Reuniões mediúnicas no centro

Allan Kardec na codificação espírita, ao estudar a mediunidade como mais ninguém a estudou até hoje, fez notar que ela pode ter os seus escolhos. As reuniões mediúnicas no centro espírita pressupõem uma grande consciência da tarefa em pauta e uma preparação cuidada a não esquecer.

As reuniões doutrinárias privadas no centro espírita são, sobretudo aquelas que lidam com mediunidade ostensiva. Assim, a entrada livre – própria das reuniões públicas, como conferências, atendimento e outras – deixa de ter lugar.

Já que a mediunidade é um instrumento que vem como uma faculdade de serviço fraterno, as reuniões espíritas que a utilizam têm por objetivo amparar e esclarecer os espíritos desencarnados em clima de perturbação. Eles podem mostrar-se como pessoas revoltadas, arrogantes, vaidosas, adoentadas, cheias de amargura, ignorantes, que aparecem a comunicar-se mediunicamente.

Como tal, há um primado de privacidade. Situações íntimas e delicadas que se revelam nessas conversas de esclarecimento não devem ser expostas a público, pois infelizmente o respeito incondicional ante as dificuldades alheias ainda não é apanágio do cidadão comum. Nessa medida, recatadamente, na otimização dos recursos fraternos, só deve estar presente em geral quem ali colaborar em tarefa específica, e após formação prévia. A mera curiosidade não serve, nem ajuda.

As reuniões privadas mediúnicas no centro espírita são, assim, essencialmente de três tipos: as de educação mediúnica, as de atendimento a desencarnados, e as reuniões de desobsessão clássicas. É desaconselhável fazer qualquer destas reuniões em casas particulares, pois estas não reúnem as condições próprias para que o plano espiritual possa fazer um bom serviço. Note-se que uma condição essencial para que estes trabalhos resultem bem, na harmonia de todos, é que os benfeitores desencarnados encontrem um mínimo de condições de trabalho. Ninguém faz milagres, inclusive os espíritos superiores.

Educação mediúnica

Pressupostos para o bom funcionamento destes trabalhos estão, na equipa do plano físico, o sentido de responsabilidade e amadurecidos conhecimentos doutrinários. O objetivo em pauta é treinar a faculdade mediúnica em quem a tem, no âmbito do seu controlo e educação.

É contraproducente introduzir de imediato quem chega com uma mediunidade perturbada ao centro espírita nos trabalhos da casa, inclusive nos de educação mediúnica. Nestes casos, o primeiro ponto é acompanhamento fraterno, com esclarecimento gradual, eliminando medos e obrigatoriedades que, na verdade, nós desconhecemos. Depois, se necessário (em muitos casos não o é), em especial nos casos de obsessão cármica*, aí sim, inscrevê-la na reunião de desobsessão e depois, reavaliando o seu estado, se for o caso, educar a mediunidade.

Atendimento mediúnico

Estas reuniões exigem um grupo de trabalho esclarecido, fraterno e coeso. No atendimento mediúnico ocorrem manifestações espontâneas – para o grupo de encarnados – que recebem esclarecimento. Este trabalho consiste em essência na disponibilidade da equipa de trabalho para atender as entidades que os benfeitores desencarnados trazem a manifestar-se mediunicamente. O suicida, aflito, em condições de receber auxílio, o mendigo que desencarnou ao relento, o obsessor pertinaz ou outros. É sempre uma surpresa quem vem, mas todos são sempre recebidos com sentimentos muito lúcidos de amor incondicional. Há uma breve conversa esclarecedora e as percepções espirituais ampliam-se-lhes, passando eles a conseguir ver os amigos desencarnados que os integram depois em tarefas edificantes organizadas no plano espiritual.

Centro espírita que tenha uma boa reunião desta categoria, e não tenha um trabalho de desobsessão clássica, pode estar a trabalhar muito bem.

Reuniões de desobsessão

As reuniões de desobsessão são de suprema responsabilidade. No que respeita à sua composição, a equipa humana contém um orientador capaz, médiuns, esclarecedores (quem conversa com os espíritos necessitados de esclarecimento) e eventualmente esteios (pessoas educadas para a tarefa cuja função é manterem-se a irradiar tranqüilidade, bondade e paz).

Nesta reunião, uma equipa esclarecida, tranqüila, munida de uma fé operante, dialoga com obsessores contumazes, sem a presença do obsediado (aquele que sofre de obsessão). Isto é consenso universal do movimento espírita mundial, preceito aconselhado pelas pessoas mais esclarecidas e experientes nesta área, inclusive recomendado por alguns técnicos de saúde mental que nos seus tempos livres estudam espiritismo. As implicações psicológicas e espirituais podem ser desastrosas numa identificação obsessiva, que em vez de ajudar, prejudica: e isso não nos devemos permitir fazer em qualquer caso.

Nas desobsessões atende-se a obsessão grave, caso contrário estas reuniões, aparentemente de um modo espontâneo, acabam por ser reconduzidas pela administração espiritual deste trabalho a uma «simples» reunião de atendimento mediúnico.

Em matéria de saúde, segundo o espiritismo, a pessoa mais qualificada para curar doentes é o médico.

Está visto!

Quando alguém procura o centro espírita no intuito de melhorar de alguma moléstia, quem o atende deve primeiro que tudo saber se o médico já foi consultado. Se este técnico não resolve o problema, no centro espírita vamos tentar ajudar.

Prometer curas é disparatado, pelo simples fato de elas não dependerem de nós, espíritas, como é óbvio.

Mas dar amparo, atenção, fluidoterapia através da imposição das mãos irradiando afetividade em pensamento, isso sim.

Incentivar ao estudo da vida, à pesquisa de si próprio, para que as soluções que se venham a encontrar no imo de cada um possam surgir na consciência e o viver possa ser algo a ser fruído com mais felicidade, em qualquer plano de vida.

Mediunidade sim, mas com disciplina, estudo e muita fraternidade incondicional.

* A obsessão é a influência perniciosa que um espírito exerce sobre alguém. Quanto à origem, elas podem ser causadas por afinidade ou por mera perseguição.

Fonte: Revista de Espiritismo n°, 31 – ano 1996

Um comentário:

Adalberta Barbosa de Pinho disse...

Muito esclarecedor gostei muito