A Ciência, propriamente dita, é uma conquista recente; não ultrapassa a três séculos, embora seus primeiros ensaios tenham começado na Grécia dos áureos séculos VI, V, IV a.C. Temo-la representada por Arquimedes, em cujas pesquisas deram base para a mecânica, por Pitágoras de Samos, por Tales de Mileto, por Euclides de Alexandria, no desenvolvimento da matemática e da estruturação numérica.
Um milênio após essas apoteóticas realizações gregas, ocorreu, na Europa, a desagregação do Império romano, no século V, e a liderança cristã surgiu como elo de agregação dos “bárbaros invasores” e se transformou em Igreja soberana absoluta dos destinos “espirituais” no Ocidente.
No século XIII, Tomás de Aquino se destacou, propondo a síntese do cristianismo vigente com a visão aristotélica do mundo. Em suas duas Summae, sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de então. No século XIV, a Igreja romana, sob os guantes tomasistas, entronizou uma teologia (fundada na revelação) e uma filosofia (baseada no exercício da razão humana) que se fundiram numa síntese definitiva: fé e razão, unidas em sua orientação comum rumo ao Criador. A tese de Aquino afirmava que não podia haver contradição entre fé e razão e estabeleceu o pensamento filosófico-teológico manifesto na truculenta filosofia do “Roma locuta causa finita”.
A partir dos séculos XV e XVI, o homem passa a ser o principal personagem (antropocentrismo). Os pensadores criticaram e questionaram a autoridade dessa autoritária Igreja romana. Nessa conjuntura a apropriação do conhecimento partia da realidade observada pela experimentação, pela constatação, e, por fim, pela teoria, decorrendo uma ligação entre ciência e técnica. No século XVII, a primeira grande teoria de que se tem notícia na moderna ciência versou sobre a gravitação universal elaborada por Newton, desmembrada das leis dos movimentos planetários de Kepler e na Lei de Galileu sobre a queda dos corpos.
No século XIX Marx Plank propôs a teoria do Quantum. No século XX, Albert Einstein resignificou a teoria da relatividade e outros pressupostos das teses newtonianas sobre a gravitação universal, chegando a conclusões inusitadas na abordagem sobre as realidades do micro ou do macrocosmo, sobretudo no que reporta a tempo e espaço na dimensão material. Até então, a física tradicional era considerada a chave das respostas da vida no mundo palpável, estribada no determinismo mecanicista. Todavia, na década de 1920, as pesquisas de Brooglie, no universo da física quântica, redirecionaram o pensamento científico na formulação heisenberguiana do “princípio da indeterminação ou da incerteza” e com ele irrompeu-se um “irracionalismo” na ciência redimensionando a distância do homem das realidades naturais da vida.
Em meio a essas trajetórias históricas, surge, no cenário terrestre, no século XIX, a personalidade luminosa de Allan Kardec, que, inspirado pelos Benfeitores do Além, sentenciou: Fé verdadeira é a que enfrenta frente a frente a razão em qualquer época da humanidade , esclarecendo os enigmas que desafiavam as inteligências daqueles mesmos que confiavam nos determinismos tecnicistas do nec plus ultra acadêmico.
A proposição da Ciência Espírita é descortinar a realidade do Espírito imortal, fundamentada em realces científicos acerca dos fenômenos mediúnicos coletados na metodologia doutrinária. A proficuidade desse saber está na razão direta do seu bom emprego por parte daqueles que dele tomam ciência. Desse modo, é preciso que nos apropriemos de tal forma do saber contidos nas obras básicas da Doutrina dos Espíritos que, por via de consequência, nos façamos senhores de nós mesmos, ou seja, emancipados intelectualmente da cegueira espiritual do materialismo, tanto quanto das superstições.
O mestre de Lyon ainda afirmou em outras palavras que o Espiritismo independe de qualquer crença científica ou religiosa e não propõe que fora do Espiritismo não haja salvação; tanto quanto não pretende explicar toda verdade, razão pela qual não propôs – “fora da verdade não há salvação”. Os preceitos kardecianos consubstanciam-se no manancial mais expressivo das verdades eternas. A missão da Doutrina Espírita perpassa o processo de reerguimento do edifício desmoronado da crença cristã.
Jorge Hessen
Nenhum comentário:
Postar um comentário