Lançamento e história de O Livro dos Espíritos

    

      O livro originalmente intitulado "Religião dos Espíritos” fora prudentemente modificado pelo Codificador para O Livro dos Espíritos, primeiramente porque ele temia que a censura implicasse com o primeiro nome e também para que o leitor identificasse na obra um livro escrito pelos Espíritos. 

     O livro veio a público em 18 de abril de 1857, lançado no Palais Royal, em Paris, na forma de perguntas e respostas, originalmente compreendendo 501 itens. Foi fruto dos estudos de Kardec sobre os fenômenos das mesas girantes, difundidos por toda a Europa em meados do século XIX, e que, segundo muitos pesquisadores da época, possuíam origem mediúnica. Foi o primeiro de uma série de cinco livros editados pelo pedagogo sobre o mesmo tema.

    Na noite do dia 18 de abril de 1857 em que foi lançado "O Livro dos Espíritos", madame Rivail (Amélie-Gabrielle de Lacombe Boudet Rivail) – Gaby na intimidade – já se houvera recolhido aos aposentos do casal. Kardec, entretanto, foi para o escritório de sua residência e sentou-se à escrivaninha de carvalho, sob a luz bruxuleante de uma vela. Pegou seu caderno de memórias e anotou, conforme o relato de Canuto Abreu: “Mais de cem exemplares de "O Livro dos Espíritos" já se foram neste primeiro dia, doados ou vendidos. Cada volume será um grão de vida nova lançado ao coração de um homem velho. Se algumas sementes caírem em corações maduros haverá, por certo, gloriosas ressurreições. Mil e duzentas sementes da Verdade serão lançadas no terreno da opinião. Se uma só frondejar, nosso esforço não terá sido em vão."

    E conclui o codificador, segundo a confiável informação histórica do confrade paulista: “O Livro de hoje não é senão a primeira página da religião do futuro. À medida que o meio e o desenvolvimento da Idéia Nova o permitam. Operar-se-á lentamente lutando com adversidades poderosas, pisada aqui, adulterada acolá, esmagada num ponto, ressuscitada noutro, criticada por muitos, defendida por poucos, atraiçoada dentro  de seus próprios muros pelos fracos a serviço das Trevas”. 

     As médiuns que serviram a esse trabalho foram inicialmente as jovens Caroline e Julie Boudin (respectivamente, com 16 e 14 anos), às quais mais tarde se juntou Celine Japhet (com 18 anos) e Ermance Dufaux (14 anos).

     Após o primeiro esboço, o método das perguntas e respostas foi submetido à comparação com as comunicações obtidas por outros médiuns franceses, num total de "mais de dez", nas palavras de Kardec, cujos textos psicografados contribuíram para a estruturação do texto.

     Segundo Canuto de Abreu, a segunda edição francesa foi lançada em 18 de março de 1860, tendo o Livro dos Espíritos, naquela reimpressão, sido revisto quase "como trabalho novo, embora os princípios não hajam sofrido nenhuma alteração, salvo pequeníssimo número de exceções, que são antes complementos e esclarecimentos que verdadeiras modificações". Para esta revisão, Kardec manteve contato com grupos espíritas de cerca de 15 países da Europa e das Américas. Nesta segunda edição é que aparecem 1018 perguntas e respostas, sendo que algumas edições atuais trazem 1019 perguntas, acréscimo devido ao Codificador não ter numerado a pergunta imediatamente após a 1010, aquela que seria a 1011. Assim sendo, o livro teria, na prática, 1019 e não, 1018 perguntas.

     Em setembro de 1861 o Sr. Lachâtre encomendou, de Barcelona, 300 volumes de obras espíritas, dentre as quais O Livro dos Espíritos. Ao chegarem, os livros foram apreendidos pelo bispo local, num episódio que ficou conhecido como Auto de fé de Barcelona. A sentença foi executada a 9 de outubro, data que marca a intolerância religiosa, reagindo contra a divulgação da Doutrina Espírita.

     A 1º de maio de 1864 a Igreja Católica incluiu a obra no "Index Librorum Prohibitorum" - o catálogo das obras cuja leitura é vedada aos seus fiéis.

         No Brasil, porém, esse livro demorou a chegar. Os que tinham acesso às obras de Allan Kardec eram geralmente intelectuais que conheciam o idioma francês, os quais percebiam a necessidade urgente de se traduzirem as obras de Kardec para o português, de modo que o Espiritismo pudesse chegar ao conhecimento e estudo por parte de todos, sem distinções. 

      É ao Dr. Travassos que o Brasil deve a primeira tradução das obras de Kardec. Foi ele, em 1875, sob o pseudônimo de Fortúnio, a fazer a primeira tradução para o português de O Livro dos Espíritos, a partir da 20a edição francesa. A publicação foi feita pela primeira editora no Brasil a publicar as obras básicas de Allan Kardec: a B. L. Garnier, fundada em 1844, no Rio de Janeiro, por Baptiste-Louis Garnier, um jovem empreendedor de 21 anos, recém-chegado da França.

      Foi justamente pelas mãos do Dr. Travassos que um exemplar de O Livro dos Espíritos, em português, chegou às mãos do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, também médico e seu amigo pessoal. E foi este livro que atraiu o ilustre médico e político para a Doutrina Espírita.

      Estava reservada a Bezerra de Menezes uma tarefa missionária em relação ao Espiritismo: conciliar as divergências existentes na época e consolidar a Doutrina Espírita no território brasileiro. Sua tarefa se confirmou ao assumir, em agosto de 1895, a presidência da Federação Espírita Brasileira (fundada em 1884).



     Nessa mesma época, a Livraria Espírita, em Paris, de propriedade da Sra. Amélie Gabrielle Boudet (1795-1883), viúva de Allan Kardec, entra em liquidação por absoluta falta de recursos financeiros. Não havia interessados em manter a tarefa de divulgação espírita na Europa. Na França, a tarefa espírita chegava ao fim, com a desencarnação da viúva de Kardec e o fechamento definitivo da Livraria.


     Foi assim que, em 15 de novembro de 1897, o Sr. Leymarie concede, gratuitamente, à Federação Espírita Brasileira, os direitos de publicação, em português, das obras de Kardec, com o compromisso de manter fidelidade aos originais. 


     Hoje, O Livro dos Espíritos é de domínio público, não incidem mais direitos autorais do autor sobre a obra, podendo, portanto, ser reproduzida e editada livremente por qualquer pessoa ou instituição. A obra pode ser copiada sem a autorização do autor, editor ou de quem os representem. 

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