Por: Irmão
X
Psicografia:
Francisco Cândido Xavier
Depois de certa pregação de Jesus, em Cafarnaum,
encontrou o Mestre, em casa de Pedro, quatro cavalheiros de luzente aspecto, a
lhe aguardarem a palavra.
Vinham de longe, explicaram atenciosos. Judeus
prestigiosos da Fenícia, moravam em Sidon. Já haviam bebido a cultura egípcia e
grega, tanto quanto a filosofia dos persas e babilônios. O anúncio da Boa Nova
chegara-lhes aos ouvidos. Desejavam servir nas fileiras do Novo Reino,
combatendo a licenciosidade dos costumes, na avareza dos ricos e na revolta dos
pobres. Aceitavam o Deus único e pretendia, consagrar-lhe a vida.
De quando em quando, os recém-chegados retificavam
as dobras das irrepreensíveis túnicas de linho alvo ou acentuavam, de leve, o
apuro das sandálias.
O Senhor ouviu-lhes as informações com admirável
benevolência.
Cada qual falou, por sua vez, comentando as
angústias do problema social na poderosa cidade de que provinham e, após
encarecerem a necessidade de transformações políticas no cenário do mundo,
esperaram, curiosos, a palavra do Cristo, que lhes afirmou, bondoso: - Está
escrito: - Amarás o Senhor, Nosso Deus e Nosso Pai, de todo o coração, e não
farás dEle imagens abomináveis; eu, porém, acrescento – fugi igualmente à
idolatria de vossos próprios desejos, aniquilai o exclusivismo e não vos
entronizeis na mentira, porque estaríeis lesando a Sublime Divindade.
Recomenda Moises: - Não tomarás o nome do
Todo-Poderoso em vão; esclareço-vos, contudo, que ninguém deve menoscabar o
nome do próximo na maledicência, na calúnia, no verbo inútil ou desleal.
Determina o Decálogo: - Santificarás o dia de
sábado; exorto-vos, entretanto, a não converterdes semelhante artigo em escora
da ociosidade sistemática. Respeitando a pauta necessária da natureza, não a
transformeis em hosanas à preguiça dissolvente.
Manda o texto antigo: - Venera teu pai e tua mãe
nos laços consanguíneos; todavia, é imperioso reconhecer a necessidade de
respeito a todos os homens dignos, onde estiverem, olvidando-se no bem geral as
fronteiras de raça, família, cor e religião, compreendendo-se que acima dos
limites impostos pelo sangue, na Terra, prevalecem os imperativos sagrados da
Família Universal.
Reza a lei do passado: - Não matarás; eu, porém,
vos digo que não se deve matar em circunstância alguma e que se faz
indispensável a vigilância sobre os nossos impulsos de oprimir os seres
inferiores da Natureza, porque, um dia, responderemos à Justiça do Criador
Supremo pelas vidas que consumimos. Pede o venerável testamento: - Não
cometerás adultério; asseguro-vos, no entanto, que o adultério não atinge
somente o corpo de nossas irmãs em Humanidade, mas também a carne e a alma de
todos os homens que se esqueceram de caminhar retamente.
Aconselha o grande legislador: - Não furtarás;
digo-vos, contudo que não se deve roubar, não somente objetos valiosos e
valores em dinheiro, mas também não nos cabe furtar o tempo do Senhor, nem
distrair os minutos dos servos aplicados de suas obras.
Consta na velha aliança: - Não dirás falso
testemunho conta o teu próximo; declaro-vos, porém, que é imprescindível
guardar boa-vontade e amor no coração, irradiando-os em pensamento.
Assinala a revelação antiga: - Não cobiçarás a casa
do teu próximo, nem desejarás a sua mulher, nem a sua serva, nem o seu boi, nem
o seu jumento; eu, porém, vos afianço que nos compete a obrigação de procurar a
luz, o bem e felicidade, trabalhando sem desânimo e servindo a todos sem
descanso, inacessíveis à peçonha do ódio, da inveja, do ciúme, do despeito e da
discórdia, portadores que são de veneno e treva para o Espírito.
Fez o Mestre pequeno intervalo na prelação,
reparando que os visitantes da Fenícia se mantinham pálidos e confundidos.
Nesse ínterim, a sogra de Pedro reclamou-lhe a
presença num quarto próximo: e Jesus, rogando ligeira licença, prometeu
prosseguir nos ensinamentos novos, por mais alguns instantes; todavia, em
voltando pressuroso aos ouvintes, debalde procurou os consulentes, movimentado
os olhos ternos e lúcidos.
Na sala silenciosa não havia ninguém...
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