Reflexões sobre a humildade

Muitas mediunidades promissoras naufragam logo no início, aos primeiros embates, por excesso de confiança ou temor exagerado, por desânimo ante as dificuldades iniciais por falta de perseverança no treinamento ou por desinteresse em promover certas mudanças íntimas, renunciar a algumas comodidades e pequenos vícios de comportamento ou de imaginação.

São muitos, ainda, os que julgam que basta sentar-se à mesa mediúnica para começar a produzir fenômenos notáveis, receber espíritos elevados, ter vidências espetaculares ou curar doenças graves. Nada disso. A primeira atitude a adotar-se, seja ou não este conselho tido como “pregação” é a da humildade. Não pense que sua mediunidade vai abalar o mundo ou servir de veículo para revelações sensacionais. É mais fácil perde-se uma oportunidade de exercício mediúnico razoável pela vaidade do que por qualquer outro obstáculo; é mais desastroso, porque, em vez de uma contribuição modesta, porém positiva, optamos pelo desacerto.

Por outro lado, raramente a mediunidade se define com nitidez logo de início, por esta ou aquela faculdade e raríssimas vezes ocorre tranqüilamente, sem inquietações e perplexidades, as quais o médium, ainda despreparado, não sabe como se esquivar ou controlar. Quase sempre na fase inicial, os fenômenos são de variada natureza, como se houvesse um propósito deliberado em testar várias faculdades a fim de decidir qual delas é a melhor para aquele trabalhador específico.

Acresce, ainda, que mediunidade equilibrada e funcional resulta do esforço, cultivo, aprimoramento não apenas da faculdade em si, mas do caráter e comportamento da pessoa. Em outras palavras, é resultado de um trabalho consciente, às vezes longo, monótono cansativo e sem o brilho a que muitos aspiram. Não é, também, para ser forçada.

A psicografia, ainda no dizer de Kardec, é a mais suscetível de desenvolver-se pelo exercício. O codificador recomenda, pois o “desenvolvimento natural” para várias faculdades. Qualquer que seja, porém o tipo de mediunidade em desenvolvimento é preciso que o médium em formação promova um severo e honesto auto-exame, a fim de identificar em que aspectos de comportamento precisa mudar e que eventuais virtudes ou qualidades pessoais devem e podem ser revigoradas.

E para isso também uma boa dosagem de humildade será de vital importância.

O médium está em treinamento para receber na sua intimidade a visita mais o menos regular de seres desconhecidos. Não se deve esquecer de que sua sensibilidade atrai para o intercâmbio individualidades estranhas à sua.

Esforçando-se por viver não em clima de santidade impossível, mas de honesto propósito de servir com o que tem de melhor em si, estará atraindo aqueles que tem afinidades com esses propósitos e não os que, ainda desarmonizados, só lhe poderão criar dificuldades adicionais.

Meditação em torno de temas como amor, sabedoria e conhecimento. E sobre os métodos para consegui-los devem, portanto, acompanhar todo o trabalho de desenvolvimento da mediunidade.

Disciplina e dedicação, contudo não justificam excessos nem os exigem.

Trecho do livro “Diversidade dos Carismas” de Hermínio C. Miranda.