Por: Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Certamente a questão proposta no título deste
artigo já foi amplamente discutida e abordada por inúmeros confrades espíritas,
todavia, gostaria de trazer à baila as reflexões do próprio codificador, Allan
Kardec, sobre o assunto em pauta.
Na Revista Espírita de dezembro de 1868, Allan
Kardec inicia o artigo enaltecendo a importância das assembleias religiosas,
das reuniões coletivas nos templos religiosos, porque estão de conformidade com
a proposta do Cristo: “Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas reunidas
em meu nome, aí estarei com eles” (Mateus, XVIII, 20).
São inquestionáveis os resultados que se
produzem quando há a comunhão de pensamentos, sobretudo quando alicerçados num
ideal comum, que é de estudar, refletir, aprofundar-se sobre as propostas
morais de Jesus.
Quando estamos no templo religioso, obviamente
o nosso real objetivo deve ser de busca do sentido da vida, de fortalecimento
moral, de reflexão em torno das questões espirituais ali tratadas, para que
possamos nos transformar intimamente para melhor, tendo o amor vivido e pregado
por Jesus como meta maior.
Em grupo de pessoas esse objetivo se torna mais
factível, porque notamos que há inúmeros indivíduos com as mesmas lutas morais
que nós, buscando a superação dos vícios, da ignorância e dos próprios limites
morais, e saímos dos templos religiosos motivados por essa energia coletiva e
pela comunhão de pensamentos.
Nesse sentido, Allan Kardec afirma
que: “Sendo a vontade uma força ativa, esta força é multiplicada pelo
número de vontades idênticas, como a força muscular é multiplicada pelo número
de braços”.
Joanna de Ângelis assevera que muitos buscam a
religião mais por formalidade, pressão social ou exigência familiar, portanto,
nota-se que estes, porque desconectados do ambiente religioso, terão
dificuldades em atingir os efeitos benéficos acima descritos.
O Codificador ainda descreve outro ponto
positivo das reuniões religiosas sérias: “... se o pensamento coletivo
adquire força pelo número, um conjunto de pensamentos idênticos, tendo o bem
por objetivo, terá mais força para neutralizar a ação dos maus Espíritos;
assim, vemos que a tática destes últimos é impelir para a divisão e para o
isolamento. Sozinho, o homem pode sucumbir, ao passo que, se sua vontade for
corroborada por outras vontades, poderá resistir, segundo o axioma: A união faz
a força, axioma verdadeiro no moral quanto no físico”.
Acrescenta, ainda, o nobre
Codificador: “Por outro lado, se a ação dos Espíritos malévolos pode ser
paralisada por um pensamento comum, é evidente que a dos bons Espíritos será
secundada. Sua influência salutar não encontrará obstáculos; não sendo os seus
eflúvios fluídicos detidos por correntes contrárias, espalhar-se-ão sobre todos
os assistentes, precisamente porque todos os terão atraído pelo pensamento, não
cada um em proveito pessoal, mas em proveito de todos, conforme a lei da
caridade”.
Na atualidade, lamentavelmente, vemos muitas
famílias e pessoas afastadas dos templos religiosos, porque sintonizadas com as
correrias e comodidades da vida moderna, preocupadas apenas com o usufruir,
lembrando-se de Deus somente nos momentos de dor, de forma que perdem os
inúmeros benefícios espirituais e morais que a religião pode ofertar.
Allan Kardec ao lançar a questão: “O
Espiritismo é uma religião?” afirma que o conceito correto de religião, na sua
acepção nata e verdadeira, “é um laço que religa os homens numa comunidade de
sentimentos, de princípios e crenças... O efeito desse laço moral é o de
estabelecer entre os que ele une, como consequência da comunidade de vistas e
de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a
benevolência mútuas”.
Também se conceitua religião, com veracidade,
como sendo a oportunidade de conexão da criatura com o Criador Celestial.
Entretanto, conforme nos orienta o Codificador,
o conceito de religião foi sendo comprometido, distorcido ao longo do tempo, em
razão dos ritos e formalismos criados pelo homem, de forma que, ”na opinião
geral, a palavra religião é inseparável da de culto”.
Dessa forma, Allan Kardec diz que: “Não
tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção
usual do vocábulo, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo
valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina
filosófica e moral”.
Que notável a explicação do Codificador! O
Espiritismo, de fato, é destituído de ritos, imagens, adorações e cultos, de
forma que as pessoas, que trazem na intimidade o conceito distorcido de
religião, têm dificuldade de entender o Espiritismo como religião.
Quando chegam à Casa Espírita pela primeira
vez, são tomadas de espanto, dada a simplicidade do ambiente, que não tem
imagens, santos, velas, ritualismos e autoridades religiosas.
Allan Kardec ainda aborda os laços que deve
unir os espíritas. Deve ser um “sentimento todo moral, todo espiritual, todo
humanitário: o da caridade para todos, ou, por outras palavras: o amor do
próximo, que compreende os vivos e os mortos, desde que sabemos que os mortos
sempre fazem parte da humanidade”. Conclui o Codificador: “A caridade é a
alma do Espiritismo”.
Assim sendo, na acepção correta da palavra
religião, que é de conectar o homem a Deus e a si mesmo numa comunidade de
sentimentos, de princípios e de crenças que o ajudará se tornar criatura mais moralizada, amorosa e nobre, certamente que o Espiritismo é uma
religião, mas, repita-se, não uma religião comprometida com cultos, aparências
exteriores, formalismos desnecessários e ritos repetitivos.
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