A função do Livro Espírita

Prof.ª Leda de Almeida Rezende Ebner

Disse Jesus aos seus discípulos: Ide e pregai.

E eles saíram, falando de Jesus e dos seus ensinos, nas aldeias, nas cidades, deixando grupos de pessoas continuando as atividades, conseqüências das novas idéias sobre Deus, sobre seu Reino, sobre a necessidade da caridade, o amor em ação, para serem dignos do amor do Pai.

O imperativo de Jesus continua para todos os que o aceitam como o Espírito mais puro que viveu na Terra, trazendo o código divino, sem o qual, o homem continuará sendo o lobo do próprio homem, em busca sempre dos seus interesses particulares e dos seus grupos, custe o que custar, sem se importar com as conseqüências dos seus atos para os outros, desde que seus interesses sejam ou estejam satisfeitos.

O tempo muda os costumes, os hábitos, mas não altera a lei divina, que é eterna e para todos os homens, independente dos rótulos religiosos e filosóficos.

Assim, quando Allan Kardec, estudando os fenômenos mediúnicos, descobriu o mundo espiritual, seus habitantes, que são as almas dos que viveram na Terra, as leis que regem esse outro plano da vida, o relacionamento entre os dois planos: material e espiritual, e as conseqüências disso tudo para o Espírito imortal e perfectível, publicou o primeiro livro espírita do planeta Terra, em 18 de abril de 1857, O Livro dos Espíritos, que segundo Herculano Pires "marca um momento decisivo da evolução humana: o da maturidade mental e espiritual do homem", integrando-se, "historicamente, no processo do nosso desenvolvimento cultural."

Exagero? Não. O futuro o confirmará, porque o homem alcançou um grau intelectual, que não mais se contenta em crer. Ele precisa compreender para crer, precisa da fé raciocinada, e, para isso, ( minha opinião pessoal ) apesar de todo avanço da informática, é, nos livros que, sendo folheados, rabiscados, destacando as partes que mais tocam a inteligência e a sensibilidade, lidos e relidos, estimulando o raciocínio em torno das idéias, sozinhos e em grupos, que vamos constituindo, em nós, a "fé inabalável que pode enfrentar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade", como escreveu Kardec no capítulo XIX, item 7, em O Evangelho Segundo o Espiritismo.

A pedagogia ensina e o espiritismo sempre afirmou, que não basta conhecer, não basta obter as informações, é preciso raciocinar em torno dessas informações, incorporar esses conhecimentos dentro de nós, em nosso "eu" interior, a fim de serem manifestados, expressos em nossas atitudes e comportamentos, de forma natural, sem esforço. Só quando isso acontece, houve de fato o aprendizado.

A maior função do livro em geral, e, especificamente, do livro espírita, é a de provocar raciocínios e idéias novas, estabelecendo relações com as antigas, transformando-as ou confirmando-as, mas sempre fazendo o leitor pensar, raciocinar, desenvolvendo, cada vez mais sua inteligência, sua acuidade e sua sensibilidade espiritual.

Por isso, o poeta dos escravos, Castro Alves, em seu poema O Livro e a América, escreveu:

"Oh! Bendito o que semeia

Livros… livros à mão cheia…

E manda o povo pensar!

O livro caindo n'alma

É gérmen - que faz a palma,

É chuva – que faz o mar

Em todos os povos, em todas as épocas, houve mensageiros do mais alto, que trouxeram idéias novas e necessárias ao progresso intelectual e moral da humanidade.

Em Florações Evangélicas, Joanna de Ângelis escreve sobre o livro espírita, capítulo 29, do qual extraímos algumas idéias

Desde o mais antigo código de moral registrado em pedra, o de Hamurabi, houve pessoas que registraram preciosas instruções do Mundo Superior em tijolos, pedras, papiros, peles, pergaminhos, madeiras, papel, contribuindo com o progresso da humanidade.

Assim, a palavra sadia, oral e escrita, tem sido, segundo Joanna de Ângelis, "A semente de luz atirada ao solo dos séculos pela excelsa providência de Nosso Pai, atestando a Sua comunhão com as criaturas.

Por isso, os Espíritos superiores recomendaram e continuam recomendando o Amai-vos e Instruí-vos, a fim de que a progressão espiritual se faça, sem maiores sofrimentos, com mais segurança, com mais alegria e em menos tempo.

No amor, o homem sublima os sentimentos, e caminha no rumo da felicidade.

A instrução, a serviço da educação, que é a construção e preservação da paz no íntimo, consegue conduzir o amor verdadeiro, que é o sentimento ensinado e exemplificado por Jesus.

"Assim, ontem como hoje, o livro é o pão da vida, preparado com o trigo da sabedoria para a sustentação das criaturas todos os dias."

Ainda que o mundo exterior esteja conturbado, o livro espírita, silenciosamente, consegue manter e elevar os ideais, mesmo amortalhados pelo medo ou pela desilusão, renovando as expressões do homem em nome da paz, da liberdade e do amor.

"Bem-aventurado seja, pois, aquele que esparge alegria, o que doa pão, o que oferta medicamento, o que distende linfa generosa, o que concede agasalho, mas, sobretudo, o que planta o futuro, luarizando com a palavra inserta no livro libertador, a grande noite da ignorância…"

A divulgação dos princípios da doutrina espírita se faz de diversas maneiras: nos diálogos com os interessados, nos estudos individuais ou em grupos, em palestras, no exercício das diversas atividades de um Centro Espírita, nos livros e revistas, e pela vivência desses princípios, pelo exemplo do esforço de viver o mais evangelicamente possível.

Se pensarmos um pouco nessas atividades, perceberemos que todas dependem das informações desses princípios, que estão impressos nos livros de Allan Kardec e de todos os autores, encarnados e desencarnados, que o seguiram, mantendo-se fiéis aos princípios básicos da doutrina por ele codificada, e que vêem detalhar melhor esses princípios, trazendo idéias e raciocínios novos para um melhor entendimento, na solidificação da fé raciocinada, que crê porque entende, porque recebe respostas claras e objetivas às suas indagações e dúvidas.

Assim, o livro espírita está na base de todas as atividades estimuladas pelo conhecimento do espiritismo.

"Semeemos, pois, o livro espírita, e estaremos libertando desde agora o mundo de amanhã, com a madrugada da Era Nova, de que o espiritismo se faz mensageiro," como escreveu Joanna de Ângelis.

Parabéns, pois, a todos que se reúnem para a realização desta Feira do Livro Espírita, a todos que aqui comparecem, conversando, comprando, lendo, estudando, divulgando, porque estamos todos inseridos no dever de conhecer e vivenciar esses princípios, divulgá-los, para melhor seguir os ensinos de Jesus, se, realmente, queremos um mundo melhor, mais justo, mais solidário, mais fraterno, onde o bem de todos passe a ser a meta de cada um dos seus habitantes.

Fonte: Palestra proferida na abertura da 31ª Feira do Livro Espírita, em Ribeirão Preto

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