O livro originalmente intitulado "Religião dos Espíritos” fora prudentemente modificado pelo Codificador para O Livro dos Espíritos, primeiramente porque ele temia que a censura implicasse com o primeiro nome e também para que o leitor identificasse na obra um livro escrito pelos Espíritos.
O livro veio a público em 18
de abril de 1857, lançado no Palais Royal, em Paris, na forma de perguntas e
respostas, originalmente compreendendo 501 itens. Foi fruto dos estudos de
Kardec sobre os fenômenos das mesas girantes, difundidos por toda a Europa em
meados do século XIX, e que, segundo muitos pesquisadores da época, possuíam
origem mediúnica. Foi o primeiro de uma série de cinco livros editados pelo
pedagogo sobre o mesmo tema.

E conclui o codificador, segundo a
confiável informação histórica do confrade paulista: “O Livro de hoje não é
senão a primeira página da religião do futuro. À medida que o meio e o
desenvolvimento da Idéia Nova o permitam. Operar-se-á lentamente lutando com
adversidades poderosas, pisada aqui, adulterada acolá, esmagada num ponto,
ressuscitada noutro, criticada por muitos, defendida por poucos, atraiçoada
dentro de seus próprios muros pelos fracos a serviço das Trevas”.

Após o primeiro esboço, o método das perguntas
e respostas foi submetido à comparação com as comunicações obtidas por outros
médiuns franceses, num total de "mais de dez", nas palavras de
Kardec, cujos textos psicografados contribuíram para a estruturação do texto.
Segundo Canuto de Abreu, a segunda edição francesa foi lançada em 18 de
março de 1860, tendo o Livro dos Espíritos, naquela reimpressão, sido revisto
quase "como trabalho novo, embora os princípios não hajam sofrido nenhuma
alteração, salvo pequeníssimo número de exceções, que são antes complementos e
esclarecimentos que verdadeiras modificações". Para esta revisão, Kardec
manteve contato com grupos espíritas de cerca de 15 países da Europa e das
Américas. Nesta segunda edição é que aparecem 1018 perguntas e respostas, sendo
que algumas edições atuais trazem 1019 perguntas, acréscimo devido ao
Codificador não ter numerado a pergunta imediatamente após a 1010, aquela que
seria a 1011. Assim sendo, o livro teria, na prática, 1019 e não, 1018
perguntas.
Em setembro de 1861 o Sr. Lachâtre
encomendou, de Barcelona, 300 volumes de obras espíritas,
dentre as quais O Livro dos Espíritos. Ao chegarem, os livros
foram apreendidos pelo bispo local, num episódio que ficou conhecido como Auto de fé de Barcelona.
A sentença foi executada a 9 de outubro, data que marca a
intolerância religiosa, reagindo contra a divulgação da Doutrina Espírita.
A 1º de maio de 1864 a Igreja Católica incluiu a obra no "Index Librorum Prohibitorum" - o catálogo das obras cuja
leitura é vedada aos seus fiéis.
No Brasil, porém, esse livro demorou a
chegar. Os que tinham acesso às obras de Allan Kardec eram geralmente
intelectuais que conheciam o idioma francês, os quais percebiam a necessidade
urgente de se traduzirem as obras de Kardec para o português, de modo que o
Espiritismo pudesse chegar ao conhecimento e estudo por parte de todos, sem
distinções.
É ao Dr. Travassos que o Brasil deve a
primeira tradução das obras de Kardec. Foi ele, em 1875, sob o pseudônimo de
Fortúnio, a fazer a primeira tradução para o português de O Livro dos
Espíritos, a partir da 20a edição francesa. A publicação foi feita pela
primeira editora no Brasil a publicar as obras básicas de Allan Kardec: a B. L.
Garnier, fundada em 1844, no Rio de Janeiro, por Baptiste-Louis Garnier, um
jovem empreendedor de 21 anos, recém-chegado da França.
Foi justamente pelas mãos do Dr. Travassos que
um exemplar de O Livro dos Espíritos, em português, chegou às mãos do Dr.
Adolfo Bezerra de Menezes, também médico e seu amigo pessoal. E foi este livro
que atraiu o ilustre médico e político para a Doutrina Espírita.
Estava reservada a Bezerra de Menezes uma tarefa
missionária em relação ao Espiritismo: conciliar as divergências existentes na
época e consolidar a Doutrina Espírita no território brasileiro. Sua tarefa se
confirmou ao assumir, em agosto de 1895, a presidência da Federação Espírita
Brasileira (fundada em 1884).
Nessa mesma época, a Livraria Espírita, em Paris,
de propriedade da Sra. Amélie Gabrielle Boudet (1795-1883), viúva de Allan
Kardec, entra em liquidação por absoluta falta de recursos financeiros. Não havia
interessados em manter a tarefa de divulgação espírita na Europa. Na França, a
tarefa espírita chegava ao fim, com a desencarnação da viúva de Kardec e o
fechamento definitivo da Livraria.
Foi assim que, em 15 de novembro de 1897, o Sr.
Leymarie concede, gratuitamente, à Federação Espírita Brasileira, os direitos
de publicação, em português, das obras de Kardec, com o compromisso de manter
fidelidade aos originais.
Hoje, O Livro dos Espíritos é de domínio público, não incidem
mais direitos autorais do autor sobre a obra, podendo, portanto, ser
reproduzida e editada livremente por qualquer pessoa ou instituição. A obra pode ser copiada sem a
autorização do autor, editor ou de quem os representem.
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