Pergunta – Eugênia, seria abusivo perguntar sobre
masturbação?
Resposta – Claro que não. A
forma de me perguntar já revela a necessidade de se ventilar a
temática. Tudo deve ser falado, sob a perspectiva da Espiritualidade,
principalmente o que é foco de tabu, porque, então, os automatismos neuróticos
e destrutivos, bem como as fixações culturais e sociais, agem mais livremente a
prejuízo de comunidades e indivíduos.
Pergunta – No passado, Eugênia, tratava-se a masturbação como
pecado ou como desequilíbrio que até poderia causar distúrbios mentais e
físicos. A medicina (auxiliada pela psicologia e pela sexologia) eliminou os
fundamentos de tais crendices populares (que tiveram muito apoio de gente
instruída, em tempos idos), mas, no meio espírita, ainda se considera a
masturbação como vampirismo ou desvio de função das energias sexuais, um
desperdício, qual se todo ato masturbatório indicasse uma queda em tentação.
Poderia nos falar algo sobre estas considerações?
Resposta – Sim. É
gritantemente necessário que o postulado básico de acompanhar a ciência seja
lembrado entre aqueles que desejam, sinceramente, desposar o Espiritismo como
filosofia de vida. Apegar-se a velhos conceitos, por tradição, por medo de
enfrentar o novo ou por receio de ser plenamente responsável pelos próprios
atos, é de tal modo descompassado com a modernidade, que nos eximimos de
expender mais comentários a respeito. Importante lembrar que médiuns acabam
filtrando, inconscientemente, o pensamento das entidades que se manifestam por
seu corpo mental, de modo que refrações sutis e graves podem se dar (e se dão
sempre, em algum nível). Eis por que a vigilância deve ser acentuada,
sobremaneira quando condicionamentos culturais e convenções muito cristalizadas
estão envolvidos.
O que tem dito a ciência sobre
o assunto? Que a masturbação é algo natural e até desejável para o indivíduo
adulto; e que, mesmo entre aqueles que já têm a vida afetiva disciplinada nos
corredores da educação conjugal, é compreensível aconteça o fenômeno do
onanismo (para os dois gêneros), que se revela mesmo imperioso, amiúde, quando
os ritmos sexuais dos parceiros não se alinham, a fim de que um não incomode o
outro na satisfação de suas necessidades de fundo psicofisiológico, nem alguém
se frustre na quota de libido que lhe não seja possível imediatamente canalizar
para atividades não-sexuais, sem gerar recalques indesejáveis.
Seja na tenra idade, seja em
idade avançada, para solteiros ou casados, hétero ou homossexuais, o fenômeno
masturbatório pode ser comparado à ida ao banheiro para a excreção dos detritos
alimentares. Há abusos, sem dúvida, como os há em tudo na existência humana. Os
ritmos sexuais podem ser exacerbados, na compulsão, ainda que se não tenha
parceiro para a prática. Cada caso é um caso, e, somente com profundo
autoconhecimento, a criatura descobre o sistema apropriado ao seu modo de ser,
em função do bem-estar geral, da produtividade, da criatividade e do sentimento
de equilíbrio íntimo, que constituem alguns dos resultados da vida sexual
resolvida.
Quanto ao vampirismo, pode
acontecer também na vida afetiva a dois, sempre que os desajustes da perversão
e da promiscuidade invoquem, para a alcova do casal, presenças extrafísicas de
baixo calão vibratório, pelo próprio diapasão de desequilíbrio em que se
expressam em seu momento de intimidade.
Pergunta – Que bom, Eugênia! Creio que estas suas colocações
esclarecedoras vão ajudar muitas pessoas. Entretanto, você aludiu a
“perversão”, e este conceito me parece muito amplo e difuso, pelo mesmo motivo
de os preconceitos adentrarem este departamento valorativo. Temos muita
dificuldade em aceitar e conviver com nosso lado animal, e muitos são os que
têm vergonha e não se soltam em funções elementares de sua própria fisiologia,
tudo tendo como sinal de depravação, primitivismo e imoralidade. O que você
quis dizer por “perversão”? Digo, porque, inclusive, na temática “masturbação”,
está em jogo, normalmente, o fator “fantasia”, que pode incluir itens que não
sejam desejados também na relação concretizada a dois – estou certo?
Resposta – O tema é muito
complexo, e, sem dúvida, não o esgotaremos nesta nossa primeira fala a
respeito. Por outro lado, não somos autorizados por Nossos Maiores, ainda, a
discorrer abertamente sobre o assunto, porque mentes menos amadurecidas,
levianas, despreparadas para nos ouvir, poderiam fazer mau uso de nossas
afirmações. O que podemos dizer é que tudo que lese física, emocional ou
moralmente alguém pode ser enquadrado no capítulo “perversão”, ao passo que
tudo quanto promova o bem-estar biopsíquico, o crescimento psicológico e a boa
relação entre as criaturas não pode ser considerado como distúrbio moral ou
patologia psíquica.
O quesito “fantasia” é ainda
mais intrincado, porque, freqüentemente, melhor que se liberem certos conteúdos
indesejados (e ainda não de todo domesticáveis) da psique, por meio das
ferramentas imagéticas, do que fazê-los colapsarem no próprio comportamento, em
surtos que se chamam, em psicologia junguiana, de “possessão pela sombra” (*).
Os princípios de civilização, entretanto, devem sempre reger tais processos
mentais, na promoção da educação e da melhoria progressiva dos indivíduos, dos
mais ínfimos aos maiores gestos, dos mais secretos aos públicos. A gerência de
tais impulsos – que, como disse, não podem, em sua totalidade, ser de pronto
sublimados – corre por conta da responsabilidade de cada um, em função do
próprio e do bem comum.
Pergunta – Algo mais desejaria dizer, por ora?
Resposta – Que se procure, em
tudo, o ponto de vista do bom senso, do equilíbrio, da visão de conjunto, e
dificilmente se incorrerá em erros graves de conduta, seja consigo mesmo, seja
nas relações interpessoais.
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4 comentários:
Excelente entrevista.
Muito obrigado por essas informações, muito o que aprendrer.
Maravilhoso esclarecimento. De fato ajudou demais. Gratidão ao médium e ao espírito!
Explica bem o processo masturbatorio
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