Estudar o Espiritismo

Por: Valter Viana
“Acrescentemos que o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina Espírita, que nos lança de súbito numa ordem de coisas tão nova quão grande, só pode ser feito com utilidade por homens sérios, perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado. Não sabemos como dar esses qualificativos aos que julgam "a priori", levianamente, sem tudo ter visto; que não imprimem a seus estudos a continuidade, a regularidade e o recolhimento indispensáveis. Ainda menos saberíamos dá-los a alguns que, para não decaírem da reputação de homens de espírito, se afadigam por achar um lado burlesco nas coisas mais verdadeiras, ou tidas como tais por pessoas cujo saber, cujo caráter e convicções, lhes dão direito à consideração de quem quer que se preze de bem-educado. Abstenham-se, portanto, os que entendem não serem dignos de sua atenção os fatos. Ninguém pensa em lhes violentar a crença; concordem, pois, em respeitar a dos outros. O que caracteriza um estudo sério é a continuidade que se lhe dá...” Foi Allan Kardec quem fez essa importante colocação em "O Livro dos Espíritos", Capítulo VIII - Introdução, o que consideramos um alerta para os que, ao se aproximarem do Espiritismo, o julgariam ou o questionariam sem o devido estudo prévio.

Por vezes conversamos com pessoas que fazem questionamentos sobre temas ligados à Doutrina Espírita e estas, invariavelmente, realizam perguntas, as quais geram, de nossa parte, respostas que, geralmente, as intrigam, pois somos da opinião de que, em qualquer crença, as respostas às questões do tipo: "O que somos? De onde viemos? Para aonde iremos? Que é Deus? Devo ser bom?” e tantos outros “por ques” devem ser dadas com muita clareza.
É fato de que muitas pessoas aproximam-se e permanecessem no Espiritismo pelos mais variados motivos. No entanto, poucas conseguem perseverar no estudo necessário para entendê-lo com profundidade. É fato que uma boa parte fica deslumbrada por alguns de suas características, outros companheiros possuem dúvidas variadas inclusive a respeito de pontos básicos e outra considerável parcela desconhece a sua essência e relembrando o memorável Herculano Pires, “o Espiritismo ainda continua sendo um desconhecido", e, a maioria, movida pela ânsia de soluções imediatistas, ainda não o busca como uma nova filosofia de vida ou para, pelo menos entender o porquê "do ser, do destino e da dor".
Dentre os que frequentam com assiduidade as Instituições Espíritas alguns se dão por satisfeitos por conhecerem superficialmente os princípios básicos da Doutrina e, infelizmente, acomodam-se nessa atitude, esquecendo que nosso aprendizado em qualquer situação da vida deve ser constante e progressivo. Não estamos aqui nos referindo às pessoas que visam satisfazer as suas curiosidades sobre os fenômenos mediúnicos, tampouco as que estão a "procura de soluções imediatistas" para seus problemas, mas a parcela de frequentadores assíduos.
Não basta, em absoluto, fazer um "intensivo" sobre Espiritismo, coletando informações aqui e acolá, lendo alguns livros espíritas, assistindo a palestras, mas, sim, são necessários, pelo menos, a leitura constante e o estudo rigoroso das obras básicas, a chamada Codificação Espírita ou Pentateuco Kardequiano.
Ouvimos, com certa frequência, algumas pessoas alegarem de que o estudo da Doutrina não é muito fácil de ser feito, pois para uns trata-se de leitura difícil, para outros ocorre à falta do tempo necessário, e assim por diante. Porém, os que assim pensam ficam, na maioria das vezes, embatucados com as questões mais simples sobre o Espiritismo e perdem a preciosa oportunidade de se lançarem ao estudo e entendimento de questões mais complexas e daquelas que requerem um amplo e concreto conhecimento doutrinário. No entanto sabemos também de que o conhecimento é absorvido por cada um de nós de modo e intensidade diferentes, variando de acordo com a bagagem de inteligência e nível moral que possuímos, ambos resultado das nossas experiências acumuladas em nossas diversas encarnações.
A participação nos grupos de estudos é uma das melhores maneiras de conhecermos a Doutrina, tanto que a FEB - Federação Espírita Brasileira - e as federativas estaduais incentivam, e muito, o ESDE (Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita) e dentro desta visão cabe aos dirigentes das instituições espíritas a criação de grupos de estudos e a orientação necessária para que os frequentadores deles participem e como há muito para ler e estudar, torna-se também necessário a indicação dos livros que devemos inicialmente ler, para não iniciarmos os estudos através de obras controvertidas e/ou sem conteúdo doutrinário.
Ressaltamos de que os grupos de estudo nos centros espíritas revelam-se como atividade essencial para seus frequentadores, o que na prática tem mostrado ótimos resultados, propiciando sempre novos e mais preparados colaboradores, isto é, com melhores conhecimentos sobre o Espiritismo como um todo. O próprio Codificador, depois da terceira viagem por várias cidades da França, no ano de 1862, já afirmava: "Há algum tempo, constituíram-se alguns grupos de especial caráter e cuja multiplicação entusiasticamente desejamos encorajar. São os denominados grupos de ensino."
Daí a recomendação os que buscam conhecer, de fato, o Espiritismo, que procurem os centros espíritas que oferecem estudos variados, os quais deverão ser sempre, estritamente baseados nas obras de Kardec.
Entendemos que compete a todos nós a grande responsabilidade de preservar a pureza do Cristianismo Redivivo, e, de forma alguma, a pretexto de tolerância Cristã, usar de condescendência para com as deturpações que invadem o Espiritismo, pois sabemos que a Doutrina codificada por Kardec é o alicerce sólido, indestrutível, feito para sustentar um número infinito de andares, mas é necessário ter o cuidado para que os andares a serem construídos sobre esse alicerce sejam da mesma qualidade, estrutura e robustez, capaz de suportar os que forem construídos acima, caso contrário comprometerão todo o edifício, pois toda e qualquer prática fora dos preceitos doutrinários é um andar fragilizado, que, com o tempo, ruirá.
Bom estudo, hoje e sempre!
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