Por: Armando Correa de Siqueira Neto
Não se prenda às suas tristezas,
contudo não deixe de vivê-las. Nem lá, nem cá. Observe calmamente e saboreie
estes momentos, pois se encerra neles, justamente, a oportunidade de crescer e
evoluir quanto ao desenvolvimento humano e ascender a condições melhores de
sabedoria e amor. Todos queremos o céu, mas esquecemo-nos da trajetória,
procurando adiar a caminhada. Dor e sofrimento fazem parte da natureza que
habita em nós. São elas as formas pelas quais nos incomodamos e reagimos, e
assim damos novos passos. E, mesmo sem perceber, modificamos o que fomos há
pouco ou muito. É uma tentativa vã fugir das mudanças.
Vivenciar a dor e o sofrimento com
menor receio nos aproxima de nós mesmos, levando-nos ao autoconhecimento,
elemento crucial para que vivamos em maior plenitude. Quanto mais nos
conhecemos e nos aceitamos, tanto melhor crescemos. Enxergando-nos com
honestidade, abre-se a chance de modificar o que entendemos que deva ser
modificado. Enganar-se, retarda qualquer modificação de nossa parte. É tarefa
difícil compreender que o sofrimento existencial é um componente de nossa
dinâmica de se viver, ao contrário, o enxergamos como um castigo, ou uma punição
apenas.
Por outro lado, é justo almejar a
alegria e o contentamento. Entretanto, é a eles que pretendemos nos apegar,
procurando desconsiderar o seu oposto: as aflições. Vivemos a época da busca
incontrolável pelo prazer. Busca-se o extremo nesta direção, e isso faz clara
oposição a qualquer dissabor. Cria-se muita dificuldade em aceitar o que não
faz parte do mundo prazeroso. É claro que se trata apenas de uma ilusão, mas
ela tem poderosa força e ganha adeptos em crescente velocidade. São ideias que
nos chegam de fora e as incorporamos. Crescemos aprendendo desta forma, e com
isso nos tornamos presas fáceis da própria falta de conhecimento acerca de si
mesmos, por não permitir o acesso que leva ao conhecimento do mundo de dentro.
Cuidado, não maldiga os momentos em
que as aflições estão presentes, e tampouco tente fugir. A recusa implica em
atraso, em lentas passadas nas viagens que temos pela frente. Mude aos poucos a
percepção a respeito destas condições. Perceba as vantagens que podem ser
aproveitadas, ainda mais se aceitarmos a inevitabilidade de ter que passar por
estes momentos. Conquiste a calma necessária para lidar melhor mediante os
sofrimentos da vida. Conhecer a este respeito já nos oferece uma posição
privilegiada.
Com o sofrimento, o choro chega
também, e ele traz alívio. É um amigo que conforta, deixando clara a sua
missão: expressar o que vem do âmago, e ao mesmo tempo consolar. Se precisarmos
reduzir o sofrimento, temos o recurso natural: o chorar. Chore, e lembre-se da
sábia frase de Jesus: “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão
consolados”.
Confie em si mesmo, nas suas
sensações e reflexões. Creia mais nas coisas que emanam de seu interior, elas
são legítimas. As alegrias e aflições formam-se dentro de nós, e por esta
razão, dizem respeito ao destino que lhes daremos. De que maneira nós as
trataremos? É uma decisão particular, que pode até ser dividida e receber
apoio, todavia é único o encaminhamento a ser dado.
Os momentos em que nos recolhemos e
ficamos introspectivos e mais reservados devem ser aproveitados para uma bela e
frutífera viagem interior. Nela, nos permitimos acessar sentimentos e situações
diversificadas, como um relacionamento rompido e ainda aberto, um medo mediante
certa decisão a ser tomada, mágoa, frustração, etc.
Temer menos a dor e o sofrimento
aumenta a capacidade de se superar e aceitar, cada vez melhor, os reveses da
vida. Amplia as chances de evolução. Há uma frase que descreve com propriedade
as razões da aflição: “Quanto mais numerosos os espinhos, mais belas serão as
rosas”. Permitamos-nos ao convívio mais abrangente de tantas coisas que ainda
não ocupam o espaço necessário e enriquecedor de nossas vidas.
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