Seguir a luz para encontrar o caminho

Por: Leda Maria Flaborea

“Temos, porém, este tesouro em vasos de barro para que
 a excelência do poder seja de Deus e não de nós.” (1)

 Se formos ao dicionário, encontraremos a palavra pedra como sinônimo de dureza. Entretanto, Jesus recorreu a ela, muitas vezes, para significar firmeza. Ele próprio chamou Pedro, Seu discípulo de “rocha viva de fé”. Cada um de nós admira essa firmeza de fé, não importa de onde venha. O que não podemos é repousar sobre a firmeza alheia, esquecendo de construir nossos próprios alicerces.
Tudo na vida convida o homem ao trabalho de seu aperfeiçoamento e iluminação.
 Dizemos a todo instante que acreditamos em Deus, no Seu poder, na Sua bondade e na Sua justiça. Mas, também, a todo instante, só temos fé quando Ele cura nossos males, alivia as dores e as aflições, ou quando estamos relativamente felizes ou em paz. No Deus que permite que as tentações nos rondem a existência; que nos convida a lutar contra elas, tendo por suporte a firmeza de nossa fé; que testa essa firmeza quando nos envia padecimentos como experiências imprescindíveis ao nosso crescimento, nesse Deus não temos fé.
 Muitos possuem assim a singular disposição em matéria de fé: hoje creem, amanhã descreem. Ontem, se entregavam a firmes manifestações de fé; entretanto, porque alguém não se curou de algum mal, hoje perdeu a confiança, e se entregou ao longo caminho da negação. Ontem, iniciaram a prática do bem com fé e vontade, através do serviço e do consolo aos que sofrem; mas, alguém lhes tocou com os espinhos da ingratidão, e hoje, abandonam o serviço e os propósitos de fazer o bem.
Não compreenderam – e muitos de nós ainda não compreendem – que o exercício do amor não pode cansar o coração. Apesar de laboriosamente conquistarmos ou buscarmos conquistar os talentos da fé, do conhecimento superior, o dom de consolar e a capacidade de servir, nada disso nos pertence. O poder da fé, o esclarecimento através do conhecimento, a capacidade de consolar e servir na Seara do Mestre são bênçãos de Deus. É Dele o poder e não nosso. Quando compreendemos isso, entendemos também que nosso planeta não é lugar só de alegrias. Encontramos, ao contrário, lágrimas e penas amargas em todos os cantos. Entendemos, também, que os problemas da alma não estão circunscritos a dias ou a semanas terrenas, e nem podem viver acondicionados a deficiências físicas. Os problemas da alma são problemas de vida, de renovação e de eternidade. Se nos cansarmos de ter fé, de ter esperança, de praticar o bem por causa do mal que nos cerca, seja em nós mesmos ou no ambiente em que vivemos, como conseguiremos colher com nossas próprias mãos os benefícios que estão reservados para nós no futuro?
Até alcançarmos triunfo pleno sobre nossos desejos malsãos, sofreremos na vida, seja no corpo de carne ou além dele, os flagelos da tentação. Não é fácil nos desligarmos das forças que nos prendem aos círculos menos elevados da vida. Por essa razão, a vida continua semeando luz e oportunidade para que não nos faltem os frutos da experiência. Se a tentação nasce de nós porque ainda estamos imersos em nossos impulsos instintivos não dominados, o chamado à educação e ao aprimoramento vem de Deus.
Devagar, o trabalho e a dor, a enfermidade e o término da vida terrena nos fazem reconsiderar os caminhos até agora percorridos, impulsionando nossas mentes para a Esfera Superior. Quando compreendemos que as aflições são um mal necessário, compreendemos, também, que o remédio que nos ajudará a suportá-lo é a firmeza de nossa fé na justiça divina e no Seu infinito amor por todos os Seus filhos.
Apesar de nossa origem divina, mil obstáculos nos separam da Paternidade Celeste: o orgulho nos cega; o egoísmo nos tranca o coração; a vaidade nos ergue falsos tronos de favoritismo indébito, nos afastando da realidade; a ambição inferior nos lança em abismos de fantasias destruidoras; a revolta forma tempestades sobre nossas cabeças; a ansiedade nos fere a alma. E através desses sentimentos conflitantes e aflitivos, com os quais julgamos pertencer ao corpo físico, nos esquecemos de que todo patrimônio material que nos circunda representa empréstimos de forças e possibilidades para descobrirmos a nós mesmos e nos valorizarmos como filhos do Pai Criador. “É o conflito da luz e da treva em nós mesmos”, e, por essa razão, Emmanuel nos orienta a “seguirmos a luz para acertarmos o caminho”. 
“Todos os talentos que conquistamos, toda a capacidade de poder servir e todo fortalecimento das virtudes, sentimentos contrários às imperfeições que são os obstáculos a nos separar da Vida Superior”, na feliz definição do Apóstolo Paulo, “transportamos no vaso de barro da nossa profunda inferioridade, a fim de que  saibamos reconhecer que todo amor, toda santificação, toda excelência e toda beleza da vida não nos pertence de modo algum, mas sim à glória de nosso Pai, a quem nos cabe obedecer e servir, hoje e sempre.” Pela Sua infinita bondade, empresta-nos, oferece-nos todas as oportunidades, para que possamos crescer, evoluir e progredir espiritualmente em direção ao Seu amor.
Tudo que precisamos conquistar para nos tornarmos criaturas melhores está aí, às nossas vistas. Por não enxergarmos as possibilidades oferecidas, permanecemos mergulhados na amargura, na infelicidade e no desânimo, colocando-nos como vítimas e não como agentes na manutenção desse estado. Culpamos os outros, à vida e a Deus, por não nos darem oportunidades de melhoria. Quase sempre, esperamos que a solução venha do Alto, como chuva de luzes, resolvendo todos os nossos problemas,  arrancando-nos dessa apatia que sentimos diante das dificuldades, aliviando nossos padecimentos, sem precisarmos nos levantar, arregaçar as mangas e partir para o trabalho.
Não temos fé na Providência Divina? Às vezes temos, mas é uma fé vacilante. Fé daquele que só crê porque consegue ajuda momentânea e transitória. Quando acaba o efeito da ajuda, termina a fé. É difícil compreender que se a aflição é proporcional à falta cometida, o benefício, também, será proporcional ao mérito do nosso trabalho.
Deus não tem dois pesos e duas medidas. A fé é um estado de graça, bênção divina, que precisa ser fortalecida a cada dia, e isso só acontece quando transformamos essa fé em obras no bem, a começar por nós mesmos.

Bibliografia:
(1) PAULO, II Coríntios, 4:7.
(2) EMMANUEL (Espírito) – Palavras de Vida Eterna. [psicografado por] F. C. Xavier – 20ª ed., Comunhão Espírita Cristã Edições – UBERABA/MG – 1995 – lição 21.
(3) Vinha de Luz. [psicografado por] F. C. Xavier – 14 ed., RIO DE JANEIRO/RJ – lição 40.
(4) KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, Capítulo XIX. 
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