Por: Joanna de Ângelis
Psicografia: Divaldo Franco
Na raiz psicológica do transtorno
depressivo ou de comportamento afetivo, encontra-se uma insatisfação do ser em
relação a si mesmo, que não foi solucionada. Predomina no Self um conflito
resultante da frustração de desejos não realizados, nos quais impulsos agressivos
se rebelaram ferindo as estruturas do ego que imerge em surda revolta,
silenciando os anseios e ignorando a realidade. Os seus anelos e prazeres disso
resultantes, porque não atendidos, convertem-se em melancolia que se expressa
em forma de desinteresse pela vida e pelos seus valiosos contributos,
experienciando gozos masoquistas, a que se permite em fuga espetacular do mundo
que considera hostil, por lhe não haver atendido as exigências.
Sem dúvida, outros conflitos se
apresentam, e que podem derivar-se de disfunções reais ou imaginárias da
libido, na comunhão sexual, produzindo medos e surdas revoltas que amarguram o
paciente, especial mente quando considera como essencial na existência o prazer
do sexo, no qual se motiva para as conquistas que lhe parecem fundamentais.
Vivendo em uma sociedade
eminentemente erótica, estimulada por um contínuo bombardeio de imagens sonoras
e visuais de significado agressivo, trabalhadas especificamente para atender as
paixões sensuais até a exaustão, não encontra outro motivo ou significado
existencial, exceto quando o hedonismo o toma e o leva aos extremos arriscados
e antinaturais do gozo exorbitante.
Ao lado desse fator, que deflui dos
eventos da vida, o luto ou perda, como bem analisou Sigmund Freud, faz-se
responsável por uma alta cifra de ocorrências depressivas, em episódios
esparsos ou contínuos, as sim como em surtos que atiram os incautos no fosso do
abandono de si mesmo. Esse sentimento de luto ou perda é inevitável, por ferir
o Self ante a ocorrência da morte, sempre considerada inusitada ou detestada,
ar rebatando a presença física de um ser amado, ou geradora de consciência de
culpa, quando sucede imprevista, sem chance de apaziguamento de inimizades que
se arrastaram por largo período, ou ainda, por atos que não foram bem elaborados
e deixaram arrependimento, agora convertido em conflito punitivo. Ainda se manifesta
como efeito de outras perdas, como a do trabalho profissional, que atira o
indivíduo ao abismo da incerteza para atender a família, para atender-se, para
viver com segurança no meio social; outras vezes, a perda de algum afeto que
preferiu seguir adiante, sem dar prosseguimento à vinculação até então mantida,
abrindo espaço para a solidão e a instalação de conflito de inferioridade; sob
outro aspecto ainda, a perda de um objeto de valor estimativo ou monetário,
produzindo prejuízo de uma ou de outra natureza...
Qualquer tipo de perda produz impacto
aflitivo, per turbador, como é natural. Demora-se algum tempo, que não deve
exceder a seis ou oito semanas, o que constitui um fenômeno emocional saudável.
No entanto, quando se prolonga, agravando-se com o passar do tempo, torna-se
patológico, exigindo terapêutica bem elaborada.
Podem-se, no entanto, evitar as consequências
enfermiças da perda, mediante atitudes corretas e preventivas.
Terapia profilática eficaz, imediata,
propiciadora de segurança e de bem-estar, é a ação que torna o indivíduo
identificado com os seus sentimentos, que deve exteriorizar com frequência e
naturalidade em relação a todos aqueles que constituem o clã ou fazem parte da
sua afetividade.
Repetem-se as oportunidades
desperdiçadas, nas quais se pode dizer aos familiares quanto eles são importantes,
quanto são amados, explicitar aos amigos o valor que lhes atribui, aos
conhecidos o significado que eles têm em relação à sua vida... Normalmente se
adiam esses sentimentos dignificadores e de alta magnitude, que não apenas
felicitam aqueles que os exteriorizam, mas também aqueloutros, aos quais são
dirigi dos, gerando ambiente de simpatia e de cordialidade. Nunca, pois, se
devem postergar essas saudáveis e verdadeiras manifestações da afetividade, a
fim de serem evitados futuros transtornos de comportamento, quando a culpa
pretenda instalar-se em forma de arrependimento pelo não dito, pelo não feito,
mas, sobretudo pelo mal que foi dito, pela atitude infeliz do momento
perturbador... Esse tipo de evento de vida-a agressão externada, o bem não retribuído,
a afeição não enunciada - pode ser evitado através dos comportamentos
liberativos das emoções superiores.
Muitos outros choques externos como
acidentes, agressões perversas, traumatismos cranianos contribuem para o
surgimento do transtorno da afetividade, por influenciarem os neurônios localizados
no tronco cerebral próximo ao campo onde o cérebro se junta à medula espinal.
Nessa área, duas regiões específicas enviam sinais a outras da câmara cerebral:
a rafe, encarregada da produção da serotonina, e o locuscoeruleus, que produz a
noradrenalina, sofrendo os efeitos calamitosos dessas ocorrências, assim como
de outras, desarmonizam a sua atividade na produção dessas valiosas substâncias
que se encarregam de manter a afetividade, propiciando a instalação dos
transtornos depressivos.
Procedem, também, dos eventos de
natureza perinatal, quando o Self, em fixação no conjunto celular, experienciou
a amargura da mãe que não desejava o filho, do pai violento, dos familiares
irresponsáveis, das pelejas domésticas, da insegurança no processo da gestação,
produzindo sulcos profundos que se irão manifestar mais tarde como traumas,
conflitos, transtornos de comportamento...
A inevitável transferência de dramas
e tragédias de uma para outra existência carnal, insculpidos que se encontram
nos refolhos do Eu profundo - o Espírito viajor de multifários renascimentos
carnais - ressumam como conflito avassalador, a princípio em manifestação de
melancolia, de abandono de si mesmo, de desconsideração pelos próprios valores,
de perda da autoestima...
Pode-se viver de alguma forma sem a
afeição de outrem, sem alguns relacionamentos mais excitantes, no
entanto, quando degenera o intercâmbio entre o Self e o ego o indivíduo perde o
direcionamento das suas aspirações e entrega-se às injunções conflitivas, tom
bando, não poucas vezes, no transtorno depressivo.
Esse ressumar de arquétipos
profundos, em forma de imagens arquetípicas punitivas, aguarda os fatores que
se apresentam nos eventos de vida para manifestar-se, amargurando o ser, que se
sente desprotegido e infeliz.
Incursa a sua consciência em culpa de
qualquer natureza, elabora clima psíquico para a sintonia com outras fora do
corpo somático, que se sentem dilapida das, e sendo incapazes de perdoar ou de
refazer o próprio caminho, aspiram ao destorço covarde e insano, atirando-se em
litígio feroz no campo de batalha mental, produzindo sórdidos processos de
parasitose espiritual, de obsessões perversas.
Quando renasce o Self assinalado
pelas heranças pregressas, no momento em que se dá a fecundação, por intermédio
do mediador plástico ou perispírito, imprimem-se, nas primeiras células, os
fatores necessários à evolução do ser, que oportunamente se manifestarão, no
caso de culpa e mágoa, de desrespeito por si mesmo, de autocídio e outros
desmandos, em forma de depressão. A hereditariedade, portanto, jamais descartada,
é resultado do processo de evolução que conduz o infrator ao clima e à paisagem
onde é convidado a reparar, a conviver consigo mesmo, a recuperar-se...
Pacientes predispostos por hereditariedade
à incursão no fosso da depressão carregam graves procedimentos negativos de
experiências remotas ou próximas, que se fixaram no Self, experimentando o
impositivo de liberação dos traumas que permanecem desafiado, aguardando
solução que a psicoterapia irá proporcionar.
Uma catarse bem orientada eliminará
da consciência a culpa e abrirá espaços para a instalação do otimismo, da autoestima,
graças aos quais os valores reais do ser emergem, convidando-o à valorização de
si mesmo, na conquista de novos desafios que a saúde emocional lhe irá
facultar, emulando-o para a individuação.
Em razão do largo processo da
evolução, todos os seres conduzem reminiscências que necessitam ser trabalhadas
incessantemente, liberando-se daquelas que se apresentam como melancolia,
insegurança e receios infundados, desestabilizando-os. Ao mesmo tempo,
estimulando-se a novas conquistas, enfrentando as dificuldades que os promovem
quando vencidas, descobrem todo o potencial de valores de que são portado res e
que necessita ser despertado para as vivências enriquecedoras.
O hábito saudável da boa leitura, da
oração, em convivência e sintonia com o Psiquismo Divino, dos atos de
beneficência e de amor, do relacionamento fraternal e da conversação edificante
constitui psicoterapia profilática que deverá fazer parte da agenda diária de
todas as pessoas.
2 comentários:
Estou numa faze dessas, perdi a direção da minha vida, peço a Deus força para segui mas não estou conseguindo, a vida perdeu o sentido não sei o que faço, queria ir embora, queria que Deus me levase, , estou com depressão , so queria ir embora não sei pra onde.
Depressões
Se trazes o espírito agoniado por sensações depressivas, concede ligeira pausa a ti mesmo, no capítulo das próprias aflições, a fim de raciocinar.
Se alguém te ofendeu, desculpa.
Se feriste alguém, reconsidera a própria atitude .
Contratempos do mundo estarão constantemente no mundo, onde estiveres.
Parentes difíceis repontam de todo núcleo familiar.
Trabalho é a lei do Universo.
Disciplina é alicerce da educação.
Circunstâncias constrangedoras assemelham-se a nuvens que aparecem no firmamento de qualquer clima.
Incompreensões com relação a caminho e decisões que se adotem são empeços e desafios, na experiência de quantos desejem equilíbrio e trabalho.
Agradar a todos, ao mesmo tempo, é realização impossível.
Separações e renovações representam imperativos inevitáveis do progresso espiritual.
Mudanças equivalem a tratamento da alma, para os ajustes e reajustes necessários à vida.
Conflitos íntimos marcam toda criatura que aspire a elevar-se.
Fracassos de hoje são lições para os acertos de amanhã.
Problemas enxameiam a existência de todos aqueles que não se acomodam com estagnação.
Compreendendo a realidade de toda a pessoa que anseie por felicidade e paz, aperfeiçoamento e renovação, toda vez que sugestões de desânimo nos visitem a alma, retifiquemos em nós o que deva ser corrigido e, abraçando o trabalho que a vida nos deu a realizar, prossigamos à frente.
Francisco Cândido Xavier. Pelo Espírito Emmanuel. Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier em reunião pública da Comunhão Espírita Cristã na noite de 31/7/70, em Uberaba, Minas. Fonte: Reformador de Junho de 1971.
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