tornar criaturas mais moralizadas, amorosas e nobres, certamente
que o Espiritismo é uma religião, mas, repita-se, não uma religião
comprometida com cultos, aparências exteriores, formalismos desnecessários e
ritos repetitivos.
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