Por: Leda Maria Flaborea
“Pelos reis e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida justa
e sossegada em toda a piedade e honestidade.”
– Paulo¹
Se observarmos nossas conversas e
nossas preces, poderemos notar que, na maioria das vezes, nos lembramos das
dificuldades e das aflições dos menos felizes no mundo. Quase sempre nossos
pensamentos e palavras se voltam para os enfermos, para os desesperados,
afundados na miséria ou vitimados por flagelos naturais ou públicos. Para essas
criaturas somos capazes de relacionar suas necessidades e tentar ajudá-las, na
medida das nossas possibilidades.
Todavia, Paulo, nessa carta ao seu
amigo e companheiro de luta, Timóteo, lembra-nos que não são apenas os menos
afortunados que precisam das nossas preces ou dos nossos pensamentos amorosos
mas, e sobretudo, aqueles que de posse dos cargos de mando ou de riquezas
imensas são muito mais tentados aos erros que os primeiros.
A oração, marco renovador de nossas
forças, propicia-nos, sobremaneira, a oportunidade de nos voltarmos para essas
criaturas que, sob o peso da autoridade, comandam, dirigem, orientam,
esclarecem e instruem. Esquecemo-nos, quase sempre, dos tormentos que vivem
esses corações quando precisam decidir o destino de tantos, arcando, perante as
leis dos homens e as Leis de Deus, com a carga de responsabilidade sobre suas
escolhas.
Longe deveríamos estar da cobiça que
esse poder confere, pois não ignoramos que, a cada um sendo dado segundo as
suas obras, nos levará a tentações e provas ocultas de toda espécie das quais,
dificilmente, como coletividade, tomamos conhecimento. Quantas dúvidas, quanto
desespero abrigam, muitas vezes, esses corações encaminhados a essas tarefas.
Quantas vicissitudes experimentam que muitas, podemos ver, acabam por se
refletirem nas decisões que tomam.
Se examinarmos nossa vida diária e
prestarmos atenção às inúmeras vezes que tivemos de fazer escolhas, que não
envolviam apenas a nós, nossa vida, mas a vida das pessoas que nos cercam; e se
nos lembrarmos das imensas dificuldades que experimentamos pelo medo de errar,
pela incerteza de se estar fazendo ou não o melhor, é fácil entendermos a
proporção das dificuldades daquele que é encaminhado à eminência do poder, e
que deve fazer escolhas que envolvem, muitas vezes, uma nação. A própria
história da humanidade nos mostra esses homens, levando seus rebanhos como
pastores enlouquecidos, carregando aflições de todos os tipos, que se projetam
sobre as ovelhas que deveriam conduzir nos caminhos do equilíbrio e da
prosperidade.
De um lado, os condutores
desequilibrados; de outro, homens conduzidos que recolhem para si essas
atitudes - como se fossem corretas -, sem se darem conta de que estão sendo
atirados às calamidades físicas e morais, a moléstias coletivas de longo curso,
que atrasam a evolução e atormentam a vida. Homens que não colocam, sob o crivo
da razão, a lógica de suas escolhas, sejam elas de comando ou, simplesmente, de
aceitação.
O Apóstolo Paulo lembra, em sua
carta, que esses homens também são nossos irmãos, conduzidos à excelência do
poder e da fortuna, da administração ou da liderança, carregando, em todos os
momentos, tentações e provas de todas as espécies e levando consigo, através de
estados conscienciais de luz ou sombra, as consequências advindas dessa
condução.
Recorda-nos, também, Emmanuel, das
vezes em que, examinando a conduta desses companheiros, nessa ou naquela
circunstância difícil, condenamos suas dificuldades morais, esquecendo-nos dos
dias de cinza e de pranto em que o Senhor nos susteve a queda a poucos
milímetros da derrota. Porém, mais grave do que isso, é acreditarmos que
não mais teremos problemas pela frente, julgando com severidade e
impiedosamente, como se fôssemos incapazes de cometer os mesmos enganos, se
colocados na posição do outro, envolvidos nas mesmas circunstâncias e
experimentando as mesmas dúvidas.
Todo serviço que deixarmos incompleto
na retaguarda encontrar-nos-á no caminho, para que o terminemos. E “qualquer
que seja esse remate a ser feito, em todas as nossas lutas, o fecho do amor, em
nome de Jesus, será o selo da paz a nos nortear a jornada”. ² A pedra que
atirarmos em telhado alheio voltará com o tempo sobre nosso próprio teto; assim
como o veneno que destilarmos sobre a esperança de quem quer que seja retornará
sobre nossa esperança, nos testando a resistência. E quantos de nós já não
experimentam, hoje, do próprio veneno?
Emmanuel diz: “Não nos esqueçamos, pois, da oração pelos que dirigem, auxiliando-os
com a bênção da simpatia e da compaixão, não só para que se desincumbam
zelosamente dos compromissos que lhes selam a rota, mas também para que
vivamos, com o sadio exemplo deles, na verdadeira caridade uns para com os
outros, sob a inspiração da honestidade, que é a base de segurança em nosso
caminho”. ³ E se a nação é conjunto de cidades, se a cidade é um
agrupamento de lares e se o lar é um ninho de corações, não nos iludamos, pois,
ao pretender imaginar que apenas aqueles que estão na posse do poder temporário
têm obrigações com a sociedade. Cada um de nós, no nosso lar, é o responsável
pela harmonia e pelo progresso de todos os outros que compõem esse grupo.
A harmonia começará, sempre, no
íntimo do nosso ser: “Não faço nada para
não ter trabalho depois” – e isto é inércia e não harmonia –, quando
deveria ser: “Porque procuro
modificar minha forma de ver o outro para, procurando ser uma pessoa melhor,
compreender suas dificuldades, seus limites e, através do meu exemplo, ajudá-lo
a evoluir junto comigo”.
Lembra-nos, ainda, mais uma vez, o
Instrutor Emmanuel que mesmo havendo razões de queixa, que sejamos a cooperação
para que o equilíbrio seja restaurado e a consolação que refaz esperanças,
ainda que espinhos nasçam e se espalhem. É imprescindível reafirmarmos, a cada
dia, o compromisso do serviço junto a Jesus, silenciando sempre onde não
possamos agir em socorro do próximo.
Só podemos cobrar dos outros aquilo
que já faz parte da nossa forma de viver e de entender o mundo e as
pessoas. Vamos assim, antes de criticar, examinar como procedemos em
nosso círculo de existência.
Por sermos todos Espíritos
endividados com as leis Divinas, não nos esqueçamos de que ninguém fugirá ao
julgamento da Lei Eterna. Desta maneira, quando nos recolhermos em preces ou
quando em reuniões esclarecedoras, lembremo-nos de pedir, de suplicar a Deus,
inspirados na prece do Espírito Cerinto, na psicografia de Francisco Cândido
Xavier, em novembro de 1955:
- “... não pelos que choram, mas pelos que fazem as lágrimas.
- não pelos que padecem, mas supliquemos
bênçãos para todos aqueles que provocam o sofrimento.
- não lembremos a Deus os fracos da Terra, mas
recordemos quantos se julgam poderosos e vencedores.
- Não intercedamos pelos que soluçam de
fome, mas roguemos amor para os que furtam o pão.
Elevemos nossos pensamentos ao Senhor Todo
Bondoso...
- e não entreguemos a Ele os que sangram
de angústia, mas sim os que golpeiam e ferem.
- não peçamos pelos que sofrem injustiças, mas
roguemos por aqueles que são empreiteiros do crime.
- não apresentemos a Ele os desprotegidos da
sorte, mas roguemos Seu amparo aos que estendem a aflição e a miséria.
- não imploremos o favor de Deus para as almas
traídas, mas supliquemos o socorro para os que tecem os fios envenenados da
ingratidão.
Ergamos nossas
súplicas ao Pai compassivo para que Ele estenda suas mãos sobre os que vagueiam
nas trevas...
E roguemos a Ele que anule o
pensamento insensato; que cerre os lábios que induzem à tentação; que paralise
os braços que apedrejam e que detenha os passos de quem distribui a morte.
Rogamos, em verdade, Senhor, por
todos nós, os filhos do erro, porque somente assim, Pai de Misericórdia,
poderemos construir o paraíso do Bem com todos aqueles que já O compreendem e
obedecem a Suas leis eternas, porque justas e verdadeiras, a fim de que se
extinga o inferno daqueles que, como nós, se atiram desprevenidos aos loucos
redemoinhos do mal”.
Que o Mestre Jesus nos guarde nas
decisões acertadas e nos inspire para que continuemos lutando na melhoria de
nós próprios.
Bibliografia:
1 – PAULO, I Timóteo, 2:2.
2 – EMMANUEL (Espírito) – Palavras de Vida Eterna. [psicografado
por] F. C. Xavier, 20ª ed., Edições CEC, UBERABA/MG - Lição 39.
3 –Idem – Lição 40
Para reflexão:
KARDEC, Allan - O Evangelho segundo o Espiritismo – capítulo
XVI.
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