Há meio século os cantores Roberto e
Erasmo Carlos lançaram a música “É proibido fumar”. Passados cinco décadas, a
canção é oportuna e pode ter soado como premonição naqueles momentos tão
afastadas dos anos de 1960, considerando que hoje está em pleno vigor no Brasil
a lei federal antifumo, que “proíbe fumar” em locais fechados de uso coletivo –
públicos e particulares – de todo o país. Em resumo, assegura lugares
completamente livres de cigarros e do cheiro de fumaça. Está terminantemente
proibido cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos, narguilés [1] e similares
em locais como hall e corredores de condomínios, restaurantes e clubes, mesmo
que o ambiente esteja apenas parcialmente fechado por parede, divisória, teto
ou toldo.
A lei extingue os nefandos fumódromos
e extingue a propaganda comercial de cigarros até mesmo nos pontos de venda,
onde era permitida publicidade em displays. Fica permitida a exposição dos
produtos, acompanhada por mensagens sobre os males provocados pelo fumo. Além
disso, os fabricantes terão que aumentar os espaços para os avisos sobre os
danos causados pelo tabaco, que deverão aparecer em toda a face posterior das
embalagens e de uma de suas laterais.
Todavia, como estamos na pátria do
“jeitinho” a lei tem as suas brechas e consente fumar em áreas ao ar livre,
parques, praças, espaços abertos de estádios de futebol, vias públicas e em
tabacarias, que devem ser voltadas especificamente para esse fim. Entre as
exceções (pasme) estão cultos religiosos, onde os “fiéis” podem fumar (sic),
caso isso faça parte do ritual. Conquanto inconcebível, em nosso país um ritual
pode permanecer acima da lei, afinal de contas é “constrangedor” não permitir
que os “Espíritos” deem cachimbadas, charutadas, tragadinhas, portanto, “eles”
não precisam obedecer as leis dos reles mortais.
Devemos pautar as nossas atitudes e
as nossas regras de conduta, na sociedade, pelos resultados de pesquisas
científicas bem conduzidas. Gostem ou não os fumantes daqui e do “além túmulo”,
o século XX testemunhou as importantes descobertas sobre os malefícios do fumo
para a saúde. Graças ao aprimoramento das técnicas de investigação
epidemiológica, muito se sabe sobre o assunto. No ano 2000, um Relatório da
Organização Mundial de Saúde (OMS), considerou o tabagismo a maior pandemia de
todos os tempos.
São vários os estudos científicos
baseados em evidências que não deixam qualquer sombra de dúvida de que o tabaco
é cancerígeno. Desde 1964, quando foi feita a primeira descoberta em relação ao
câncer de pulmão, outros cânceres tiveram seu aparecimento relacionado ao
tabaco como, por exemplo, câncer de boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas,
rins, bexiga, colo de útero, estômago e fígado. Três equipes de pesquisadores,
que publicaram estudos nas revistas Nature e Nature Genetics, "apontaram
duas áreas de variações no cromossomo 15. Fumantes ou ex-fumantes que têm as
duas cópias das duas variantes, uma herdada do pai e outra da mãe, que são
cerca de 15%, têm um aumento entre 70% e 80% de risco de desenvolver câncer
pulmonar".[2]
Sabemos que a ação negativa do
cigarro sobre o perispírito do fumante prossegue após a morte do corpo físico.
Segundo ensina o Espirito Emmanuel - O problema da dependência continua até que
a impregnação dos agentes tóxicos nos tecidos sutis do perispírito ceda lugar à
normalidade, o que, na maioria das vezes, tem a duração correspondente ao tempo
em que o hábito perdurou na existência física do fumante. Quando a vontade do
interessado não está suficientemente desenvolvida para arredar de si o costume
inconveniente, o tratamento dele, no mundo espiritual, ainda exige cotas
diárias de sucedâneos dos cigarros comuns, com ingredientes análogos aos dos
cigarros terrestres, cuja administração ao paciente diminui gradativamente, até
que ele consiga viver sem qualquer dependência do fumo [3]
É evidente que há pessoas que fumam e
conseguem alimentar pensamentos de bondade no cotidiano (a despeito de estar
aniquilando o corpo físico) e há aqueles que, embora não fumem, são viciados no
dinheiro, no sexo, no álcool, na maledicência e noutras iniquidades. Deste
modo, via de regra, é "menos lesivo" para a
sociedade um fumante bondoso do que um não-fumante depravado.
Notas e referência bibliográfica:
[1] Narguilé é um cachimbo de água
utilizado para fumar tabaco aromatizado. Além desse nome de origem árabe também
é chamado de hookah (na Índia e outros países que falam inglês), shisha ou goza
(nos países do norte da África), narguilê, narguila, nakla, maguila, arguile,
naguilé etc. Há diferenças regionais no formato e no funcionamento, mas o
princípio comum é o fato de a fumaça passar pela água antes de chegar ao
fumante. É tradicionalmente utilizado em muitos países do mundo, em especial no
Norte da África, Oriente Médio e Sul da Ásia
[2] Segundo dados colhidos num
trabalho sobre saúde, da jornalista Magaly Sônia Gonzales, publicado na revista
"Isto É", de julho de 2000, "o vício do fumo foi adquirido pelos
espanhóis, junto aos índios da América Central, que o encontraram nas
adjacências de Tobaco, província de Yucatán. Um dos primeiros a cultivar o
tabaco na Europa foi o Monsenhor Nicot, embaixador da França, em Portugal, de
onde se derivou o nome nicotina, dado à principal toxina nele contida.
[3] Nobre, Marlene R.S. Lições de
Sabedoria, São Paulo: Ed Folha Espírita, 1997, Resposta de Emmanuel, através do
Chico Xavier, dada a entrevista feita pelo jornalista Fernando Worm, em agosto
de 1978
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