Reforma íntima

É um processo contínuo de autoconhecimento, de conhecimento da nossa intimidade espiritual, modelando-nos progressivamente na vivência evangélica, em todos os sentidos da nossa existência. É a transformação do homem velho, carregado de tendências e erros seculares, no homem novo, atuante na implantação dos ensinamentos do Divino Mestre.
a) Por que a Reforma Íntima?
Porque é o meio de nos libertarmos das imperfeições e de fazermos objetivamente o trabalho de burilamento dentro de nós, conduzindo-nos, compativelmente, com as aspirações que nos levam ao aprimoramento do nosso Espírito.

b) Para que a Reforma Íntima?
Para transformar o homem e, a partir dele, toda a Humanidade ainda tão distante das vivências evangélicas. Urge enfileirarmo-nos ao lado dos batalhadores das últimas horas, pelos nossos testemunhos, respondendo aos apelos do Plano Espiritual e integrando-nos na preparação cíclica do Terceiro Milênio.

c) Onde fazer a Reforma Íntima?
Primeiramente dentro de nós mesmos, cujas transformações se refletirão depois em todos os campos de nossa existência, no nosso relacionamento com familiares, colegas de trabalho, amigos e inimigos e, ainda, nos meios em que colaboramos desinteressadamente com serviços ao próximo.

d) Quando fazer a Reforma Íntima?
O momento é agora e já; não há mais o que esperar. O tempo passa e todos os minutos são preciosos para as conquistas que precisamos fazer no nosso íntimo.

De modo geral, vivemos todos em função dos impulsos inconscientes que se agitam no nosso mundo interior. Manifestamos, sem controle e sem conhecimento próprio, nosso desejos mais recônditos, ignorando suas raízes e origens.
Somos todos vítimas dos nosso próprios desejos mal conduzidos. Se sentimos dentro de nós uma atração enorme e alimentamos um desejo de posse, não nos perguntamos se temos o direito de adquirir ou de concretizar aquela inspiração. Sentimos como se fôssemos donos do que queremos, desrespeitando os direitos do próximo. Queremos e isso basta, custe o que custar, contrariando ou não a liberdade dos outros. O nosso desejo é mais forte e nada pode obstá-lo, esta é a maneira habitual de reagirmos internamente.
Agindo desse modo, interferimos na vontade dos que nos cercam e contrariamos, na maioria das vezes, os desejos daqueles que não se subordinam aos nossos caprichos. Provocamos reações, violências de parte a parte, agressões, discussões, desajustes, conflitos, ansiedade, tormentos, mal-estares, infelicidades. Vemos constantemente os erros e defeitos dos que nos rodeiam e somos incapazes de perceber nossos próprios erros, tão ou mais acentuados que os dos estranhos. As nossas faltas são sempre justificadas por nós mesmos, com razões claras ao nosso limitado entendimento. Colocamo-nos sempre como vítimas. Esse comportamento é típico nos seres humanos e confirma o desconhecimento de nós mesmos, das reações e manifestações que habitam a intimidade do nosso eu, sede da alma.
A grande maioria das criaturas humanas ainda se compraz na manifestação das suas paixões e não encontra motivos para delas abdicar em benefício de alguém; são os imediatistas, de necessidades mais elementares, com predominância das funções animais, como reprodução, conservação, defesa. Dentro dessa maioria, compreendemos claramente como hábitos mais evidentes e comuns a sensualidade, a gula, a agressividade que, no ser tradicional, muitas vezes ultrapassam os limites das reações primitivas animais nos requintes de expressão, decorrentes daqueles três hábitos: ciúme, vingança, ódio, luxúria, violência. Podemos dizer que há nesses tipos de indivíduos a predominância da natureza animal, orgânica ou corpórea.
Uma pequena minoria da Humanidade compreende a sua natureza espiritual, e como tal, reflete um comportamento mais racional e menos impulsivo, isto é, suas necessidades já denotam aspirações do sentimento, algum esforço em conquistar virtudes e, assim, libertar-se dos defeitos derivados do egoísmo.
Estamos todos, possivelmente, numa categoria intermediária, numa fase de transição de Espíritos imperfeitos para Espíritos bons e, portanto, ora nos comprazemos dos impulsos característicos do primeiro, ora buscamos alimentar o nosso Espírito nas realizações do coração, na caridade, na solidariedade, no esforço de auto aprimoramento. Vamos, assim, de modo lento, nas múltiplas existências realizando o nosso progresso individual, elevando-nos na escala que vai do ser animal ao ser espiritual, alicerçando interiormente os valores morais.
Em [LE-qst 919a] Santo Agostinho afirma: “O Conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual”.  Todo esforço individual no sentido de melhorar nesta vida e resistir ao arrebatamento do mal só pode ser realizado conscientemente, por disposição própria, distinguindo-se claramente os impulsos íntimos e optando por disposições que nos levam às mudanças de comportamento. Desse modo, “conhecer-se a si mesmo” é a condição indispensável para nos levar a assumir deliberadamente o combate à predominância da natureza corpórea.

Como Conhecer-se
A disposição de conhecer-se a si mesmo pode surgir naturalmente como fruto do amadurecimento de cada um, de forma espontânea, nata, resultante da própria condição do indivíduo, ou poderá ser provocada pela ação do sofrimento renovador que, sensibilizando a criatura, desperta-a para valores novos do Espírito. Uns chegam pela compreensão natural, outros pela dor, que também é um meio de despertar a nossa compreensão.
Um grande número de indivíduos são levados, devido a desequilíbrios emocionais, a gabinetes psiquiátricos ou psicoterápicos para tratamento específicos. Através desses tratamentos vêm a conhecer as origens de seus distúrbios, aprendendo a identificá-los e a controlá-los, normalizando, até certo ponto, a sua conduta. Porém, isso acorre dentro de uma motivação de comportamento compatível com os padrões de algumas escolas psicológicas., quase todas materialistas.
Na Doutrina Espírita, como Cristianismo Redivivo, igualmente buscamos o conhecimento de nós mesmos, embora dentro de um sentido muito mais amplo, segundo o qual entendemos que a fração eterna e indissolúvel de nosso ser só caminha efetivamente na sua direção evolutiva quando pautando-se nos ensinamentos evangélicos, únicos padrões condizentes com a realidade espiritual nos dois planos da nossa existência.
É preciso, então, despertar em nós a necessidade de conhecer o nosso íntimo, conhecer exclusivamente as causas e as origens de nosso traumas e recalques, de nossas distonias emocionais nos quadros da presente existência é limitar os motivos dos nossos conflitos, olvidando a realidade das nossas existências anteriores, os delitos transgressores do ontem, que nos vinculam aos processos reequilibradores e aos reencontros conciliatórios do hoje.
As motivações que nos induzem a desenvolver nossa remodelação de comportamento projetam-se igualmente para o futuro da nossa eternidade espiritual, onde os valores ponderáveis são extremamente aqueles obtidos nas conquistas nobilizantes do coração.
Percebendo o passado longínquo de erros, trabalhamos livremente no presente, preparando um futuro existencial mais suave e edificante. Esse é o amplo contexto de nossa realidade espiritual, à qual almejamos nos integrar atuantes e produtivos.
Allan Kardec [CI-cap VII] mostra, que no caminho para a regeneração não basta ao homem o arrependimento. São necessárias a expiação e a reparação, afirmando que “A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal” , e também “praticando o bem em compensação ao mal praticado, isto é, tornando-se humilde se tem sido orgulhoso, amável se foi rude, caridoso se foi egoísta, benigno se perverso, laborioso se ocioso, útil se for inútil, frugal se intemperante, exemplar se não o foi.”
Como podemos nos reabilitar dentro dessa visão panorâmica da nossa realidade espiritual, infinitamente ampla, é o que pretendemos, à luz do Espiritismo, abordar neste trabalho de aplicação prática.
Reabilitar-se exige modificar-se, transformar o comportamento, a maneira de ser, de agir; é reformar-se moralmente, começado pelo conhecimento de si mesmo.
Múltiplas são as formas pelas quais vamos conhecendo a nós mesmos, nossas reações, nosso temperamento, o que imprime as nossas ações ao meio em que vivemos, aquilo que é a maneira como respondemos emocionalmente, como reagimos aos inúmeros impulsos externos no relacionamento social.
Podemos concluir que a nossa existência é todo um processo contínuo de reformulação de nossos próprios sentimentos e de nossa compreensão dos porquês, como eles surgem e nos levam a agir. Quando não procuramos deliberadamente nos conhecer, alargando os campos da nossa consciência, dirigindo-a rumo ao nosso eu, buscando identificar o porquê e a causa de tantas reações desconhecidas, somos igualmente levados a nos conhecer, exatamente nos entrechoques com aqueles do nosso convívio, no seio familiar, no meio social, nos setores de trabalho, nos transportes coletivos, nos locais públicos, nos clubes recreativos, nos meios religiosos, enfim, em tudo o que compreende os contratos de pessoa a pessoa.


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