Um centro radical

Por: Octávio Caúmo Serrano

Ainda não nos compenetramos a verdadeira finalidade de um Centro Espírita.

O Centro Espírita tem funcionado mais como um grupo de estudos ou de pessoas dispostas a praticar a caridade, sem outras preocupações.

Paralelamente a estes que participam das atividades da casa, temos os freqüentadores, que vão ouvir o evangelho, tomar passes, socorrer-se da orientação para solucionar problemas particulares e, às vezes, ajudar nas despesas do agrupamento.

Cada centro tem suas próprias características. Uns dão prioridade ao trabalho material, com ampla assistência social, outros dão destaque ao estudo, alguns se dedicam às curas espirituais, entre outros trabalhos.

Lamentavelmente, independente do tipo de ajuda a que se propõem, há muita indisciplina nos centros espíritas. Como os dirigentes sonham com uma casa cheia, são tolerantes e permitem que as pessoas se comportem de maneira inadequada. Ora com trajes que não condizem com o local, ora com conversas impróprias e em hora errada, ora com atrasos que geram tumulto e desconcentram o palestrante e o público, entre outros inconvenientes.

Aprendemos que o presidente é o guardião da doutrina e as pessoas formarão uma imagem do Espiritismo, e também dos espíritas, pelo que vêem durante a reunião. Além do que ali se fala, observam o que ali se faz, pelo comportamento dos que formam casa espírita.

Participamos de centro em João Pessoa, na Paraíba, fundada em 1 de abril de 1997, data que homenageia a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, criada por Allan Kardec em 1 de abril de 1858, e que tem uma coirmã em São Paulo, fundada em 26 de outubro de 1982.

Há mais de quinze anos, a presidente do Centro Espírita de São Paulo decidiu fechar as portas ao iniciar-se a reunião. Surpreendentemente, os freqüentadores e participantes aceitaram as novas normas com naturalidade, com ressalvas de um ou de outro. Dessa maneira, os trabalhadores passariam a assistir também à palestra, juntamente com o público, sem preocupar-se com o atendimento aos retardatários. O orador da noite faria a palestra calmamente, sem a interrupção dos atrasados, que não se contentam em sentar-se nos últimos lugares. Cumprimentam-se, beijam-se e tropeçam nas cadeiras, com embaraços para os demais.

Ouvimos de terceiros, mesmo espíritas, que não participam dos nossos trabalhos, comentários desagradáveis. Um confrade, servindo-se de espaço em jornal espírita, comentou: “Pasmem, senhores. Um centro que fecha as portas.”

A confusão entre caridade e desorganização ainda impera no Espiritismo. Estranha-se que alguém que não se comporte bem na reunião seja advertido. Nosso Centro já foi comparado a um quartel e a dirigente a um sargento. Eles conhecem uma pequena da verdade, mas se sentem no direito de julgar. Respondemos como Jesus: “Perdoa-os, Pai, eles não sabem o que fazem”. Ou o que dizem!

Um dos mais lúcidos espíritas brasileiros, o físico José Raul Teixeira, de Niterói, Rio de Janeiro, afirma que não devemos trazer os hábitos da sociedade para o centro, mas devemos usar o centro para modificar a sociedade. Se as palavras não são exatamente essas, a idéia, sem dúvida, o é.

Recomendamos que ao freqüentar o Centro Espírita, a pessoa deverá estar interessada em reformar-se e não apenas em resolver problemas imediatos ou secundários. Se não começarmos pela disciplina, pela pontualidade, pela assiduidade, não chegaremos às conquistas maiores. Já nos foi ensinado que aquele que não é fiel no pouco, não se capacita para o muito.

No nosso centro as pessoas chegam e se sentam em seqüência, para evitar que os que vêm depois tenham que incomodar o outro para ocupar a cadeira mais distante. Mesmo que seja um casal ou a mãe e sua filha, a regra é a mesma, em seqüência. Algumas vezes, um deles terá que se sentar na última cadeira de uma fileira e o outro na primeira da fileira seguinte. Este procedimento já levou pessoas a comentar que no nosso centro não se permite que parentes fiquem juntos, ou que homens se sentem ao lado de suas mulheres.

Na verdade, não é proibição. É uma circunstância do esquema, mas que acaba por ser útil. Ali não somos parentes, mas, todos igualmente, servidores e necessitados. No centro, as pessoas devem permanecer na leitura do informativo doutrinário da casa ou da mensagem que são sempre distribuídos à porta. É uma preparação para receber a ajuda ou doar-se em favor do próximo. Quando os parentes ficam juntos, falam no centro o que falam na rua. O marido e a mulher discutirão o desemprego e a falta de dinheiro. A mãe falará à filha do namorado que não serve para ela. Aquele momento propício à introversão, à auto-análise e à prece, ficará prejudicado com conversas fúteis ou, no mínimo, inadequadas para o momento. Além disso, a separação dura apenas quarenta e cinco minutos.

Dias destes, oferecemos nossa tribuna um orador do sul do país, em visita ao nordeste, e quando a pessoa que o apresentou a nós perguntou-lhe se havia gostado da casa, o confrade respondeu: “Gostei muito, mas é um centro muito sério, muito silencioso e a disciplina é muito rigorosa.” Ficamos contentes com a afirmativa, pois foi como um elogio. Pensávamos estar ainda exigindo pouco.

O Centro Espírita é importante célula da sociedade e tem a finalidade de auxiliá-la a melhorar-se, despertando nas criaturas o desejo de buscar valores morais, espirituais e até materiais, para ter uma conduta cristã junto ao seu semelhante. Nesse objetivo, presidente e demais membros formam uma junta diretora na defesa da pureza doutrinária. Precisam mostrar aos freqüentadores uma coerência entre a teoria e a prática espírita em tudo o que se faz no Centro.

Tenham coragem, senhores presidentes, e ponham a causa acima da casa. Melhor a boa qualidade do que a grande quantidade. Não precisamos de multidão porque não vivemos dos dízimos.

Que Deus fortaleça a fé de cada responsável por associação espírita para que cumpra fielmente seus compromissos com o plano espiritual.

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