Curso Básico de Espíritismo



Este curso tem por objetivo atender as pessoas que não conhecem a Doutrina Espírita ou que possuam um conhecimento pequeno, para que possam usufruir de um estudo especifico de forma que possibilite-as ter uma noção elementar sobre o que é a Doutrina e os seus aspectos essenciais.

CONTEÚDO
ü  As três revelações (Moises – Jesus – Espiritismo)
ü  A origem do Espiritismo
ü  O Codificador – Allan Kardec
ü  Origem da palavra Espírita - Espiritismo
ü  O caráter da revelação Espírita
ü  Tríplice aspecto
ü  Princípios fundamentais da Doutrina Espírita
ü  Os livros da Codificação
ü  O Livro dos Espíritos
ü  Movimento Espírita e Doutrina Espírita
ü  O Centro Espírita
ü  Serviços de um Centro Espírita
ü  O trabalhador Espírita
ü  A prece
ü  Culto do Evangelho no Lar
ü  Reforma Íntima



AS TRÊS REVELAÇÕES: MOISÉS - JESUS - ESPIRITISMO



INTRODUÇÃO

Revelar, do latim "revelare", significa, literalmente, sair sob o véu, e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida.
No sentido especial da fé religiosa, a revelação se refere, mais particularmente, das coisas espirituais que o homem não pode des­cobrir por meio da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos, e cujo conhecimento lhe dá Deus através de Seus mensageiros, quer por meio da palavra direta, quer pela inspiração. Neste caso, a revelação é sempre feita a homens predispostos, designados sob o nome de profe­tas ou messias.
Todas as religiões tiveram seus reveladores, e estes, embora longe estivessem de conhecer toda a verdade, tinham uma razão de ser providencial, porque eram apropriados ao tempo e ao meio em que vi­viam, ao caráter particular dos povos a quem falavam, e aos quais, eram relativamente superiores.
Allan Kardec [Gen-cap I] assevera que três foram as grandes revelações da Lei de Deus: a primeira representada por Moisés, a segunda por Jesus e a terceira e última revelação pelo Espiri­tismo.
Em [O Consolador], o benfeitor Emmanuel tange ao tema da seguinte forma: "Até agora a Humanidade da era cristã recebeu a grande Revelação em três aspectos essenciais: Moisés trouxe a missão da Justiça; o Evan­gelho, a revelação insuperável do Amor e o Espiritismo, em sua feição de Cristianismo redivivo, traz, por sua vez, a sublime tarefa da Verdade."

PRIMEIRA REVELAÇÃO: MOISÉS

Moisés, como profeta, revelou aos homens a existência de um Deus único e soberano Senhor e orientador de todas as coisas; promul­gou a lei do Sinai e lançou as bases da verdadeira fé. Como homem, foi o legislador do povo pelo qual essa primitiva fé, purificando-se, ha­via de espalhar-se por sobre a Terra.
Examinando o missionário, Emmanuel assim se refere: "Moisés trazia consigo as mais elevadas faculdades mediúnicas, ape­sar de suas características de legislador humano. É inconcebível que o grande missionário dos judeus e da Humanidade pudesse ouvir o es­pírito de Deus. Estais, porém habilitados a compreender que a Lei, ou a base da Lei (os Dez Mandamentos), foi-lhe ditada pelos emissários de Jesus.
Examinando-se os seus atos enérgicos de homem, há a considerar as características da época em que se verificou sua grande tarefa. Com expressões diversas, o grande enviado não poderia dar conta exata de suas preciosas obrigações, em face da Humanidade ignorante e mate­rialista."

A Lei Mosaica

Há duas partes distintas na lei mosaica: a lei de Deus, promul­gada sobre o Monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, estabelecida pelo próprio Moisés. Uma é invariável; a outra é apropriada aos costu­mes e ao caráter do povo e se modifica com o tempo.
A primeira, é lei de todos os tempos e de todos os países, e tem, por isso mesmo, um caráter divino. A segunda, foi criada pelo missionário para manter o temor de um povo naturalmente turbulento e indisciplinado, no qual tinha de combater abusos arraigados e precon­ceitos adquiridos durante a servidão do Egito.
André Luiz, referindo-se a parte divina da Lei Mosaica, diz: "Os Dez Mandamentos recebidos mediunicamente pelo profeta, brilham ainda hoje por alicerce de luz na edificação do Direito, dentro da ordem social."

 

SEGUNDA REVELAÇÃO: JESUS

A segunda grande revelação da Lei de Deus, na concepção de Kardec, foi apresentada por Jesus.
Segundo o benfeitor André Luiz [Evolução em Dois Mundos]: "Com Jesus, a religião, como sistema educativo, alcança eminência inimaginável. Nem templos de pedras, nem rituais. Nem hierarquias efêmeras, nem avanço ao poder humano. O Mestre desaferrolha as arcas do conhecimento enobrecido e distribui-lhe os tesouros."
Allan Kardec, examinando a Revelação Cristã, lembra que: "O Cristo, tomando da antiga lei o que é eterno e divino e rejei­tando o que era transitório, puramente disciplinar e de concepção humana, acrescentou a revelação da vida futura, de que Moisés não falara, assim como a das penas e recompensas que aguardam o homem depois da morte."
Acrescenta Kardec que a filosofia cristã estava sedimentada em uma concepção inteiramente nova da Divindade. Esta já não era mais a concepção de um Deus terrível, ciumento, vingativo, como O apresentava Moisés, mas um Deus clemente, soberanamente bom e justo, cheio de man­sidão e misericórdia, que perdoa ao vicioso e dá a cada um segundo as suas obras. Enfim, já não é o Deus que quer ser temido, mas o Deus que quer ser amado.

 

Quem é Jesus?

Lembra o Espírito Emmanuel, que "De forma alguma poderíamos fazer um estudo minucioso da psicologia de Jesus, por nos faltar maturidade espiritual para tanto."
No entanto, a respeito do Messias, sabe-se que foi Ele o En­viado de Deus, a representação do Pai junto ao rebanho de filhos transviados de seu amor e de sua sabedoria. Diretor angélico do orbe terreno, acompanhou todo o processo de formação da Terra, o primórdio da vida no planeta, e vem seguindo, com a mais extremada atenção, a todos os espíritos que vinculados a este orbe.
Mostra Emmanuel que Jesus não pode ser compreendido como um simples filósofo, tendo-se em conta os valores divinos de sua hierar­quia espiritual, conseguidos à custa de inumeráveis encarnações em mundos, hoje já inexistentes.
Esteve encarnado em nosso planeta uma única vez, e tornou-se, na expressão do Codificador, o "modelo e guia para a humanidade", haja vista ter sido Jesus o único Espírito Puro a envolver-se na materialidade da Terra.

TERCEIRA REVELAÇÃO: ESPIRITISMO

Allan Kardec apresenta o Espiritismo como sendo a Terceira Re­velação da Lei de Deus, o Consolador prometido aos homens por Jesus, conforme anunciado por [João-XIV:15-17,26]: "Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito da Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o conhecereis, porque ele ficará convosco e estará em vós. - Mas o Consolador, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito."
Kardec, examinando o tema, afirma: "O Espiritismo vem, no tempo assinalado, cumprir a promessa do Cristo. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas, fazendo compreender o que o Cristo só disse em parábolas. O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos porque ele fala sem fi­guras e alegorias."
Da mesma maneira que Jesus não veio destruir a lei mosaica, apresentada 15 séculos antes Dele por Moisés, assim também o Espiri­tismo não vem derrogar a lei cristã mas completá-la, desenvolvê-la, enriquecê-la.
Nesse sentido, o Espiritismo se propõe a revelar tudo aquilo que Jesus não pode dizer àquela época em função da pouca maturidade espiritual de sua gente. Ele é, portanto, obra do Cristo, que o pre­side e o acompanha, objetivando a recuperação moral da humanidade.

 

O Caráter da Revelação Espírita

Do ponto de vista de uma revelação religiosa, o Espiritismo apresenta algumas características particulares:

Estruturação Coletiva

A primeira revelação teve a sua per­sonificação em Moisés, a segunda no Cristo, a terceira não a tem em indivíduo algum; as duas primeiras foram individuais, a terceira cole­tiva; aí está um caráter essencial de grande importância. Ela é cole­tiva no sentido de não ser feita ou dada como privilégio a pessoa al­guma; ninguém, por consequência, pode inculcar-se como seu profeta ex­clusivo; foi espalhada simultaneamente, por sobre a Terra, a milhões de pessoas, de todas as idades e condições, desde a mais baixa até a mais alta da escala. Lembra Kardec: "Que as duas primeiras revelações, sendo fruto do ensino pessoal fi­caram forçosamente localizadas, isto é, apareceram num só ponto, em torno do qual a ideia se propagou pouco a pouco; mas foram precisos muitos séculos para que atingissem as extremidades do mundo, sem mesmo o invadirem inteiramente. A terceira tem isto de particular: não estando personificada em um só indivíduo, surgiu simultaneamente em milhares de pontos diferentes, que se tornaram centros ou focos de irradiação."

Origem Humano-Espiritual

Surgindo o Espiritismo numa época de emancipação e madureza espiritual, em que a inteligência, já desenvolvida, não se resigna a representar papel passivo; em que o ho­mem nada aceita às cegas, mas quer ver aonde o conduzem, quer saber o porquê e o como de cada coisa - tinha ela de ser ao mesmo tempo o pro­duto de um ensino e o fruto do trabalho, da pesquisa e do livre exame. Assim sendo, os Espíritos propõem-se a ensinar somente aquilo que é mister para guiar o homem no caminho da verdade, mas se abstêm de re­velar o que o homem pode descobrir por si mesmo, deixando-lhe o cui­dado de discutir, verificar e submeter tudo ao cadinho da razão, dei­xando mesmo, muitas vezes, que adquira experiência à sua custa. Forne­cem-lhe o princípio, os materiais; cabe-lhe, a ele, aproveitá-los e pô-los em obra.
O Espiritismo, portanto, tem uma dupla origem: espiritual, pois sua estrutura doutrinária foi em grande parte ditada por Espíritos Su­periores preparados para este mister; e nesse sentido ele é uma reve­lação. Mas tem também uma origem humana, pois foi e continua sendo en­riquecido, trabalhado e burilado por espíritas cultos e dedicados que dão o melhor de si no aperfeiçoamento da obra.

 

Caráter Progressivo

Um último caráter da revelação espírita é que, apoiando-se em fatos, tem de ser, es­sencialmente progressiva como todas as ciências de observação. Por sua substância, alia-se à Ciência que, sendo a exposição das leis da natu­reza com relação a certa ordem de fatos, não pode ser contrária às leis de Deus, autor daquelas leis.
O Espiritismo pois, não estabelece como princípio absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logi­camente da observação. Entendendo com todos os ramos da economia so­cial, aos quais dá o apoio das suas próprias descobertas, assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades práticas.
Kardec, a respeito desse caráter, emite vários pensamentos no­táveis:
"Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultra­passado, porque se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará." [GEN-cap I,it 55]
"A melhor religião será a que melhor satisfaça à razão e às legíti­mas aspirações do coração e do espírito; que não seja em nenhum ponto desmentida pela ciência positiva, que em vez de se imobilizar, acompanhe a humanidade em sua marcha progressiva, sem nunca deixar que a ultrapassem." [GEN-cap XVII, it 32]
"Se uma nova lei for descoberta, tem a Doutrina Espírita que se por de acordo com essa lei. Não lhe cabe fechar a porta a nenhum pro­gresso, sob pena de se suicidar. Assimilando todas as ideias reco­nhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicos ou metafí­sicos, ela jamais será ultrapassada, constituindo isso uma das prin­cipais garantias de sua perpetuidade." [OP- 2ª parte].

 

  

A ORIGEM DO ESPIRITISMO




Historicamente o espiritismo surgiu a partir dos fenômenos de movimentação de objetos, verificado em diferentes países, na Europa e na América.
O marco de tais acontecimentos, todavia, foram as manifestações ocorridas na aldeia de Hydesville, no condado de Wayne, perto de New York, Estados Unidos da América. Ali morava a família Fox, composta de três filhas, das quais duas viviam com os pais; os Fox se estabeleceram na casa desde 1847.
Na noite de 28 de março de 1848, nas paredes de madeira do barracão de John Fox, começaram a soar pancadas incômodas, perturbando o sono da família, toda ela metodista. As meninas Katherine (9 anos), e Margaretha (12anos), correram para o quarto dos pais, assustadas com os golpes fortes na parede o no teto do seu quarto.
As pancadas ou "raps" começaram nesta noite; depois ouvia-se o arrastar de cadeiras e, com o tempo os fenômenos tornara-se mais complexos: tudo estremecia, os objetos se deslocavam, havia uma explosão de sons fortes.
Três noites seguidas, até 31 de março de 1848, os fenômenos se repetiram intensamente, impedindo que os Fox conciliassem o sono. O Sr. Fox deu buscas completas pelo interior e pelo exterior da casa, mas nada encontrou que explicasse as ocorrências.
A menina Kate um dia, já um tanto acostumada com o fenômeno, pôs-se a imitar as pancadas, batendo com os dedos sobre um móvel, enquanto exclamava em direção a origem dos ruídos: "Vamos Old Splitfoot, faça o que eu faço". Prontamente as pancadas do "desconhecido" se fizeram ouvir, em igual número, e parava quando a menina também parava.
Margaretta, brincando disse: "Agora faça o mesmo que eu: conte um, dois, três, quatro", e ao mesmo tempo dava pequenas pancadas com os dedos, foi-lhe plenamente satisfeito esse pedido, deixando a todos estupefatos e medrosos.
As meninas Fox eram protestantes e supunham tratar-se do demônio e chamavam o batedor de Mr. Splitfoot, ou seja, senhor pé de bode. A família estava alarmada, logo a notícia se espalhou, vizinhos e curiosos vinham visitá-las. Mr. Duesler idealizou, então, o alfabeto para poderem traduzir as pancadas e compreenderem o que dizia o invisível.
O batedor invisível, apoiado neste alfabeto improvisado, contou a sua história: Chamava-se Charles Rosma; fora um vendedor ambulante e, hospedado naquela casa pelo casal Bell, ali o assassinaram para roubar-lhe a mercadoria e o dinheiro que trazia, o seu corpo fora sepultado no porão. Deram buscas no local indicado e acharam tábuas, alcatrão, cal, cabelos, ossos, utensílios.
Uma criada dos Bells, Lucrétia Pulver, declara que viu o vendedor e o descreve: diz como ele chegara à casa e refere o seu misterioso desaparecimento. Uma vez, descendo à adega, seu pé enterrou-se num buraco, e como falasse isto ao patrão, ele explicou que deveria ser ratos; e foi apressadamente fazer os reparos necessários. Ela vira nas mãos dos patrões objetos da caixa do ambulante.
Arthur Conan Doyle, no livro "História do Espiritismo", relata que cinquenta e seis anos depois foi descoberto que alguém teria sido enterrado na adega da casa dos Fox. Ao ruir uma parede, crianças que por ali brincavam descobriram um esqueleto. Os Bells, para maior segurança, haviam emparedado o corpo, na adega, onde inicialmente o haviam enterrado.
Em 25 de novembro de 1904, o Jornal de Boston noticiava que o esqueleto do homem que possivelmente produziu as batidas, ouvidas inicialmente pelas irmãs Fox, fora encontrado e portanto as mesmas estavam livres de qualquer dúvida com respeito à sinceridade delas na descoberta da comunicação com os espíritos.
Diversas comissões se formaram na época dos acontecimentos com a finalidade de estudar os estranhos fenômenos e desmascarar a fraude atribuída às Fox. Verificou-se que eles ocorriam na presença das meninas; atribuiu-se-lhes o poder da mediunidade. Nenhuma comissão, todavia, conseguiu demonstrar que se tratava de fraude. Os fatos eram absolutamente verdadeiros embora tivessem submetido as meninas aos mais rigorosos e severos exames, atingindo as vezes as raias da brutalidade. As irmãs Fox foram pressionadas. A igreja as excomungou como pactuantes do demônio. Foram acusadas de embusteiras, ameaçadas fisicamente muitas vezes.
Em 1888, ao comemorar os 40 anos dos fenômenos de Hydesville, Margaretha Fox, iludida por promessas de favores pecuniários feitas pelo cardeal Maning faz publicar uma reportagem no New York Herald que afirmava que os fenômenos que realizaram eram fraudulentos. Todavia, no ano seguinte, arrependida de sua falta de honestidade para com o espiritismo, reúne grande público no salão de música de New York e retrata-se de suas declarações anteriores, não só afirmando que os fenômenos de Hydesville eram verdadeiros, como provocando uma série de fenômenos de efeito físico no salão repleto de espectadores.
A retratação foi publicada na época. Consta no jornal americano The New York Press, de 20 de fevereiro de 1889. Como porém, a lealdade e a sinceridade não são requisitos dos espíritos apaixonados, ainda hoje, quando se quer denegrir a fonte do moderno Espiritismo, vem a tona a confissão das moças. Na retratação não se toca, ou quando se toca é para mostrar que não há no que confiar. Os pormenores ficam de lado.

AS MESAS GIRANTES
 Uma série progressiva de fenômenos deram origem á Doutrina Espírita. O primeiro fato observado foi a movimentação de objetos diversos. Designaram-no vulgarmente pelo nome de mesas girantes ou dança das mesas.
Tal fenômeno parece ter sido notado primeiramente na América do Norte de forma intensa, e propagou-se pelos países da Europa, como França, Inglaterra, Holanda, Alemanha e até a Turquia. Nos meados do século XIX, tendo como marco especialmente o ano de 1848, como os fenômenos de Hydesville já estudados, envolvendo a família Fox.
Todavia, a história registra que ele remonta à mais alta antiguidade, tendo-se produzido de formas estranhas, coo ruídos insólitos, fenômenos sem nenhuma causa ostensiva.
A princípio quase que só encontrou incrédulos, porém, ao cabo de pouco tempo, a multiplicidade das experiências não mais lhe permitiu lhe pusessem em dúvida a realidade.
O fenômeno de pancadas ou batidas foi chamado de "raps" ou "echoes"; os das mesas girantes ou moventes de "table-moving" para os ingleses e "table-tournante" para os franceses. No início, nos Estados Unidos, os espíritos só se comunicavam pelo processo trabalhoso e de grande morosidade de alguém dizer em voz alta o alfabeto e o espírito indicava através de pancadas no momento em que fossem pronunciadas as letras, que reunidas, formavam as frases. Era a telegrafia espiritual.
Os próprios espíritos indicaram, em fins de 1850, nova maneira de comunicação: bastava simplesmente que se colocassem ao redor de uma mesa, em cima da qual se apoiariam as mãos. Levantando um dos pés, a mesa daria (enquanto se recitava o alfabeto) uma pancada toda vez que fosse proferida a letra que servisse ao espírito para formar as palavras, esse processo, ainda que muito lento, produziu resultados excelentes e assim se chegou as mesas girantes ou falantes.
Há que notar que as mesas não só se levantavam em um pé para responder as perguntas que se faziam, mas também moviam-se em todos os sentidos, girava no ar, girava sobre o dedo dos experimentadores sem que se descobrissem qual a causa de tais movimentações.
O fenômeno das mesas girantes propagou-se muito rapidamente e durante muito tempo entreteve a curiosidade dos salões. Nas festas de sociedade, médiuns eram convidados a provocar tais fenômenos para a diversão e curiosidade dos presentes, no entanto, com o passar do tempo, os frívolos e interesseiros foram se afastando só ficando na observação da tais fenômenos os investigadores sérios e interessados no estudo da origem científica do acontecido.
As mesas girantes representarão sempre um dos pontos de partida da Doutrina Espírita, pois foi através delas que o insigne pesquisador e professor Hippolyte Léon Denizard Rivail tomou conhecimento de sua missão de codificação da doutrina dos espíritos. O professor Hippolyte tomou contato com o fenômeno das mesas girantes por volta de 1854 através de seu amigo o Sr. Fortier, que era magnetizador e com o qual estabeleceu amizade em virtude de seus estudos sobre o magnetismo. O Sr. Fortier um dia lhe falou: "Eis uma coisa mais do que extraordinária: não somente magnetiza-se uma mesa, fazendo-a girar, mas também a fazem falar; perguntam e ela responde". O professor Hippolyte responde: "Isto já é outra questão, só acreditarei quando puder ver com meus próprios olhos e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que pode tornar-se sonâmbula, por enquanto, se me permite, considerarei a tudo um conto de fadas".
O senhor Pattier, funcionário público, de meia idade, muito instruído, de caráter sério, frio e calmo; de falar ajuizado, isento de qualquer arroubo, causou-lhe excelente impressão e ao convidá-lo para assistir, a casa da Sra. Pleinemaison, na Rua Grange Beteliere nº 18, em Paris, aceitou com entusiasmo. Numa Terça feira de maio de 1855 o senhor Hippolyte assistiu pela primeira vez os fenômenos das mesas que giravam, saltavam, em condições tais que não deixavam dúvida qualquer, e é ele mesmo que descreve suas impressões iniciais: "Eu entrevia, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação e uma nova lei, que resolvi estudar a fundo. Tive o ensejo de ver comunicações contínuas e respostas à perguntas formuladas, algumas vezes, mentalmente, o que acusavam a intervenção de uma inteligência estranha".
E continua o Grande codificador da Doutrina Espírita: “Compreendi antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender; percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da humanidade, a solução que eu procurava em toda a minha vida. Fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspecção e não levianamente; ser positivista e não idealista, para não se deixar iludir". E foi assim que mais tarde, depois de muito estudar a comunicação com os espíritos, o senhor Hippolyte Leon Denizard Rival adotou o pseudônimo de Allan Kardec.

A ANTIGUIDADE DAS MANIFESTAÇÕES DOS ESPÍRITOS

A mediunidade sempre existiu, porque o homem sempre teve um Espírito. Assim as comunicações com os Espíritos tiveram lugar em todas as épocas e em regiões diversas. Se os fenômenos de obsessão vividos pela família Fox no século XIX deram nascença ao estudo do Espiritismo e à sua codificação, os fatos mediúnicos são tão antigos quanto a aparição do homem e os fenômenos de obsessão têm sido observados desde sempre. 
Na Índia, encontra-se nos Vedas, que é o mais antigo código religioso que se conhece e que foi escrito vários milhares de anos antes de Jesus Cristo, a crença na existência dos Espíritos. O grande legislador Manou se exprime assim: “Os Espíritos dos ancestrais, no estado invisível, acompanham certos Brahmas; sob uma forma aérea, eles os seguem e tomam lugar ao seu lado quando se sentam.” (Manou, Slocas, 187, 188, 189).
Um outro autor hindu declara : “Algum tempo antes de se despojarem de seu envelope mortal, as almas que não praticaram senão o bem adquirem a faculdade de conversar com as almas dos que os precederam.”
Na China, desde tempos imemoriais, já se entregavam à evocação dos espíritos dos ancestrais.
No Egito, os magos dos faraós realizavam prodígios que são contados na Bíblia; deixando de lado tudo aquilo que pode haver de legendário nessas narrações, é certo que evocavam os mortos. Desde Moisés, seu discípulo, foi proibido formalmente aos Hebreus se entregarem à essas práticas : “Que, entre vós, ninguém use do sortilégio e de encantamentos ou interrogue os mortos para aprender a verdade.” (Deuteronômio). 
Entre os hebreus, malgrado essa proibição de Moisés, vemos Saul consultar a pitonisa de Endor e, por seu intermediário, comunicar-se com a sombra de Samuel. De mais, sempre houve pesquisadores que foram tentados por essas evocações misteriosas : eles comunicavam uns aos outros uma doutrina secreta, que denominavam Cabala. 
Na Grécia, a crença nas evocações era geral. Os templos possuíam todos, mulheres, denominadas pitonisas, encarregadas de receber os oráculos evocando os deuses. Homero, na Odisséia, descreveu minuciosamente as cerimônias pelas quais Ulisses podia conversar com a sombra do adivinho Tirésias. Apolônio de Tianá, sábio filósofo pitagórico e taumaturgo de grande poder, possuía conhecimento muito extenso sobre as ciências ocultas ; sua vida é repleta de fatos extraordinários ; ele acreditava firmemente nos Espíritos e em suas possíveis comunicações com os vivos. 
Entre os Romanos, as práticas de evocação estavam excessivamente disseminadas, e, depois da fundação do império, o povo depositava grande fé nos oráculos. As sibilas romanas, evocando os mortos, interrogavam os Espíritos e eram consultadas sem cessar pelos generais, e nenhum empreendimento mais ou menos importante era decido sem que se tivesse de tomar o conselho preliminar dessas sacerdotisas.
Entre os primeiros cristãos, nos Atos dos Apóstolos, encontram-se numerosas indicações quanto às comunicações com os espíritos dos mortos. São Paulo em sua primeira epístola aos Coríntios, descreve sob o nome de dons espirituais, todos os gêneros de mediunidade. Ele se declara diretamente instruído, pela Igreja de Jesus, na Verdade evangélica. Tributou-se, por vezes, essas inspirações aos maus Espíritos, à quem alguns chamavam de o Espírito de Píton : “Meus bons amigos, dizia João, não creiam em todos os espíritos, mas verifiquem se os espíritos são de Deus.”
As práticas espíritas ficaram em uso durante vários séculos. Quase todos os filósofos alexandrinos, Filo, Amônio Saccas, Plotino, Porfírio, Arnobe, se diziam inspirados por gênios superiores ; São Gregório, taumaturgo, recebeu os símbolos da fé do Espírito de São João. Santo Agostinho, o grande bispo de Hippone, em seu tratado De Curâ pro mortuis, fala das manifestações ocultas e acrescenta : “Por que não atribuir essas operações aos espíritos dos defuntos e não crer que a divina Providência fez um bom uso de tudo para instruir os homens, os consolar, os maravilhar?”
Na Idade Média, as perseguições da Igreja contra os “heréticos” sufocaram a comunicação com o mundo invisível mas a tradição se conserva: pode-se segui-la na história com os nomes de Paracelso, Cornélio Agripina, Swedenborg, Jacob Boehm, Martinez Pascalis, o conde de Saint-Germain, Saint-Martin, os possessos de Loudun, os medrosos de Cévennes e os crisíacos do cemitério Saint-Médard.
Nenhum testemunho da intervenção dos Espíritos na vida dos povos é comparável à história tocante da virgem de Domrémy. No início do século XIV, a França agonizava sob o pé de ferro dos Ingleses. Com a ajuda de uma jovem moça, de uma criança de dezoito anos, as potências invisíveis reanimaram um povo desmoralizado, revelando seu patriotismo extinto, inflamando a resistência e salvando a França da morte. Joana nunca agia sem consultar suas vozes, e, seja sobre os campos de batalha, seja ante seus juízes, sempre elas inspiraram suas palavras e seus atos.
De mais, se reencontra a comunicação com os Espíritos através dos feiticeiros ou dos xamãs entre os numerosos povos da América, da Ásia, da Oceania e da África.
Kardec, na introdução do livro “O que é o Espiritismo” assevera que:
 “Não obstante, o Espiritismo não é uma descoberta moderna. Os fatos e os princípios, sob os quais ele repousa, se perdem na noite dos tempos, pois seus traços se acham nas crenças dos povos, em todas as religiões, na maior parte dos escritores sacros e profanos. Apenas que, incompletamente observados, os fatos foram frequentemente interpretados conforme as ideias supersticiosas da ignorância e sem que dos mesmos tivessem sido deduzidas todas as consequências.
O que há de moderno é a explicação lógica dos fatos, o conhecimento mais completo da natureza dos Espíritos, de sua missão e de seu modo de agir ; a revelação do nosso estado futuro e, enfim, a constituição dele num corpo científico e doutrinário e suas múltiplas aplicações. Os antigos conheciam o princípio ; os modernos conhecem as minúcias. Na Antiguidade o estudo desses fenômenos era privilégio de certas classes, que só o revelavam aos iniciados nesses mistérios ; na Idade Média os que com ele se ocupavam ostensivamente eram tidos como feiticeiros e queimados vivos ; hoje, porém, já não há mais mistérios para ninguém, ninguém é queimado, tudo se faz à luz meridiana e todo o mundo está disposto a instruir-se e praticar. Porque em toda parte se encontram médiuns e cada um pode sê-lo mais ou menos.
A doutrina hoje ensinada pelos Espíritos nada tem de novo ; seus fragmentos são encontrados na maior parte dos filósofos da Índia, do Egito e da Grécia, e se completam nos ensinos de Jesus Cristo. A que vem, pois, o Espiritismo ? Vem confirmar com novos testemunhos e demonstrar com os fatos, verdades desconhecidas ou mal compreendidas e restabelecer em seu verdadeiro sentido aquelas que foram mal interpretadas ou deliberadamente alteradas.
O que é certo é que nada de novo ensina o Espiritismo. Mas será pouco provar de modo patente e irrecusável a existência da alma, sua sobrevivência ao corpo, sua individualidade após a morte, sua imortalidade, e as penas e recompensas futuras?  



O CODIFICADOR - ALLAN KARDEC




O HOMEM

Na cidade de Lion, na França, nasceu no dia 3 de outubro de l804, aquele que se celebrizaria sob o pseudônimo de Allan Kardec. De tradicional família francesa de magistrados e professores, filho de Jean Baptiste Antoine Rivail e Jeane Louise Duhamel, foi batizado com o nome de Hippolyte Léon Denizard Rivail.
Em Lion fez os seus primeiros estudos, seguindo depois para Yverdon, na Suíça, a fim de estudar no Instituto do célebre professor Pestalozzi. O instituto desse abalizado mestre era um dos mais famosos e respeitados em toda a Europa. Desde cedo Hippolyte Léon tornou-se um dos mais eminentes discípulos de Pestalozzi, estando inclusive, com a idade de 14 anos, ensinando aos condiscípulos menos adiantados, tudo o que aprendia.
Concluídos os estudos em Yverdon, regressou a Paris, onde se tornou conceituado mestre não só em Letras, como na Ciência, distinguindo-se como notável pedagogo e divulgador do Método Pestalozziano. Conhecia diversas línguas, entre elas o italiano e alemão, tendo traduzido várias obras para o francês.
Rivail contraiu matrimônio com a professora Amelie Gabrielle Boudet, conquistando uma preciosa colaboradora. O casal não teve filhos. Como pedagogo, Rivail publicou numerosos livros didáticos. Apresenta na mesma época, planos e métodos referentes à reforma do ensino francês.

 

O CODIFICADOR

Começa a missão de Allan Kardec quando, em 1854, ouviu falar pela primeira vez nas mesas girantes através do amigo Fortier, um pesquisador emérito do Magnetismo (Kardec a época interessava-se também pelo estudo desta ciência). Em princípio, Kardec revelou-se cético, face à sua posição de livre pensador, de homem austero, sincero e observador. Exigindo provas, mostrou-se inclinado à observação mais profunda dos ruidosos fatos amplamente divulgados pela imprensa francesa.
No ano seguinte, 1855, aceita o convite para assistir a uma sessão de mesas girantes, e vendo o fenômeno, ele se interessa profundamente. Vê ali um fenômeno inusitado que deveria merecer um exame cuidadoso.
Ele decide então, aos 51 anos de idade, estudar o fenômeno mediúnico e passa a frequentar a residência de diversos médiuns, recebe cadernos contendo anotações de mensagens recebidas anteriormente, discute, analisa, apresenta questões de grande profundidade aos Espíritos, convencido que está da realidade do mundo extrafísico.
O grande material estudado por ele, mais as centenas de questões propostas às Entidades Luminosas, deram condições ao professor Rivail de publicar a sua primeira obra, O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857. Esta data passou a ser considerada como a de fundação do Espiritismo.
O Professor Rivail decide adotar o pseudônimo de Allan Kardec por dois motivos: primeiro para que o seu nome real, conhecidíssimo em Paris, não viesse a interferir na grandeza do livro, que segundo ele, deveria florescer pelo seu valor e, não pelo autor que o subscrevia. Segundo, em homenagem a uma existência que ele tivera nas Gálias, no primeiro século antes de Cristo, onde fora um sacerdote druida denominado Allan Kardec.
Kardec vem a deixar o mundo físico na manhã do dia 31 de março de 1869, em função da ruptura de um aneurisma cardíaco.



ORIGEM DA PALAVRA ESPÍRITA - ESPIRITISMO




IDENTIDADE DA DOUTRINA ESPÍRITA
Doutrina Espírita” ou “Espiritismo”: é nome dado por Allan Kardec à doutrina dos Espíritos contida nas obras da Codificação.
Allan Kardec, na introdução de “O Livro dos Espíritos” diz que:
“Para se designarem coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras. Os vocábulos espiritual, espiritualista, espiritualismo têm acepção bem definida. Dar-lhes outra, para aplicá-los à doutrina dos Espíritos, fora multiplicar as causas já numerosas de anfibologia.”
“Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, empregamos, para indicar a crença a que vimos de referir-nos, os termos espírita e espiritismo (...)”
“Diremos, pois, que a doutrina espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas.”
“Como especialidade, O Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade, prende-se à doutrina espiritualista (...)”.



O CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA




Definamos primeiro o sentido da palavra revelação. Revelar, do latim revelare, cuja raiz, velum, véu, significa literalmente sair de sob o véu - e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. Segundo Léon Denis, revelação significa simplesmente ação de levantar um véu e descobrir coisas ocultas.
Nenhuma ciência existe que haja saído prontinha do cérebro de um homem. Todas, sem exceção nenhuma, são fruto de observações sucessivas, apoiadas em observações precedentes, como em um ponto conhecido, para chegar ao desconhecido. Foi assim que os Espíritos procederam, com relação ao Espiritismo. Daí ser gradativo o ensino que ministram.
A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, por consequência, não existe revelação. O caráter essencial da Revelação Divina é o da eterna verdade.
Além disso, convém notar que em parte alguma o ensino espírita foi dado integralmente; ele diz respeito a tão grande número de observações, a assuntos tão diferentes, exigindo conhecimentos e aptidões mediúnicas especiais, que impossível era acharem-se reunidas num mesmo ponto todas as condições necessárias. Tendo o ensino que ser coletivo e não individual, os Espíritos dividiram o trabalho, disseminando os assuntos de estudo e observação como, em algumas fábricas, a confecção de cada parte de um mesmo objeto é repartida por diversos operários.
Por sua natureza a revelação espírita tem duplo caráter: participa ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica.
Numa palavra, o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem.
Por isso, o moderno espiritualismo não dogmatiza nem se imobiliza. Não alimenta pretensão alguma à infalibilidade. Posto que superior aos que o precederam, o ensino espírita é progressivo como os próprios Espíritos. Ele se desenvolve e completa à medida que, com a experiência, se efetua o progresso nas duas humanidades, a da Terra e a do espaço - humanidades que se penetram mutuamente e das quais cada um de vós deve, alternativamente, fazer parte.



TRIPLICE ASPECTO




O TRÍPLICE ASPECTO DO ESPIRITISMO

No prólogo de [O Que é o Espiritismo], Allan Kardec define o Espiritismo como sendo: "Uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de suas relações com o mundo espiritual."
Em outra passagem, ainda na obra citada, o Codificador acrescenta: "O Espiritismo é ao mesmo tempo ciência experimental e Doutrina Filosófica. Como ciência prática, tem a sua essência nas relações que se podem estabelecer com os espíritos. Como filosofia compreende todas as consequências morais decorrentes dessas relações."
Pode-se observar do pensamento do Codificador, que o Espiritismo reveste-se de três aspectos distintos, mas complementares:
a)  Ciência Experimental;
b)  Doutrina Filosófica;
c)   As consequências morais decorrentes das duas anteriores.
Emmanuel, em [O Consolador] diz: "Podemos tomar o Espiritismo, simbolizado como um triângulo de forças espirituais. A ciência e a filosofia vinculam à Terra essa figura simbólica, porém, a religião é o ângulo divino que a liga ao céu."
Em outra mensagem mediúnica, o benfeitor acrescenta: "Não será justo em nosso movimento libertador da vida espiritual, prescindir da ciência que estuda, da filosofia que esclarece e da religião que sublima."

ASPECTO CIENTÍFICO

“O Espiritismo tem por fim demonstrar e estudar a manifestação dos Espíritos, suas faculdades, sua situação feliz ou infeliz, seu futuro; em suma, o conhecimento do Mundo Espiritual.
O Espiritismo tem um aspecto científico porque estuda, à luz da razão e usando critérios científicos, com metodologia específica, os fenômenos mediúnicos, ou melhor, os fatos que colocam os homens em contato com os espíritos, ocorrências estas que nada têm de sobrenatural, porque estão dentro do contexto dos fatos naturais, nada apresentando de milagroso nem de superstições do povo crédulo e ignorante.
Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma maneira que as ciências positivas, isto é, aplica o método experimental. Fatos de ordem nova se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis, conhecidas; ele os observa, compara, analisa e, partindo dos efeitos às causas, chega à lei que os rege, depois deduz as consequências e busca as aplicações úteis.
O Espiritismo não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não se apresentam como hipótese nem a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina; conclui-se pela existência dos Espíritos porque essa existência resultou como evidência da observação dos fatos; e assim os demais princípios. Não foram dos fatos que vieram posteriormente confirmar a teoria, mas foi a teoria que veio subsequentemente explicar e resumir os fatos. Rigorosamente exato, portanto, dizer que o Espiritismo é uma ciência da observação e não o produto da imaginação. As ciências não fizeram progressos sérios senão depois que os seus estudos se basearam no método experimental; mas, acreditava-se que esse método não poderia ser aplicado senão à matéria ao passo que o é igualmente às coisas metafísicas". (Allan Kardec)
No aspecto científico, o Espiritismo demonstra a existência da alma e sua imortalidade, principalmente através do intercâmbio mediúnico entre os encarnados e desencarnados.
Preocupa-se em estudar a intimidade do fenômeno mediúnico, suas consequências na vida das pessoas, bem como as características do ser espiritual, sua origem, sua natureza e seu destino.
O aspecto científico do Espiritismo foi desenvolvido em duas obras de Allan Kardec, O Livro dos Médiuns e A Gênese.

ASPECTO FILOSÓFICO

Quando o Homem pergunta, interroga, cogita, quer saber o "como" e o "porquê" das coisas, dos fatos, dos acontecimentos, nasce a filosofia que mostra o que são as coisas e porque são as coisas.
No aspecto filosófico, o Espiritismo vai preocupar-se com os problemas do Homem, suas dúvidas, seus questionamentos, sua condição de ser eterno em busca da Divindade, através de múltiplas existências físicas. Vai examinar os atributos da Divindade, suas relações com o Homem e vai apresentar um código de moral através do qual a criatura se identificará, um dia, com seu Criador. O aspecto filosófico se encontra enfocado no Livro dos Espíritos.
A Filosofia Espírita é a interpretação dos fenômenos verificados e estudados pela Ciência Espírita. Esses fenômenos revelam ao homem a estrutura do Universo, que é a seguinte, como vemos em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec: Deus, Espírito e Matéria. Uma vez constatada essa realidade, e descoberto o mecanismo pelo qual o Espírito se manifesta através da matéria, cessa o trabalho da ciência, para começar a da filosofia.
“O caráter filosófico do Espiritismo está, portanto, no estudo que faz do Homem, sobretudo Espírito, de seus problemas, de sua origem, de sua destinação. Esse estudo leva ao conhecimento do mecanismo das relações dos Homens, que vivem na Terra, com aqueles que já se despediram dela, temporariamente, pela morte, estabelecendo as bases desse permanente relacionamento, e demonstra a existência, inquestionável, de algo que tudo ria e tudo comanda, inteligentemente - Deus.” (Pedro Franco)
“O Espiritismo tem um aspecto filosófico porque, a partir dos fenômenos, dá uma interpretação da vida, isto é, responde àquelas perguntas que apresentamos (...) sobre o porquê da vida. De onde você veio e para onde você vai. A razão das desigualdades que observamos entre as criaturas. Trata-se de uma filosofia espiritualista porque admite, repito, com base nos fatos mediúnicos e anímicos, a existência de um princípio espiritual no Universo, além do princípio material. Equivale dizer que o Espiritismo vê no ser humano, não apenas o corpo material, de carne e osso, de vísceras e sangue, de nervos e hormônios, mas também aquilo a que as religiões, há séculos, deram o nome de alma.” (Celso Martins).

ASPECTO RELIGIOSO

Ao ser indagado quanto ao aspecto religião do Espiritismo, o médium Francisco Cândido Xavier assim se manifestou [Entrevistas – item 97]: "Poderíamos figurar, por exemplo, a Ciência como sendo a verdade, a Religião, como sendo a vida e a Filosofia como sendo a indagação da criatura humana entre a Verdade e a Vida. Todos os três aspectos são muito importantes, porque a Filosofia estuda sempre, a Ciência descobre sempre, mas a Vida atua sempre. Todos esses aspectos são essenciais, mas a Religião é sempre a mais importante, porque a verdade é uma luz que a todos chegaremos, a indagação é um processo do que todos participamos, mas a vida não deve ser sacrificada nunca e a Religião assegura a vida, assegurando a ordem da vida."
Do ponto de vista religioso o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e as recompensas futuras, sendo, porém, independente de qualquer culto em particular. Seu objetivo é provar àqueles que negam, ou que duvidam, que a alma existe, que ela sobrevive ao corpo e que sofre, após a morte, as consequências do bem e do mal que praticar durante a vida corpórea: o objetivo de todas as religiões”.
No discurso proferido na Sociedade Espírita de Paris, em 1º de novembro de 1868 e publicado na Revista Espírita de dezembro do mesmo ano, Kardec faz as seguintes declarações:
“Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembleias religiosas deve ser a comunhão de pensamentos; é que, com efeito, a palavra religião quer dizer laço. Uma religião, em sua acepção nata e verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunidade de sentimentos, de princípios e de crenças ...
O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é pois, um laço, um laço essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito ...
Se assim é, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da natureza.”
Porque, então, declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Porque não há uma palavra para exprimir ideias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; desperta exclusivamente uma ideia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí senão uma nova edição, uma variante, se se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das ideias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes se levantou a opinião pública.
Como se vê, o Espiritismo não é religião no sentido tradicional da palavra religião.
Concluímos que o Espiritismo não tem culto material exterior nem sacerdócio organizado, como as religiões tradicionais; no entanto, possui um conteúdo moral, ligando os homens entre si e seu criador.
Como religião, o Espiritismo preocupa-se com as consequências morais do ensino científico-filosófico, buscando, na ética pregada por Jesus, os elementos que deverão nortear a conduta do Homem.
No entanto, não se trata o Espiritismo de uma Religião constituída, tradicional, estruturada através de rituais, sacramentos, dogmas e classes sacerdotais. Mas sim, uma religião no sentido etimológico do termo, como "religarem", ou seja, elemento de ligação da criatura com o Criador. Religião como atitude de vida, como modo de proceder, buscando uma identificação com Deus, não através de atitudes exteriores, artificiais, mecanizadas, mas através de uma vida reta, digna e fraterna.
O Espiritismo não se constitui de uma religião a mais, visto que não tem cultos instituídos, nem imagens, nem rituais, nem mitos, nem crendices, nem tão pouco sacerdotes remunerados. Podemos porém, considerá-lo em seu aspecto religioso quando estabelece um laço moral entre os homens, conduzindo-os em direção ao Criador, através da vivência dos ensinamentos morais do Cristo. É no seu aspecto religioso que repousa a sua grandeza divina, por constituir a restauração do Evangelho de Jesus, estabelecendo a renovação definitiva do homem, para a grandeza do seu imenso futuro espiritual.
O aspecto religioso foi desenvolvido por Kardec nas obras o Evangelho Segundo o Espiritismo e no Céu e Inferno.



PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA DOUTRINA ESPÍRITA




PRINCÍPIOS BÁSICOS DA DOUTRINA ESPÍRITA
A Doutrina Espírita tem como princípios básicos:
ü A existência de Deus;
ü Existência do Espírito, sua sobrevivência após a morte e sua comunicação com o mundo material;
ü Reencarnação;
ü Evolução moral e intelectual dos espíritos;
ü Lei de Causa e Efeito.

Podemos observar, então, que alguns desses princípios encontram-se em todas as religiões cristãs. Ou seja, tanto o Catolicismo, como o Protestantismo e suas diversas ramificações, creem em Deus e na existência de alguma forma de uma vida espiritual. Isso, porque Jesus sempre deixou muito claro ambos, falando em suas parábolas e em seus ensinamentos.
Mas, por que existe Deus? Se há mundo espiritual, como é a vida lá? E vivendo no mundo espiritual, pode se fazer contato com o mundo material? Vivemos uma só vida? Todos temos a mesma evolução espiritual? O que fazemos, de bom ou ruim, recebemos de volta?
Estas perguntas que sempre nos atormentaram têm uma explicação racional na Doutrina Espírita. E veremos que para todas elas existe algo a respeito na Bíblia, que com a luz do Espiritismo podemos compreender.

A existência de Deus

A existência de Deus é o primeiro assunto de “O Livro dos Espíritos”. Allan Kardec e a falange do Espírito de Verdade entenderam a necessidade de nos falar primordialmente sobre isso, pois crer em Deus, não só emocionalmente, mas também racionalmente, irá nos favorecer a compreensão de toda sua criação. Consequentemente, conseguiremos saber o porquê da vida e qual nosso objetivo de existência. Abaixo, reproduzimos as primeiras perguntas e respostas da obra citada:
Que é Deus?
Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.

Que se deve entender por infinito?
O que não tem começo nem fim: o desconhecido; tudo que é desconhecido é infinito.

Poder-se-ia dizer que Deus é o infinito?
Definição incompleta. Pobreza da linguagem humana, insuficiente para definir o que está acima da linguagem dos homens.
Deus é infinito em Suas perfeições, mas o infinito é uma abstração. Dizer que Deus é o infinito é tomar o atributo de uma coisa pela coisa mesma, é definir uma coisa que não está conhecida por uma outra que não está mais do que a primeira.
Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?
Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.
Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.

Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da formação das coisas?
Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É indispensável sempre uma causa primária.
Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito que há de ter uma causa.

Que se deve pensar da opinião dos que atribuem a formação primária a uma combinação fortuita da matéria, ou, por outra, ao acaso?
Outro absurdo! Que homem de bom senso pode considerar o acaso um ser inteligente? E, demais, que é o acaso? Nada.
A harmonia existente no mecanismo do Universo patenteia combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso é insensatez, pois que o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria acaso.

Em que é que, na causa primária, se revela uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências?
Tendes um provérbio que diz: Pela obra se reconhece o autor. Pois bem! Vede a obra e procurai o autor. O orgulho é que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si. Por isso é que ele se denomina a si mesmo de espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!
O poder de uma inteligência se julga pelas obras. Não podendo nenhum ser humano criar o que a Natureza produz, a causa primária é, consequentemente, uma inteligência superior à Humanidade.
Quaisquer que sejam os prodígios que a inteligência humana tenha operado, ela própria tem uma causa e, quanto maior for o que opere, tanto maior há de ser a causa primária. Aquela inteligência superior é que é a causa primária de todas as coisas, seja qual for o nome que lhe deem.
Com essas questões, vemos qual o entendimento da Doutrina Espírita sobre Deus.
Na Bíblia, há muitas passagens falando a respeito da existência do Pai criador. Porém, uma das mais importantes encontra-se na “Oração do Pai Nosso” (Mateus, VI; versículos 9 a 13), onde Jesus nos ensina a orar, agradecendo e pedindo a Deus a luz para nossa existência.

A existência do Espírito, sua sobrevivência após a morte e sua comunicação com o mundo material
Em que sentido se deve entender a vida eterna?
A vida do Espírito é que é eterna; a do corpo é transitória e passageira. Quando o corpo morre, a alma retoma à vida eterna.
A Doutrina Espírita nos explica que o Espírito é eterno, como afirmado na questão acima de O Livro dos Espíritos.
A existência da vida espiritual é muito citada por Jesus nos Evangelhos. E se existe essa vida, lá vivem os Espíritos. Mas o que são os Espíritos? Vejamos o que diz O Livro dos Espíritos:

O Espírito - Princípio inteligente do Universo.
Qual a natureza íntima do Espírito?
Não é fácil analisar o Espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele nada é, por não ser palpável. Para nós, entretanto, é alguma coisa. Ficai sabendo: coisa nenhuma é o nada e o nada não existe.”

Espírito é sinônimo de inteligência?
A inteligência é um atributo essencial do Espírito. Uma e outro, porém, se confundem num princípio comum, de sorte que, para vós, são a mesma coisa.
O Espírito independe da matéria, ou é apenas uma propriedade desta, como as cores o são da luz e o som o é do ar?
São distintos uma do outro; mas, a união do Espírito e da matéria é necessária para intelectualizar a matéria.”

Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito?
Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal.
A Doutrina Espírita também nos ensina que os Espíritos nada mais são do que as almas dos homens que materialmente viveram na Terra. Ou seja: quando encarnado, o Espírito tem a denominação de alma; ao desencarnar-se e voltar à vida espiritual, é denominado Espírito. Esta diferença de terminologia existe apenas para diferenciar um estado do outro. Dessa forma, existindo o mundo espiritual e os Espíritos, estes têm a condição de se comunicarem com os encarnados. Há muitas passagens nas Escrituras Sagradas (Bíblia) que falam sobre esse intercâmbio (adiante, conheceremos uma delas).
Deus nunca parou de criar Espíritos, povoando diversos mundos habitados no universo. É Jesus mesmo quem diz: “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (João, XIV;2). E todos os espíritos são criados simples e ignorantes. Ou seja, nenhum de nós teve privilégios ao sermos criados. Coube a cada um de nós, através de cada reencarnação, adquirir experiências que nos tornaram como somos hoje.
 
A reencarnação
Compreendemos, assim, que nós mesmos conquistamos nossa evolução, vida após vida, encarnação após encarnação. Todas as experiências que vivenciamos, sejam boas ou más, servirão para compor nossa história espiritual. Isso explica, por exemplo, porque há pessoas que têm tendências para um desenvolvimento precoce para a música, pintura, matemática e demais artes sem terem tido nenhum incentivo para isso nesta existência.
Por outro lado, há os que desde crianças têm o chamado popularmente “gênio forte”, onde impera a violência, a impaciência, o egoísmo. Tanto para o bem quanto para o mal estas tendências nada mais são do que a demonstração do que compõe a nossa história espiritual, traduzida e apresentada como inclinações que temos na vida presente. Caberá a cada um de nós alimentarmos estas vocações (se forem para o bem) ou cerceá-las (se forem para o mal). E é nisso que resulta a sabedoria de Deus na reencarnação. Nela, nós mesmos colheremos o que de bom ou ruim semearmos.
Com isso, a Doutrina Espírita põe fim às penas eternas, incoerentes com a bondade e misericórdia suprema do Pai. Pois se nós, seres imperfeitos, sabemos perdoar e dar novas oportunidades a nossos filhos, muito mais o fará Deus. Ao invés de jogar eternamente no inferno quem errou, dá novas oportunidades de vida, onde se colherá o que se plantou, aprendendo o melhor caminho a seguir.
Além disso, a reencarnação consegue explicar os porquês de problemas de nascença, ou de problemas que nos acompanham no decorrer da vida. Se as causas não se acharem presentes na atualidade, só podem ser frutos de atitudes cometidas em outras existências. Senão, onde estaria a justiça de Deus, que deu saúde e paz a uns e desgraças a outros? Só a reencarnação mostra como o Pai é sábio e justo, pois sua Lei espiritual dá a cada um segundo suas obras, visando sempre um único destino para todos: a felicidade eterna.
Na Bíblia, no Evangelho segundo Mateus, XVII; versículos 1 a 13, na passagem denominada “Transfiguração”, há vários elementos que nos comprovam o que a Doutrina Espírita nos ensina: “Tomou Jesus consigo a Pedro, a Tiago e a João, seu irmão, e os conduziu em particular, a um alto monte. E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu com o sol, e os seus vestidos se tornaram brancos como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele... E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem então os escribas que é mister que Elias venha primeiro? E Jesus respondendo-lhes, disse: Em verdade, Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas. Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do Homem. Então, entenderam os discípulos que ele lhes falara de João Batista”.
Aqui, podemos observar a existência do mundo espiritual, a comunicação dos Espíritos e a reencarnação. Jesus deixa bem claro que João Batista, seu primo e pregador, que havia vivido junto com ele, antes de ser preso e decapitado pelo rei Herodes, foi na verdade a reencarnação do profeta Elias, que vivera há mais de 900 anos antes de Jesus. Naquele momento, depois de seu desencarne, João apresentava-se a Jesus com a aparência de Elias, juntamente com Moisés, outro profeta desencarnado há 1700 anos.
Espírito para viver em um novo corpo, que nada tem a ver com o anterior. É o que acredita a Doutrina Espírita. Já ressurreição é a volta do Espírito no mesmo corpo que havia habitado, mesmo que esse já tenha sido decomposto, que é o que creem outras religiões.
Essa confusão fez com que Jesus não falasse diretamente da reencarnação para o povo, mas sim apenas com seus discípulos mais próximos, que teriam uma melhor condição espiritual de compreender o processo que envolve a reencarnação. Mas mesmo entre eles, havia dificuldade para o entendimento completo. Por isso, Jesus deixa muitas vezes subtendido o assunto. Vejamos em Marcos, VI; 14 e 15 / Lucas, IX; 7 a 9: “Jesus expulsava muitos demônios e curava enfermos. E ouviu isto o rei Herodes (por que o nome de Jesus se tornara notório), e disse: João, o que batizava, ressuscitou dos mortos, e por isso estas maravilhas operam nele. E outros diziam: Ele é Elias, ou um dos profetas. Herodes, porém, disse: Este é João, que mandei degolar, e ressuscitou dos mortos”.
Em Marcos, VIII; 27: “Jesus interrogou a seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens que eu sou? E eles disseram: Dizem que é João Batista, outros que é Elias; e outros, um dos profetas”.
Nestas duas passagens, não podiam estar se referindo à ressurreição, mas sim à reencarnação, pois a ressurreição traria João, ou outros dos profetas, com o mesmo corpo de antigamente. E Jesus tinha nascido, seus pais eram conhecidos, e portanto, não poderia ser a ressurreição de nenhum deles. Mas sim, a reencarnação. O que falavam as pessoas, o rei Herodes e os discípulos demonstra a confusão entre ressurreição e reencarnação, mas deixa claro que a crença na volta do Espírito à vida era conhecida, mas não compreendida.
Em João, IX; 1 a 41: “Jesus viu um cego de nascença, e seus discípulos lhe perguntaram: Rabi, quem pecou para que esse homem nascesse cego, ele ou seus pais? Jesus então lhes disse: Nem ele pecou, nem seus pais, mas foi assim para que se manifestasse nele as obras de Deus”.
Passagem que demonstra mais claramente ainda que os discípulos e Jesus conversavam sobre a reencarnação.  A pergunta dos apóstolos sobre quem teria pecado para que aquele homem nascesse assim nos indica que havia uma dúvida sobre o processo reencarnatório. E mais, se o cego era de nascença, como ele poderia ter pecado, senão em outra vida?
E Jesus, então, ensina que não se tratava de uma expiação, ou seja, do pagamento de um erro de outras vidas; mas que aquela situação era uma prova por qual passava o Espírito, e que teria fim com o “milagre” de Jesus. Falaremos mais sobre provas e expiações no item “Lei de Causa e Efeito”.

Evolução moral e intelectual dos espíritos
Explica-nos a Doutrina Espírita que muitos são os níveis de evolução dos Espíritos. Cada Espírito escolhe o caminho que deseja seguir, seja no bem ou no mal; no estudo ou na ignorância, até que todos possam atingir o progresso.
A Doutrina nos ensina que devido a esta diferença de evolução existem milhares de mundos materiais que têm vida, e que eles estão divididos em cinco categorias. Os Espíritos encarnados habitam os mesmos, dependendo de sua condição moral/intelectual.

Esses mundos são:
· Primitivos: onde a ignorância é quase que total. Como exemplo, podemos citar a época dos homens das cavernas;
· De Provas e Expiações: similar à Terra, onde a ignorância, o mal, ainda superam o bem, embora a tecnologia e a inteligência estejam bem desenvolvidas;
· De Regeneração: próximo estágio do nosso planeta, onde o bem, a compreensão, superarão a ignorância;
· Felizes: orbes em que praticamente a ignorância inexiste, e as pessoas vivem para o bem da sociedade, buscando um progresso em conjunto;
· Divinos: locais onde só existe o entendimento das Leis divinas, não havendo lugar para o mal.
Para passar de um mundo para o outro, são necessários milhares de anos de dedicação e muitas vezes de sofrimento por parte dos Espíritos encarnados. Porém, o fim sempre será a evolução material e espiritual do planeta.
E nesse processo evolutivo, há diversidades de estágios dentro de cada mundo, embora não sejam muito grandes.
Na Terra, por exemplo, vemos diferenças de atitudes nas pessoas, mostrando uma escala de adiantamento espiritual. Mas, todos ainda estamos limitados a uma condição: a ignorância supera a compreensão.
Jesus comenta sobre esta diversidade na conhecida "Parábola do Semeador", que está em Mateus, XIII; 4 a 9:  “Eis que o semeador saiu a semear. E quando semeava, uma parte caiu ao pé do caminho, e vieram as aves, e comeram-na. E outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda. Mas vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, e sufocaram-na. E outra caiu em boa terra, e deu fruto, um a cem, outro a sessenta e outro a trinta”.
O semeador da Parábola é Jesus. As sementes, seus ensinos. A parte que caiu ao pé do caminho simboliza as pessoas que escutam a palavra de Deus mas as desdenham, buscando apenas os interesses materiais, simbolizados pelas aves.
A parte dos pedregais simboliza as pessoas que escutam a palavra de Deus e ficam incentivadas a segui-las. No entanto, vão “com muita sede ao pote”, criando uma fé cega, sem bases racionais. Assim, não criam raízes. E quando vêm os problemas a que todos estamos sujeitos, simbolizados pelo sol, revoltam-se contra Deus, porque não compreendiam verdadeiramente seus ensinos.
A outra parte fala dos que escutam a palavra dos Evangelhos, até as acham importantes, mas as preocupações com o dinheiro e o poder, simbolizadas pelos espinhos, sufocam qualquer iniciativa de buscar a compreensão espiritual.
Por fim, a parte que caiu em terra boa fala das pessoas que escutam os ensinos e procuram praticá-los, visando um entendimento dos porquês da vida e da prática do bem ao próximo. Mas diz Jesus que até entre esses haverá diferenças, pois todos temos nossos limites. E a capacidade de praticar o bem difere de pessoa para pessoa.
Assim, caberá a cada um de nós escolhermos qual estágio gostaríamos de estar. Pois a semeadura de Jesus já está aí há mais de 2000 anos. Colhê-la ou não será uma escolha particular.

A Lei de Causa e Efeito
Tudo o que fizermos ao próximo, de bem ou mal, retornará para nós. É a chamada Lei de Ação e Reação, plantio e colheita. Tem um exemplo na Lei da Física, explicada por Newton, onde toda ação tem uma reação contrária, de mesma intensidade e sentido oposto.
Nosso mundo é de segunda categoria, classificado como de Provas e Expiações.
As expiações são a colheita nesta ou nas próximas existências do erro que tenhamos praticado em outras vidas. Não é um castigo, pois Deus não castiga. É sim a oportunidade de compreendermos nossos atos indevidos, sofrendo em nós mesmos o que fizemos outro sofrer. Com isso, nosso espírito absorve a experiência, a terá a tendência de não mais praticá-lo.
Jesus fala da Expiação na passagem onde ocorre sua prisão, que está em Mateus, XXVI; 52: “Então, disse Jesus a Pedro: Mete no seu lugar a tua espada: porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão”.
Nesta passagem, o apóstolo Pedro tentava defender Jesus, ameaçando um guarda com uma espada. E até neste difícil momento, Jesus aproveitou para nos ensinar o quanto devemos pensar antes de agir. Caso contrário, não poderemos reclamar do que nos espera no futuro.
As provas são as situações que ocorrem em nossa vida para ajudar-nos a desenvolvermos a paciência, a inteligência, a humildade e a perseverança. Não têm nada a ver com atos cometidos em outras vidas. Deus as coloca em nosso caminho com o intuito de nos incentivar no desenvolvimento de nossos sentimentos e habilidades, fazendo-nos ter “jogo de cintura” e sensatez frente aos percalços da vida.



OS LIVROS DA CODIFICAÇÃO




O conteúdo das obras publicadas por Allan Kardec expõem e consolidam os princípios e os elementos constitutivos da Doutrina Espírita, em sua totalidade, segundo o ensino dos Espíritos, sistematizados pelo codificador. Representam um patrimônio ético, científico e filosófico de valor incalculável, pois traduz o esforço concentrado de uma imensa falange de Espíritos sábios e bons, que sob a assistência amorosa de Jesus acompanharam o trabalho incansável de Allan Kardec.
Constituem-se, na realidade, o alicerce insuperável, através do qual informações outras, de autores recentes, vão sendo paulatinamente assimiladas.
Emmanuel, examinando a grandiosidade das obras básicas do Codificador assevera: "Após dezenove séculos de teologia arbitrária, não chegaríamos a compreender o Evangelho e Jesus Cristo, sem Allan Kardec."
As obras básicas da Codificação são as seguintes por ordem cronológica de edição:
1.  O Livro dos Espíritos - 18 de abril de 1857
2.  O Livro dos Médiuns - janeiro de 1861
3.  O Evangelho Segundo o Espiritismo - abril de 1864
4.  O Céu e o Inferno - 1865
5.  A Gênese, os milagres e as predições - janeiro de 1868
No ano de 1890, P.G. Leymarie publica o livro Obras Póstumas, contendo artigos de Kardec ainda não conhecidos do público.
Relacionamos, a seguir, todas as obras de Kardec:

#
Ano
Título
Descrição
1
1857
O Livro dos Espíritos
Esta obra traz os fundamentos do Espiritismo e expõe, através de respostas dadas por espíritos superiores, a síntese de uma nova filosofia espiritualista. Em sua primeira edição, estava dividida em 3 partes, contendo 501 perguntas. Em sua segunda edição, de 1860, já aparecia dividida em 4 partes, contendo as atuais 1018 questões.
2
1858
Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - Vol. I
Publicação mensal composta de artigos e comunicações obtidas, principalmente, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Veja a definição deste periódico nas palavras do próprio Kardec: "O relato das manifestações materiais ou inteligentes dos Espíritos, aparições, evocações, etc, bem como todas as notícias relativas ao Espiritismo. - O ensino dos Espíritos sobre as coisas do mundo visível e do invisível; sobre as ciências, a moral, a imortalidade da alma, a natureza do homem e o seu futuro. - A história do Espiritismo na antiguidade; suas relações com o magnetismo e com o sonambulismo; a explicação das lendas e das crenças populares, da mitologia de todos os povos, etc..." .
3
1858
Instrução Prática sobre as Manifestações Espíritas
Obra contendo diretrizes básicas para a prática da mediunidade.
4
1859
Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - Vol. II
Vide item 2 acima.
5
1859
O que é o Espiritismo
Pequeno livro que traz os princípios básicos do Espiritismo.
6
1860
Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - Vol. III
Vide item 2 acima.
7
1860
Carta sobre o Espiritismo
Em resposta a um artigo publicado na Gazeta de Lyon.
8
1861
Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - Vol. IV
Vide item 2 acima.
9
1861
O Livro dos Médiuns
Trata da mediunidade, em seus aspectos teórico e experimental. Considerado o livro científico da doutrina espírita.
10
1862
Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - Vol. V
Vide item 2 acima.
11
1862
O Espiritismo em sua Expressão mais Simples
Pequeno livro para iniciantes no estudo doutrinário.
12
1862
Viagem Espírita em 1862
Contém diversos discursos feitos por Kardec ao iniciante movimento espírita da França, quando ele percorreu suas principais cidades. É o registro da viagem que ele realizou a partir de 1860.
13
1862
Resposta à Mensagem dos Espíritas Lioneses por ocasião do Ano Novo
Opósculo que Kardec dirigiu ao movimento espírita de Lyon, sua cidade natal.
14
1863
Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - Vol. VI
Vide item 2 acima.
15
1864
Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - Vol. VII
Vide item 2 acima.
16
1864
Resumo da Lei dos Fenômenos Espíritas
Livrete voltado aos iniciantes do Espiritismo.
17
1864
O Evangelho Segundo o Espiritismo
Trata da parte ético-moral da Doutrina Espírita, trazendo uma nova interpretação do Evangelho de Jesus de Nazaré, analisado à luz do Espiritismo. Em sua primeira edição, chamava-se "Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo", adquirindo o nome definitivo a partir da segunda edição de 1865.
18
1865
Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - Vol. VIII
Vide item 2 acima.
19
1865
Coleção de Composições Inéditas
Pequeno livro que contém trechos de "O Evangelho Segundo o Espiritismo".
20
1865
O Céu e o Inferno, ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo
"As penas e gozos segundo o Espiritismo". É um detalhamento da quarta parte de "O Livro dos Espíritos". Traz o aprofundamento de alguns conceitos cristãos, segundo a ótica espírita: A vida após a morte, o Céu, o Inferno, o Purgatório e a Justiça Divina.
21
1865
Coleção de Preces Espíritas
Obra feita a partir de trechos de "O Evangelho Segundo o Espiritismo".
22
1866
Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - Vol. IX
Vide item 2 acima.
23
1867
Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - Vol. X
Vide item 2 acima.
24
1867
Estudo acerca da Poesia Medianímica
Coletânea de poesias recebidas pelo médium Vavasseur, em que Kardec coloca seus comentários e interpretações.
25
1868
Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - Vol. XI
Vide item 2 acima.
26
1868
Caracteres da Revelação Espírita
Obra que contém trechos extraídos da Revista Espírita.
27
1868
A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo
Obra de caráter científico e filosófico, é dividida em 2 partes: A primeira, detalha a criação tanto material quanto orgânica e espiritual; a segunda parte trata de Jesus, dos milagres e das predições.


O LIVRO DOS ESPÍRITOS

A primeira obra publicada por Kardec é, na essência, um tratado de perguntas e respostas de caráter filosófico. Em 1019 itens, o Codificador apresenta os princípios basilares da Doutrina que, posteriormente, serão desenvolvidos nos outros livros.
Na primeira parte: o autor estuda as causas primárias, Deus, o espírito e a matéria. O princípio vital e da criação.
Na parte segunda: o Mundo dos Espíritos; a encarnação, a desencarnação, a missão e ocupação dos Espíritos e seu inter-relacionamento com os homens.
A terceira parte tem um caráter eminentemente moral, pois Kardec vai examinar a Lei Natural, subdividida em dez Leis Morais que regem as relações humanas: Adoração, Trabalho, Reprodução, Conservação, Destruição, Sociedade, Progresso, Igualdade, Liberdade e Justiça, Amor e Caridade.
Na última parte, o codificador se preocupa com as Esperanças e Consolações e a Lei de Causa e Efeito.

 O LIVRO DOS MÉDIUNS

O segundo livro, por ordem cronológica de lançamento, no seu frontispício, apresenta o subtítulo: "Guia dos Médiuns e dos Evocadores" e resume o seu conteúdo assim: "Ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os tropeços que se podem encontrar na prática do Espiritismo."
O Livro dos Médiuns é considerado, ainda hoje, como o mais completo tratado de fenomenologia paranormal de todos os tempos, e, por esse motivo, é de leitura obrigatória a todos aqueles que trabalham na área mediúnica.

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Publicado em abril de 1864. Enquanto o Livro dos Espíritos apresenta a Filosofia Espírita, O Livro dos Médiuns a Ciência Espírita, O Evangelho Segundo o Espiritismo oferece a base e o roteiro da Religião Espírita.
Com esta obra, o Espiritismo vai assumir um caráter nitidamente religioso, pois Kardec se propõe a examinar cuidadosamente as diversas palavras do Cristo e as passagens mais significativas do Novo Testamento, no seu aspecto moral.
Em sua folha de rosto, lê-se a síntese de seu conteúdo: "A explicação da máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida."
O seu estudo se desdobra em 28 capítulos de rara beleza e de profunda sabedoria.

 

CÉU E O INFERNO

Este quarto livro tem como subtítulo "A Justiça Divina segundo o Espiritismo."
Na primeira parte: Céu, Inferno, Anjos e Demônios, e a Lei de Ação e Reação mostrando as inúmeras nuanças que cercam este princípio universal.
Na segunda parte, apresenta o Codificador mensagens de Espíritos desencarnados que se comunicaram na Sociedade Espírita de Paris.

 

A GÊNESE, OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO

Um ano antes de sua morte, Allan Kardec publicou seu último grande livro. Cabia-lhe interpretar o Antigo e o Novo Testamento segundo a ciência espírita. Nas primeiras linhas da introdução, escreveu: "A nova obra constitui mais um passo à frente, nas consequências e nas aplicações do Espiritismo; tem por fim o estudo de três pontos que foram até hoje, diversamente interpretados e comentados: A Gênese, os Milagres de Jesus e as predições encontradas nos Evangelhos."



O LIVRO DOS ESPÍRITOS




ESTRUTURA E SENTIDO DE "O LIVRO DOS ESPÍRITOS"
 “Substituir as obras fundamentais por outras, psicografadas ou não, é um inconveniente que se deve evitar. O aprendizado doutrinário requer unidade e sequência, para que se possa alcançar uma visão global da Doutrina. Precisamos nos convencer desta realidade que nem todos alcançam: Espiritismo é Kardec, porque foi ele o estruturador da Doutrina, permanentemente assistido pelo Espírito da Verdade. Todos os demais livros espíritas, mediúnicos ou não, são subsidiários. Estudar, por exemplo, uma obra de Emmanuel ou André Luiz sem relacioná-las com as obras de Kardec, a pretexto de que esses autores espirituais superaram o Mestre (cujas obras ainda não conhecemos suficientemente) é demonstrar falta de compreensão do sentido e da natureza da Doutrina. Esses e outros autores respeitáveis dão sua contribuição para nossa maior compreensão de Kardec. Não podem substituí-lo. É bom lembrar a regra do consenso universal, segundo a qual nenhum espírito ou criatura humana dispõe sozinho, por si mesmo, de recursos e conhecimentos para nos fazerem revelações pessoais. Esse tipo de revelações pertence ao passado, aos tempos anteriores do advento da Doutrina.”
Essas, as judiciosas considerações do jornalista, filósofo, escritor e professor José Herculano Pires, um dos mais lúcidos e íntegros defensores da Codificação Kardequiana, contidas na sua obra "O espírito e o tempo".
Este trabalho é uma apreciação sintética de "O Livro dos Espíritos", com objetivo de proporcionar uma visão preliminar e predispor psicológica e intelectualmente, aqueles que procuram conhecer a Doutrina Espírita, bem como aqueles que penetram nas suas fileiras sem um conhecimento básico de seus postulados.

Visão de "O Livro dos Espíritos" no contexto doutrinário.
Como é visto "O Livro dos Espíritos" no contexto doutrinário do Espiritismo?
"O Livro dos Espíritos" não é apenas a pedra fundamental ou marco inicial da Codificação. Além disso, ele é o próprio delineamento, o núcleo central e ao mesmo tempo o arcabouço geral da Doutrina. É o tratado filosófico do Espiritismo. Examinado "O Livro dos Espíritos", em relação às demais obras de Allan Kardec, que complementam a Codificação, verificamos que todas essas obras partem do seu conteúdo.

Significação do seu aparecimento para o mundo.
Qual a significação que se pode atribuir ao aparecimento de "O Livro dos Espíritos" no mundo?
A publicação de "O Livro dos Espíritos" é um marco importante no desenvolvimento da humanidade. O livro é, ainda, subestimado na cultura atual. Entretanto, desde seu lançamento em 18 de abril de 1857, desencadeou um processo de mutação no pensamento de milhões de pessoas.

Escopo doutrinário apresentado.
Qual a natureza do corpo doutrinário apresentado em "O Livro dos Espíritos"?
Com a publicação de "O Livro dos Espíritos" em Paris, Allan Kardec começava a criar um corpo de doutrina com o nome de Espiritismo. Essa doutrina tem por base uma série de princípios que pertencem ao patrimônio da Humanidade, tais como: experiências, conhecimentos, aspirações e esperanças.

Metodologia utilizada na sua formulação.
Qual a metodologia utilizada na apresentação de "O Livro dos Espíritos"?
O Espiritismo adota o método cultural, ou seja, a análise e a síntese. Vê os fenômenos em si mesmos e no contexto a que pertencem. Daí o seu corpo doutrinário se caracterizar por uma visão global, uma cosmovisão. A Doutrina não exclui nenhuma área do conhecimento. O método cultural adotado pelo Espiritismo não é apenas cientifico. As ciências materiais são fragmentárias e esmiúçam os fenômenos, às vezes se perdendo nos detalhes. O Espiritismo é global e entrosa os fenômenos em si mesmos e no contexto a que pertencem.

Aspecto inédito da obra
"O Livro dos Espíritos" apresenta algum aspecto inédito?
"O Livro dos Espíritos" introduziu no mundo dois aspectos inéditos. O primeiro é que o conteúdo doutrinário, filosófico, foi formulado a partir de ditados de Espíritos, entidades humanas participantes de uma realidade extracorpórea, através de pessoas sensitivas, os médiuns. É pois, uma visão dos problemas do homem e do mundo, enfocada por Inteligências temporariamente desvinculadas dos horizontes corporais, mas, dentro das aspirações humanas. Além disso, essa contribuição não se constitui numa “revelação religiosa”, que “implica em passividade absoluta e é aceita sem verificação, sem exame, nem discussão”. Antes, a revelação espírita se caracterizava por ser “divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem”. Essa característica é de importância fundamental, porque o Espiritismo se empenha em provar a inexistência do sobrenatural, mostrando que os fenômenos do Espírito, a origem da vida nada tem que não possa ser explicado pela lei natural.
Um segundo aspecto, contingente ao primeiro, é que a interpretação espírita, destacando-se da generosa gama de concepções espiritualistas, assume posições específicas que, ao mesmo tempo combate o racionalismo materialista e dá consistência aos argumentos espiritualistas.

Ausência do sentido místico no seu conteúdo
Existe alguma conotação mística no conteúdo de "O Livro dos Espíritos"?
Allan Kardec, na condução de seu trabalho, procurou retirar do Espiritismo toda a conotação mística, de mera crença. Ele fez uma doutrina equilibradamente racional, que não menosprezasse o esforço intelectual e a busca incessante da verdade, nem desprezasse o aspecto afetivo que preside o comportamento humano. Foi uma estruturação isenta de sectarismo, que encarava tanto o mundo físico quanto o mundo extrafísico, cuja existência constatou-se experimentalmente, como participantes de uma mesma realidade e como tal, não merecem nem o medo, nem a excitação que geralmente caracterizam essa relação ancestral, entre o que se considera “conhecido” e o “desconhecido”.

Seus princípios não são apresentados como algo acabado, definitivo
"O Livro dos Espíritos" apresenta seus princípios como algo acabado, definitivo?
O espiritismo é uma proposta equilibrada entre os extremismos místicos e materialistas. Ele os supera dialeticamente, transcendendo-os, buscando a síntese. Como tal, propõe uma visão dinâmica do processo da vida, sem contudo, apresentar um quadro acabado, final. Ao contrário. Coloca como definitivo apenas princípios básicos, permitindo que o pensamento e a pesquisa se ampliem através do tempo, conforme a ciência e o conhecimento cresçam. Isto é, o Espiritismo não se aventura a formular hipóteses desvinculadas das possibilidades do entendimento humano, porque isso só serve para manter o homem ignorante, confuso, exigindo dele uma crença irracional.
As características marcantes de "O Livro dos Espíritos" são:
1- rejeitar tanto o dogmatismo religioso quanto o cientificismo e propor uma fusão experimental de ideias e conceitos, que reavaliam o homem e o mundo;
2- expõe, com simplicidade, mas sem a ingenuidade dos livros santos, os pontos essenciais para a criação de uma nova sociedade;
3- estimula a prática da moral evangélica, que adota como norma, expungindo-a, todavia, de seus contornos obscurantistas, moralistas e liberta-a no ritual religioso;
4- restabelece a crença em Deus, sem incorrer no erro de defini-lo, mas provando sua existência pelas leis que regem a vida dos seres e das coisas;
5- descreve a vida do Espírito como uma realidade atemporal, por isso imortal, permanente e explica como esse ser inteligente pode progredir sempre, nascendo e renascendo;
6- mostra que a coletividade terrena pertence a uma humanidade espiritual que habita alternadamente o plano físico a que pelo nascimento e o plano extrafísico em que penetra pela morte, volvendo, depois ao campo físico, no processo reencarnacionista, em espiral evolutiva permanente e que essa humanidade, visível e invisível se entrelaça, interage e se comunica pelas vias mentais, extensivamente, pela mediunidade ostensiva ou não;
7- aponta a Esperança, fundamentada em bases concretas sobre o destino de cada homem e das coletividades, reconhecendo que deverão encontrar, pelo próprio esforço, no tempo e no espaço, o seu próprio caminho, mostrando que somente a moralização é capaz de indicar esse caminho de forma definida.

A missão de Allan Kardec em relação à obra
O título da obra, isto é, "O Livro dos Espíritos", induz à ideia de que a Doutrina que ele contém é de autoria dos Espíritos. Nesse caso, como interpretar a missão de Allan Kardec?
O que Allan Kardec fez foi reorganizar, reavaliar princípios que têm resistido, mesmo envoltos em nebulosidade e olhados de maneira não raro supersticiosa, às mudanças constantes a que se tem submetido a sociedade. Apoiando-se na copiosa informação de que obteve no plano extrafísico, viu que era tempo de criar uma concepção abrangente sem o emaranhado das hipóteses especulativas, mas com base experimental, lógica, racional, capaz de “enfrentar a razão em qualquer época da humanidade”. Essa concepção tornou-se, justificadamente, uma síntese em que se unem a ciência, a filosofia e a moral. Allan Kardec conseguiu dar um tom de impessoalidade ao seu trabalho que, sendo seu, é desses em que o autor não se projeta além das ideais.

Sua posição na esfera da ciência
Qual o efeito de "O Livro dos Espíritos" na esfera da ciência?
A partir do aparecimento de "O Livro dos Espíritos", os fenômenos espíritas, chamados de paranormais ou parapsicológicos ou outro nome qualquer, passaram ao nível das preocupações da ciência, num momento crucial da humanidade. Á procura de algo além do organismo ou a tentativa de compreender a ação da psique humana, leva invariavelmente à questão fundamental: a existência dos Espíritos.

Sua posição em relação às experiências psíquicas e a área filosófica
"O Livro dos Espíritos" apresenta um roteiro de experiências psíquicas ou se atém a um embasamento filosófico?
"O Livro dos Espíritos", como muitos poderiam esperar, não é um manual para experiências psíquicas, o que foi deixado, por Allan Kardec, para "O Livro dos Médiuns", o mais importante e completo tratado sobre fenomenologia mediúnica e anímica. A Doutrina Espírita começou pelo seu aspecto filosófico e moral, caracterizando-se por uma proposta que conduz a uma vivência dinâmica, baseada em fatores imortais e evolucionistas, cuidando não apenas de tentar o equacionamento das causas primárias, mas, também, em fixar-se na análise do aqui e do agora, dentro de um sentido de abrangência realmente objetivo.
O Espiritismo é uma filosofia do espírito, que parte da essência espiritual para explicar a existência material.

Como pode ser avaliado face as grandes transformações sociais
Como se pode avaliar "O Livro dos Espíritos" face às grandes transformações sociais?
"O Livro dos Espíritos" é a base da Doutrina Espírita. Ele é um livro-síntese, vasado em termos tais que, embora lançando num momento muito conturbado da evolução do pensamento humano, pode resistir às profundas modificações do quadro das opções da sociedade. Basta anotar que atravessou, incólume, as mudanças radicais decorrentes de duas grandes guerras mundiais, várias guerras na Europa, a instauração do movimento operário no mundo, a criação do primeiro estado socialista, o avanço sem precedentes da tecnologia e o fracasso das religiões.

Sua integridade diante das mais significativas mudanças sociais
Por que "O Livro dos Espíritos" manteve sua integridade diante das mais significativas transformações sociais?
A obra consegue manter-se ilesa, porque quem quer que se debruce a estudar "O Livro dos Espíritos", verificará que suas colocações são atualíssimas e enfocadas sob prismas que, em muitos casos, antecedem de um século a muitas das reivindicações e conquistas da atualidade.

Aspectos mais relevantes na sua análise
Quais os aspectos mais relevantes quando se analisa "O Livro dos Espíritos"?
Se analisarmos a estrutura de "O Livro dos Espíritos", verificaremos de pronto o gênio do Codificador. Se as respostas dadas pelos Espíritos surpreendem pela clareza e , via de regra pela abrangência, destaca-se a sapiência de Allan Kardec como formulador das questões, como organizador das matérias, como comentarista que une, esclarece e torna coerente, o fluxo de informações que flui pela mediunidade. Allan Kardec conseguiu reunir 1.018 questões do livro, os mais relevantes e inquietantes temas que o gênero humano enfrenta. Estão reunidas ali questões primárias, como as que cuidam dos problemas do relacionamento familiar, político, social, psicológico, filosófico e moral do homem.
O livro é dividido em 4 partes:
1) Causas primárias;
2) O mundo espírita ou dos espíritos;
3) Leis morais;
4) Esperanças e consolações.
Essa divisão didática reflete também um fato interessante. Das 1.018 questões que constituem as 4 partes, sem considerar a Introdução, a Conclusão e os Prolegômenos, há 85 dedicadas a temas transcendentais, cujo equacionamento é, por sua natureza, muito subjetivo, como as Causa Primária, Esperanças e Consolações e 347 tratam de assuntos mais diretamente ligados à realidade, passiveis de serem testados, comprovados e vividos imediatamente, tais como a vida terrena, a morte, a existência do mundo espiritual, a reencarnação, a influência dos Espíritos sobre os homens, a emancipação da alma e todas as questões de ordem política, econômica e social.
Tudo isso mostra que não é um livro alienado. Ao contrario, é um compêndio de moral, elaborado dentro de uma dinâmica capaz de suportar a pressão da inteligência sem concessões, mas também sem estreitar-se na visão unilateral dos assuntos. Como livro-embrião, deveria propor as linhas mestras do pensamento doutrinário.

Técnica usada na sua redação
Como avaliar a técnica usada na redação de "O Livro dos Espíritos"?
Allan Kardec pelo processo de perguntas e respostas, muito próximo da dialética socrática, a maiêutica, pois as questões respondidas suscitam outras tantas questões e assim os temas são esclarecidos, ampliados, tornados consistentes. Isso concorreu para a popularidade do Livro, porque colocou o ao alcance de todos, em linguagem acessível e, sem banalizar ou vulgarizar, conseguiu um elevado poder de comunicação.
Fosse um texto compacto, uma obra puramente científica ou um compêndio filosófico ortodoxo, seria interdita ao homem comum, ao entendimento do estudioso não afeito à terminologia e às colocações acadêmicas. Essa forma de tratar assuntos tão profundos e sérios revelou-se extremamente prática e didática.
A consulta tornou-se fácil e o estudo modular, podendo ser feito dentro de um ritmo adequado, em sequências diversas. Por fim, a técnica de redação, escorreita, direta, sem figuras, filigranas literárias e fabulações, livra-nos da pregação enfática, própria de reveladores e profetas.

Seu surgimento não foi um ato preconcebido
"O Livro dos Espíritos" surgiu preconcebidamente?
O livro dos espíritas não nasceu preconcebidamente. Decorreu da observação. Allan Kardec não elaborou a teoria a priori; ele aplicou método experimental, isto é, observou os fatos, comparou, buscou explicações e, como afirma, não admitindo como válida uma explicação senão quando resolvida todas as dificuldades da questão, o Codificador partiu de uma atitude extremamente realista. Considerou que os espíritos não eram infalíveis e que a opinião deles tinha um valor de opinião pessoal. Cada um desvendava uma face do mundo espiritual. Ele coordenou essas informações de modo a formar um conjunto, colecionando documentos que lhe chegavam de várias partes, através de médiuns diferentes.
A parte principal foi comunicada através de médiuns muito jovens, meninas de 13 e 15 anos, as senhoritas coco Baudin e Janet, com quem revisou texto, ponto por ponto.

Sua fundamentação científica
Os princípios básicos de "O Livro dos Espíritos" tem fundamentação científica?
Allan Kardec iniciou o Espiritismo dentro do princípio básico da concordância universal, que é um critério científico, destinada a comparar as opiniões obtidas por médiuns diferentes, em lugares distintos, para assegurar o caráter não-particular de cada uma delas. Sua regra básica era observar, comparar e julgar e, com isso, pode colocar-se diante de seus interlocutores espirituais como “houvera feito com os homens”, isto é, “para mim”, dizia ele, “eles foram do menor ao maior, meio de me informar e não reveladores predestinados”.

E sua abertura às pesquisas
"O Livro dos Espíritos" oferece a abertura às pesquisas?
Introduzindo uma nova concepção de vida, "O Livro dos Espíritos", está aberto às pesquisas, à procura de novos horizontes para o Espírito. Muitas questões são colocadas em aberto, evitando o Codificador à forma autoritária, a ordenação inquestionável. Fez obra capaz de enfrentar o tempo, porque estava consciente que lançava os fundamentos de uma nova ordem de ideias. Colocando o Espiritismo como uma espécie de retaguarda das concepções filosóficas e morais, um elemento intermediário, que sem negar a religião, não se comprometia com ela evitando que a doutrina se transformasse num culto, ou igreja. Esse ponto de equilíbrio não foi ainda suficientemente compreendido.

A diferença entre o Espiritismo e Espiritualismo
"O Livro dos Espíritos" colocou, de forma específica, a diferença entre Espiritualismo e Espiritismo?
Coube-lhe a árdua tarefa, tênue como fio de navalha, de separar as nuances entre o Espiritualismo e o Espiritismo. O espiritualismo é uma ampla coxa de retalhos, poliforme e policromática, onde convivem, sob o mesmo princípio comum da crença na existência de “algo” além da matéria, várias correntes de ideias que não se já ajustam entre si.
Como, sem desligar o Espiritismo de suas bases espiritualistas fazê-lo entendido? Como falar do mesmo princípio, mas com sentido próprio específico, determinado? Não podia deixar as novas ideias serem sufocadas por um emanharado de meias-verdades e pelo sentido dúbio de certas palavras.

O porquê da adoção de neologismo na sua contextura
Como explicar a adoção de neologismo em "O Livro dos Espíritos", obra de caráter científico-filosófico-religioso?
Um tropeço tem sido sempre, as palavras. Estas, com um tempo, ganham conotação definida, que supera o aspecto semântico, carregando-se de uma carga afetiva específica. Sendo Espiritismo uma revisão de conceitos antigos tem, muitas vezes, de usar palavras que, devido ao significado já consagrado, não atendem, exatamente, ao que se pretende dizer. Kardec inicia "O Livro dos Espíritos", criando as palavras Espiritismo e espírita porque sentiu que a Doutrina veio dizer, margeia tanto as explicações místicas, quanto científicas e Filosóficas. Daí, a procura de uma linguagem adequada para exprimir a proposta doutrinária com fidelidade e equilíbrio.

A análise de sua estrutura conceitual na cultura geral
No contexto cultural, como pode ser analisada estrutura conceitual de "O Livro dos Espíritos"?
O Espiritismo é uma revolução conceitual, uma revelação diferente, a começar por não ter um revelador. Foi concebido sem transes mediúnicos espetaculares, ou sonhos proféticos. Decorreu da relação tranquila, sob certos aspectos fria, entre homem de cultura universitária, cientificamente embasado, com critérios pessoais de análise bem desenvolvidos, e espíritos, pessoas vivas, mas “mortas”, desencarnadas, pertencentes ao plano extrafísico, utilizando um veículo de comunicação natural, a mediunidade.
Pela primeira vez, a experiência de homens e mulheres que tinham habitado terra, em múltiplas oportunidades, era aproveitada, através do uso científico do fenômeno mediúnico. Enquanto a “dança das mesas” fascinava os salões, entretinha os frívolos, o professor Rivail construiu uma ponte de ligação, abriu um canal de comunicação capaz de trazer uma bagagem conceitual rica e decisiva.

Participação de espíritos de graus diversos na sua formulação
Como é vista e avaliada a participação de espíritos de graus diversos, do diálogo a que foram submetidos por Allan Kardec?
A importância dessa comparação não pode ser desprezada. Allan Kardec submeteu os espíritos inferiores e superiores, a uma sabatina, a um debate dialético e o fez se deslumbramento. Pela primeira vez os espíritos foram tratados como pessoas, como criaturas humanas, falíveis, de experiência e evolução diferentes. Essa fabulosa reserva de experiência, de informações, foi aproveitada pelo professor Rivail de maneira inteligente, ordenada, sistemática. Dessa visão de extremo equilíbrio que surgiu "O Livro dos Espíritos", com suas características marcantes.

Seu enfoque sobre as leis morais
"O Livro dos Espíritos" tem enfoque das leis morais?
Os capítulos que "O Livro dos Espíritos" dedica às leis morais são um tratado de Política e Sociologia, analisando, a cada passo, a realidade individual e coletiva acerca de questões como o trabalho e do repouso, o sexo, família e o controle da natalidade. O estudo abrange questões econômicas cruciais num mundo faminto e ao mesmo tempo de desperdícios, analisando o equilíbrio ecológico e psicológico, o necessário supérfluo, com posições que ainda hoje se mostram avançadas.
A violência desde o nível individual até as guerras, a pena de morte, a tortura, a crueldade, são passadas em revista, com enfoques surpreendentes.
A explosiva questão da igualdade é tratada sem precipitação, dentro de uma ótica realista, porém de caráter essencial em que se fundamenta a teoria do Espiritismo, vendo o homem como ser multivivenciado, mas não omitindo ou alienando-se da realidade humana do aqui e do agora.
No que toca à liberdade, o Espiritismo é absolutamente tranquilo, porque, segundo seus princípios, não existe condição para o real crescimento do indivíduo, sem um exercício de sua liberdade. Basta citar que, quando ainda em muitos países, inclusive, o Brasil, a escravatura era legal, a sua posição contrária é clara.
A cerca da questão da propriedade, do patrimônio, não condena a propriedade, desde que seja legítima, e aceita acumulação de bens desde que seja “em família”, isto é, para fins sociais. Estabelece como “legítima”, a propriedade que tenha sido adquirida sem prejuízo de ninguém. Essa assertiva leva à reflexão sobre o que é “não prejudicar ninguém”, envolvendo salários, distribuição de renda e oportunidades, fortunas, negócios que crescem à custa da fome, do desconforto e da negligência com os legítimos valores humanos, a que não escapam nem mesmo a herança.

Seu principal impacto
Qual a principal impacto de "O Livro dos Espíritos"?
O impacto de "O Livro dos Espíritos" foi um contra-impacto do mundo espiritual para fazer recuar nos devidos limites a onda materialista. A educação do homem, subitamente ameaçada pela negação dos valores espirituais, pôde então retomar o seu rumo. O Espiritismo preenchia o abismo aberto pelo Materialismo entre os dois hemisférios do conhecimento: a Ciência e a Religião.
A filosofia, transformada pela Idade Média em serva da teologia, esvaziara-se diante das descobertas científicas do século XXVIII. Esse esvaziamento, que se evidenciava no Positivismo, no Pragmatismo e em outras correntes do pensamento prático, atingiria sua maior dimensão e profundidade com o desenvolvimento do Marxismo. "O Livro dos Espíritos", apresentando uma nova concepção do homem e do mundo, permitia o restabelecimento da unidade cultural. O processo da cultura retomava assim o fio perdido.

Sua visão na área da educação
Como se pode analisar "O Livro dos Espíritos" face à educação?
A primeira característica de "O Livro dos Espíritos", nem sempre percebida, é a forma didática. Não fosse Allan Kardec um pedagogo, habituado à disciplina Pestalozziana, e os Espíritos do Senhor não teriam conseguido na Terra um tão puro reflexo dos seus pensamentos. Mas a didática de Kardec nessa obra não se limita à técnica de ensinar. É uma didática transcendente, insuflada pelo Espírito. A educação espírita brota desse livro como água da fonte: espontânea e necessária. Logo na introdução temos uma abertura para a compreensão de todo o seu conteúdo e até mesmo da posição de Espiritismo no vasto panorama da cultura terrena, abrangendo as áreas até então conflitiva do Conhecimento e estabelecendo entre elas ligações indispensáveis, já que o conflito entre as áreas culturais era maior obstáculo a compreensão global do homem.
Em "O Livro dos Espíritos" a educação figura como instrumento eficaz de transformação do Mundo, o objetivo essencial do Espiritismo. O mundo em causa não é o planeta em seu aspecto físico, mas o mundo humano, a intrincada rede de relações socioculturais em que vivemos em nossas existências terrenas. E é por isso que a educação se apresenta, como já ocorrera em Sócrates e Platão, como fermento ativo de transformação. O Mundo é o reflexo do homem e só a educação pode transformar o homem.
A dinâmica pedagógica de "O Livro dos Espíritos" teria impedido desvirtuamento da educação através do pragmatismo educacional, se porventura os pedagogos do século XX o tivessem encarado com isenção e os cientistas, na sua maioria, não se tivessem deixado embriagar pelas teorias materialistas.

Seu conceito pedagógico
É justo admitir que a pedagogia espírita é uma consequência natural de "O Livro dos Espíritos"?
A natureza de uma pedagogia, determinada pela sua essência, pelos princípios fundamentais que informam, decorre sempre da Filosofia Geral, explícita ou implícita, que a originou. A pedagogia espírita é a consequência natural e necessária da filosofia espírita exposta em "O Livro dos Espíritos" e portanto explicita em sua formulação doutrinária. Nessa filosofia se encontra a Pedagogia que teremos agora de desenvolver, em função do próprio sistema espírita que já é uma realidade social e cultural concreto.
É preciso entender, nessa fase de transição, de materialismo exacerbado que, em 1857, quando Allan Kardec lançou em Paris "O Livro dos Espíritos" como primeiro fruto de suas pesquisas, ele havia descoberto o espírito, determinada sua forma, sua estrutura, as leis naturais (e não sobrenaturais) que regem a suas relações com a matéria. Podia afirmar, baseada em provas, que a natureza do homem é espiritual e não material, que ele sobrevive a morte, que possui um corpo energético e se submete ao processo de reencarnação para evoluir como Ser, despertando em sucessivas existências suas potencialidades ônticas.
As pesquisas que deram origem a "O Livro dos Espíritos" tiveram início quando, em 1854, Allan Kardec, até então conhecido como professor Denizard Rivail, começou a investigar os fenômenos que havia, seis anos antes, abalados EUA e repercutido intensamente na Europa.
Discípulo de Pestalozzi, o grande pedagogo da época, interessava-se por todos os fenômenos que pudessem dar-lhe conhecimento mais profundo da natureza humana. Partia do princípio de que o objeto da educação é o homem e que por isso Pedagogo tinha por dever aprofundar o conhecimento deste.

Defecção do movimento espírita francês
Quais os fatores que contribuíram para defecção do movimento espírita francês?
A defecção do movimento espírita francês, que ainda durou até a década dos anos vinte deste século e foi desarticulado durante a segunda guerra mundial, deveu-se, entre outros fatores, à pressão dos espiritualistas que, desde cedo, combateram o trabalho de Kardec, inconformados com a logicidade e simplicidade da proposta Kardecista, apegados, em suas várias correntes, às fórmulas, termos e crença especulativa.
Depois do desencarne de Allan Kardec, o movimento espírita francês entrou em declínio, só se evitando colapso total, em curto prazo, devido ao trabalho de homens como Léon Denis, no campo filosófico e Gabriel Delanne, no campo científico. Muito se deve também, neste período, à família Leymarie, Pierre, Madeleine e Raymond, que, sucessivamente, se incumbiram da livraria e da Revista Espírita.

Aspectos do movimento espírita brasileiro
Como avaliar a receptividade de "O Livro dos Espíritos" no movimento espírita brasileiro?
"O Livro dos Espíritos" foi subestimado por muitos dirigentes, ávidos de revelações do mundo extrafísico e renunciado ao elementar princípio da ciência espírita, que é passar pelo crivo da razão toda e qualquer produção mediúnica. Aos poucos, os escritores, pensadores e pesquisadores encarnados foram relegados e os desencarnados elevados à posição de numes tutelares, encaixados dentro da designação genérica de “espiritualidade”. Com isso, as idiossincrasias de indivíduos e pequenos grupos puderam ter livre curso e fundiram-se ideologicamente, criando núcleos com ideias que margeiam a proposta espírita, sem aceitá-la ou entendê-la integralmente. Daí a eleição, de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de livro secundário e complementar, com função específica, em obra principal, não pelo que representa em si mesmo, mas pela oportunidade desenvolver a interpretação dos textos evangélicos, à feição das igrejas reformadas, tão do gosto dos místicos. Com isso, porém, restringiu-se à área de interesse do movimento espírita, abandonando-se seus fundamentos científicos e filosóficos e confundindo-se sua vocação moral, com o moralismo religioso. Por essa porta, aliás, é que penetram as mais elementares deformações dos centros espíritas, transformados em “templos de oração”.



MOVIMENTO ESPÍRITA E DOUTRINA ESPÍRITA





DIFERENÇA ENTRE DOUTRINA ESPÍRITA E MOVIMENTO ESPÍRITA

A Doutrina Espírita se compõe de um conjunto de conhecimentos científicos, filosóficos e morais, além de uma estrutura metodológica. Tem por base o estudo do Espírito e sua comunicação com o homem.
O Movimento Espírita, por outro lado, é o conjunto de ações e interações humanas vinculadas à Doutrina Espírita. Desenvolve-se através de atividades realizadas pelos Centros Espíritas, pelo movimento de unificação, pelas editoras, pelas instituições assistenciais etc.
Embora diferentes entre si, a Doutrina Espírita e o Movimento Espírita estão interligados pelo espírita. É o espírita quem promove o Movimento Espírita, a partir do seu entendimento da Doutrina Espírita (O Espiritismo será o que dele fizerem os seus profitentes - León Denis?). Desse modo, o Movimento Espírita se constitui como meio para explicar e divulgar a Doutrina Espírita e se não houver vinculação à ela, os homens e os Centros Espíritas provocarão a descaracterização do Movimento Espírita.



O CENTRO ESPÍRITA




O QUE É UM CENTRO ESPÍRITA
Existe uma confusão muito grande a respeito do que é ou não é Doutrina Espírita ou Espiritismo. Isto porque há pessoas que não sabem que as palavras “espírita” e “espiritismo” foram criadas em 1857, na França, pelo codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec. Somente deveriam utilizarem-se destes termos os locais religiosos ou pessoas que seguissem os postulados desta doutrina.
Assim, cultos e religiões que de alguma forma têm em suas práticas a comunicação de Espíritos e a crença na reencarnação são confundidas erroneamente com o Espiritismo.
Na verdade, embora mereçam todo o respeito dos espíritas verdadeiros, estas seitas são adeptas do espiritualismo ou esoterismo, e não do Espiritismo.
Todos aqueles que acreditam na existência do Espírito são espiritualistas. Mas nem todos os espiritualistas são espíritas, praticantes do Espiritismo.
Para que uma casa religiosa seja espírita, ela deve seguir os ensinamentos contidos nas Obras Básicas da Doutrina Espírita e no Evangelho de Jesus. Geralmente, os locais espíritas recebem o nome de: Centro, Grupo, Casa, Sociedade, Instituição ou Núcleo Espírita. Deve ser legalmente constituído, de acordo com as leis vigentes no país em que está instalado. Mesmo ostentando este nome, quem os visita necessita estar atento para quais as atividades e as formas como as mesmas são praticadas por seus dirigentes e auxiliares, para que se tenha a certeza de estar em um centro espírita.
Mostraremos abaixo, o que se encontra e o que não deve ser encontrado em uma casa espírita verdadeira:

Palestras x Explanações e orações ao som de músicas, batuques, atabaques
Todo centro espírita tem o seu momento de esclarecimento doutrinário. As exposições geralmente são sobre a Codificação espírita e o Evangelho de Jesus, em uma ligação direta com nosso cotidiano. Não há nenhum ritual antes dos trabalhos, a não ser uma prece evocando a proteção de Jesus e dos bons Espíritos (geralmente, a oração é feita em pensamento). Em algumas oportunidades, antes ou no final das palestras, alguns grupos fazem a apresentação de corais musicais, quase sempre formados por grupos de jovens. Porém, este tipo de procedimento não é aconselhável, sendo indicado que seja praticado em datas e horários diferentes dos trabalhos espirituais e de esclarecimento ao público, exatamente para se evitar confusões e mal-entendidos.
O Espiritismo não utiliza instrumentos musicais para exortar o público ou evocar Espíritos. Não há o uso de qualquer instrumento durante os trabalhos.

Trajes normais x Trajes especiais
 Os trabalhadores de uma casa espírita trajam-se normalmente, de forma simples. A discrição deve fazer parte dos que trabalham no local, pois ali estão para auxiliar as pessoas que buscam orientação para seus problemas materiais e espirituais.
O Espiritismo não tem roupas especiais para os dias de trabalhos ou mesmo no dia-a-dia dos seus adeptos. Enfeites, amuletos, colares, vestimentas com cores que significariam o bem (branca) ou o mal (negra, vermelha) não têm fundamento para o espírita, o que se recomenda é a utilização de roupas condizentes com o ambiente, evitando-se a utilização de minissaias, shorts, vestidos com grandes decotes, camisetas, etc..

Inexistência de rituais, amuletos e imagens x Presença de rituais e/ou sacrifícios de animais
 O verdadeiro centro espírita não pratica em suas atividades nenhum tipo de ritual. A Doutrina Espírita segue o que o Mestre Jesus ensinou: que Deus é Espírito, e deve ser adorado em espírito e verdade. Portanto, sem a necessidade de nada material para contatarmos com a espiritualidade, ou ainda: ajoelhar-se frente a algo ou alguém, beijar a mão ou louvar os responsáveis pela casa, benzer-se, sentar-se no chão ou ficar levantando e sentando durante os trabalhos, proferir determinadas palavras (mantras) para evocar os Espíritos.
 Nas sedes dos verdadeiros centros espíritas não são encontradas imagens de santos ou personalidades, amuletos de sorte, figuras que afastam ou atraem maus Espíritos, incensos, velas e tudo o mais que seja material e que teoricamente serviria de ligação com o mundo espiritual. O Espiritismo é contrário a qualquer tipo de sacrifício animal. Espíritos que pedem este tipo de atividade são Espíritos atrasados, ignorantes da Lei de Deus e muitas vezes maléficos, que podem prejudicar a vida de quem dá ouvidos aos seus baixos desejos.

Comunicação particular com os Espíritos x Comunicação de Espíritos em público
Os grupos espíritas têm reuniões específicas e íntimas para que os trabalhadores da casa, aptos e preparados durante longos estudos para tal, possam comunicar-se com os Espíritos. E através deles, obter informações do mundo espiritual, orientações e mesmo ajudar no afastamento de perturbações espirituais que porventura estejam prejudicando alguém. Todo este cuidado baseia-se na orientação dos próprios Espíritos superiores, responsáveis pela elaboração do Espiritismo, como também no alerta de João, o Evangelista, que em sua 1ª Epístola, capítulo IV, versículo 1, diz: “Amados, não creiais em todos os Espíritos, mas provai se os Espíritos são de Deus”. Agindo assim, o centro espírita evita o máximo possível a influência de Espíritos zombeteiros e maldosos, que muitas vezes veem neste contato com os encarnados a oportunidade de tecer comentários mentirosos e doutrinas esdrúxulas. A seriedade de reuniões fechadas os intimida, favorecendo a presença dos Espíritos esclarecidos.
Há alguns tipos de trabalhos mediúnicos, principalmente de psicografia (escrita dos Espíritos através de médiuns), onde pessoas levam até lá o nome de entes desencarnados para tentarem a comunicação dos mesmos através da mediunidade, e ficam observando a manifestação. O médium Francisco Cândido Xavier, conhecido como Chico Xavier, da cidade mineira de Uberaba, é um destes exemplos. Porém, nestes casos, o Espírito não se comunica diretamente com seu parente. Apenas influencia o médium, que escreverá, de forma discreta e ordenada, a mensagem do além.
A Doutrina Espírita é contrária a manifestação pública dos Espíritos, principalmente se for cercada de curiosidades e interesses materiais, ao invés do bom senso que deve permear toda comunicação espiritual. Há locais em que os médiuns recebem seus “guias” ou “Espíritos protetores”, teoricamente responsáveis pelo funcionamento da casa, e orientam os consulentes sobre qualquer tipo de dúvida. Muitas vezes, as respostas dadas por este tipo de Espírito não têm base científica ou doutrinária alguma, seguindo apenas seu próprio conhecimento, que pode ser limitado. Em vários destes lugares em que há a manifestação pública, as entidades espirituais são servidas de fumo, bebida, comida, ingeridas pelo médium incorporado. Com isso, mostram a limitação destes Espíritos, ainda muito apegados aos vícios e prazeres materiais.

Desenvolvimento cauteloso da mediunidade x Desenvolvimento mediúnico forçado
A Doutrina Espírita explica que todo ser vivo tem mediunidade, pois é através dela que os encarnados recebem influências boas e más do mundo espiritual, que servirão de ajuda ou aprendizado no decorrer de suas existências terrenas. São chamados de médiuns aqueles capazes de proporcionar a manifestação dos espíritos. O Espiritismo adverte que para poder ampliar esta ligação com o mundo espiritual, é necessário que o médium passe por uma série de preparativos. Anos de estudo, maturidade, modificação moral constante, vida regrada, abstendo-se dos vícios mais grosseiros, como o fumo e a bebida, são algumas das regras básicas para que o indivíduo possa vir a desenvolver corretamente sua mediunidade, e estão contidas em “O Livro dos Médiuns”.  Os centros espíritas verdadeiros não aconselham a pessoa a trabalhar mediunicamente sem antes passar por este período e preparação citados. Muito menos diz que alguém “precisa” desenvolver a mediunidade. Ninguém é obrigado a nada, afirma a Doutrina. Todos têm seu livre-arbítrio, e mesmo que o ser tenha um canal mediúnico amplo, próprio para o desenvolvimento da mediunidade, e não quiser desenvolvê-lo, não há problema. Tudo o que é forçado é prejudicial ao homem.
Se ao chegar em um ambiente espiritualista lhe afirmarem que sua mediunidade “precisa” ser desenvolvida, caso contrário você sofrerá as consequências materiais e espirituais; sua vida será um transtorno; que os Espíritos estão lhe chamando para o trabalho; que esta é a sua missão; com certeza este não é um local que segue a Doutrina Espírita. Há seitas e religiões afro-brasileiras que obrigam a pessoa a desenvolver-se mediunicamente e depois as ameaçam com terríveis problemas futuros se elas deixarem de “trabalhar”. Isto gera angústia, medo e desespero nos envolvidos, que geralmente acabam vítimas de graves obsessões (influência maléfica persistente de um Espírito atrasado sobre outro ser). Cuidado!

Não há promessas de curas x Promessas de cura
O verdadeiro centro espírita não promete a cura para quem o procura. A Doutrina afirma que a cura de uma influência espiritual ou doença material depende de uma série de fatores, entre os quais a modificação moral do enfermo, sua necessidade, seus problemas relacionados com encarnações anteriores e acima de tudo, se há ou não a permissão de Deus para que haja a solução da dificuldade. Muitas vezes, o sofrimento é um período necessário para o ser refletir sobre sua existência, e o único que sabe quando é a hora disso terminar é o Criador. O que o centro espírita faz é um pronto-socorro aos necessitados de amparo e esclarecimento, e de todas as formas possíveis (orações, tratamentos espirituais, passes, orientações morais e materiais) tenta minimizar o sofrimento alheio, rogando a Jesus que se o Pai permitir, que interceda junto ao indivíduo.
Qualquer lugar que prometa a cura de problemas espirituais ou materiais, sem levar em consideração os fatores já citados, não é um local espírita. Condicionar uma cura à frequência exclusiva naquele ambiente, ao pagamento de dinheiro ou bens materiais, ou mesmo à “força da casa” não tem base no Espiritismo e foge do bom senso que regula as Leis de Deus. Estas, não podem ser modificadas de acordo com nossa vontade. Por isso, prometer algo que não depende apenas de nós mesmos beira a irresponsabilidade e pode levar a pessoa desesperada ao desequilíbrio total ou à descrença em Deus.

Passes simples x Passes com movimentos e gestos bruscos
O passe é um método utilizado dentro dos centros espíritas. Nada mais é do que a simples imposição das mãos de médiuns sobre a fronte de outras pessoas, transmitindo-lhes fluidos magnéticos e espirituais (energias positivas do próprio médium e de bons Espíritos), no intuito de fortalecer-lhes o corpo e a parte espiritual. Jesus usou muito deste artifício ao curar os enfermos que o procuravam. Tem duração em média de 30 segundos a 01 minuto. Geralmente, é aplicado dentro de salas específicas, após a palestra, individual ou coletivamente, com o público sentado e o passista de pé. Apenas são feitas orações, em pensamento, pelos médiuns, rogando o amparo de Jesus àqueles que estão recebendo os fluidos. Os passistas não ficam incorporados pelos Espíritos, apenas recebem sua influência mental e fluídica. Importante: nunca há necessidade do passista tocar a pessoa que recebe o passe. Toques, apertos, carícias têm grandes possibilidades de serem mal interpretados, gerando confusões, e por isso são dispensados no centro espírita.
Locais em que os passes são aplicados com movimentos bruscos, utilizando objetos, baforadas de cigarro ou charuto, estalando-se os dedos, repetindo mantras e cânticos, tocando várias partes do corpo do receptor não são centros espíritas. Passistas que transmitem os passes incorporados por entidades, fazendo orientações ou conversando normalmente, não são médiuns espíritas.

Todo o serviço espiritual é gratuito x Cobrança pela ajuda espiritual
O verdadeiro centro espírita não cobra nenhuma orientação ou ajuda espiritual de seu público, nem condiciona o recebimento de curas ou salvação às doações. Dar de graça o que de graça receber, ensinou Jesus, em alusão aos conhecimentos espirituais. Não aceita dinheiro por serviços prestados mediunicamente. Seus dirigentes e trabalhadores têm profissões próprias, que lhes dão o sustento financeiro necessário para suas vidas. Quem sustenta materialmente a casa espírita são seus trabalhadores/sócios, através de doações mensais, destinadas ao pagamento de aluguéis, manutenção, divulgação doutrinária e aquisição de alimentos, roupas e demais objetos a serem distribuídos às famílias carentes ou instituições filantrópicas que sejam assistidas pelo grupo. Todo valor arrecadado será exposto em balanços mensais, para que tanto trabalhadores como frequentadores tenham acesso sobre onde é investido o dinheiro do centro espírita. Caso algum frequentador da casa queira doar algo ao núcleo, é preferível que a doação seja feita em gêneros alimentícios, roupas, materiais de construção e afins, que poderão ser destinados aos carentes ou mesmo utilizados na manutenção da casa. Se houver por algum motivo uma doação em dinheiro, o centro espírita deverá fornecer um recibo ao doador e inscrever esta doação no balanço mensal do grupo.
Todo local que cobra dinheiro, favores ou exige qualquer coisa ou favor material devido à ajuda espiritual prestada não é um centro espírita. A cobrança financeira é própria de pessoas que vivem da exploração da crença alheia, contrariando os ensinos de Jesus. Há seitas que pedem dinheiro aos seus assistidos afirmando que será usado para o feitio de trabalhos espirituais, como a compra de velas, comida, roupas e coisas do gênero. Isso não é Espiritismo. Espíritos que se prestam a fazer serviços espirituais em troca de coisas materiais são entidades atrasadas, que nada de bom podem trazer aos que os procuram.
Não podemos comprar a paz de espírito e tranquilidade que buscamos, é isto que prega a Doutrina Espírita. Se não for esta a orientação do local, com certeza não é um ambiente espírita.



SERVIÇOS EM UM CENTRO ESPÍRITA




OS PRINCIPAIS SERVIÇOS DO CENTRO ESPÍRITA
A Doutrina Espírita, ou Espiritismo, tem como lema a liberdade de expressão. Assim, não há um órgão centralizador, como ocorre, por exemplo, na Igreja Católica. Há apenas os princípios básicos que sustentam a Doutrina, ou seja: a existência de Deus, dos Espíritos, a possibilidade da comunicação com eles, a existência do mundo espiritual, da Lei de causa e efeito e a reencarnação.
Diante disso, cada centro espírita tem a possibilidade de praticar as atividades doutrinárias da maneira que achar melhor. Colocaremos abaixo 10 das principais funções que devem ser praticadas dentro de um verdadeiro centro espírita. A prática correta ou não destas atividades vai variar de acordo com o conhecimento do grupo que dirigir a casa. E a melhor maneira de sabermos se os trabalhos estão sendo feitos dentro dos preceitos de Allan Kardec é analisarmos os resultados obtidos na orientação e tratamento dos problemas materiais e espirituais dos que buscam ajuda no centro espírita.

Recepção
Aquele que chega pela primeira vez no centro espírita geralmente tem uma série de dúvidas a respeito do funcionamento da casa. Muitas vezes nem sabe o que irá encontrar ali, haja visto a grande confusão que há na sociedade sobre o que é e o que não é Espiritismo. Havendo uma recepção, que pode ser uma simples mesa ou uma sala, o indivíduo poderá para lá se dirigir e obter as informações sobre horário de funcionamento da casa e trabalhos desenvolvidos.
É necessário que a pessoa responsável pela recepção tenha total conhecimento das atividades da casa e que se mantenha simpática em todos os momentos. Precisamos lembrar que a recepção é o primeiro contato do visitante com o centro espírita. E quase sempre é a primeira impressão que cativará ou afastará o público do grupo.

Palestras
É o principal trabalho de uma casa espírita. O ser humano só consegue libertar-se de seus vícios morais ou materiais quando se esclarece dos malefícios que os mesmos trazem para sua existência. É através das palestras que os oradores conseguem levar o conhecimento espiritual existente na Doutrina Espírita.
Porém, por ser uma atividade de maior seriedade, deve ser entregue a pessoas preparadas doutrinariamente e experientes em relação à vida cotidiana.
O assistente precisa sentir no palestrante o que a Doutrina chama de força moral. Ou seja, que o expositor esteja falando de algo que conhece e pratica.
Seu teor deve mesclar os postulados da Doutrina Espírita e o Evangelho de Jesus. Sempre que possível, relacioná-los com o dia-a-dia da sociedade. Assim, o ouvinte poderá fazer ligações do que está ouvindo com seus próprios problemas e dúvidas.
Importante: no momento da palestra, é aconselhável que as demais atividades da casa sejam interrompidas para que todos os trabalhadores e público possam escutá-la. Lembremos que a palestra será o agente modificador do necessitado e incentivador dos que prestam assistência no núcleo.

Atendimento particular
Chamado em alguns centros espíritas de consulta ou entrevista, este trabalho visa orientar e ajudar espiritualmente pessoas detentoras de problemas mais graves, e quando necessário, submetê-las a um tratamento espiritual.
Em uma sala reservada, um atendente e um auxiliar (trabalhadores experientes da casa) receberão para uma conversa íntima indivíduos desajustados emocionalmente, desesperados, com dificuldades familiares, amorosas, financeiras, desiludidos da vida.
A recepcionista da casa se encarregará de preencher uma ficha com os dados básicos do atendido (nome, idade, estado civil, endereço), encaminhando-a aos atendentes. Estes, após conversarem com a pessoa, farão os demais apontamentos que julgarem necessários para o acompanhamento do caso, como: estado emocional, religião praticante, se é portador de algum desequilíbrio mental já diagnosticado por médicos, se está sob efeito de remédios, e outras informações que poderão ajudá-los em um possível tratamento espiritual.
Casas que já possuem médiuns devidamente preparados poderão detectar durante a entrevista ou em uma reunião mediúnica se há ou não uma influência espiritual atuando junto ao ser, orientando-o após isso sobre as atitudes a serem tomadas. Caso contrário, o atendente terá seu trabalho limitado, mas poderá orientar o indivíduo dentro de um posicionamento cristão, ajudando-o a corrigir seus defeitos e encontrar a paz procurada.
Importante:
a)   Todas as informações prestadas pelo entrevistado ao atendente serão altamente sigilosas. As fichas que contêm anotações sobre a vida particular da pessoa deverão ficar em um fichário sob a responsabilidade daqueles que participaram da entrevista.
b)  Caso haja a utilização de um médium verificando a atividade espiritual ao lado do atendido, possíveis manifestações de Espíritos nunca devem ocorrer na presença do necessitado, para evitar possíveis distúrbios psíquicos ou impressões indesejadas.

Reunião mediúnica
Trata-se de uma reunião íntima onde apenas participam os médiuns (pessoas com maior capacidade de sentir a influência dos Espíritos) da casa e algum trabalhador auxiliar, pois ali muitas vezes serão tratados assuntos que dizem respeito à vida particular de pessoas que buscaram auxílio no centro espírita. Depois de passarem pela sala de atendimento, e verificadas possíveis influências espirituais (obsessão*), os casos serão levados às reuniões mediúnicas, ou de desobsessão. Nestas reuniões, o dirigente da sessão fará o que Allan Kardec denominou de evocação, ou seja: solicitará a Jesus e aos Espíritos superiores que permitam a manifestação da entidade espiritual que está acompanhando determinado ser. Ao se manifestar em um dos médiuns presentes, este Espírito receberá o que o Espiritismo chama de doutrinação, que nada mais é do que uma conversa franca e amigável com o Espírito comunicante. O trabalhador responsável tentará obter do Espírito o que ele deseja ao lado do necessitado e tentará convencê-lo a afastar sua influência, com a ajuda dos Espíritos que dirigem a casa.
A reunião mediúnica também pode servir para que os bons espíritos deem orientações e para que os sofredores manifestem-se, podendo ser ajudados através da conversa.
Importante: para conseguirem-se bons resultados na doutrinação dos Espíritos é necessário que médium e doutrinador tenham uma vida moral sadia. Vícios materiais, como o cigarro, a bebida ou as drogas; e vícios morais, como o adultério, o orgulho, a sensualidade exagerada e a mentira devem ser combatidos rapidamente por aqueles que se dispõem a trabalhar em nome de Jesus em um centro espírita. Assim como nas palestras, onde o exemplo moral do palestrante é que tocará o indivíduo que o escuta, na mediunidade o Espírito só será convencido de que precisa se modificar se sentir que quem o está orientando ou dando-lhe passagem está esforçando-se também para isso. Caso contrário, a evocação dificilmente trará benefícios ao sofredor.
Obsessão: Conforme define Allan Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. 28, item 81: “A obsessão é a ação persistente que um mau Espírito causa sobre um indivíduo”.
É diferente, portanto, de uma perturbação espiritual simples, que pode ser causada pelo estado emocional momentâneo por qual passamos.
Na obsessão, o Espírito mal tem o objetivo persistente de prejudicar o obsediado, seja por uma afinidade moral, com o intuito de aproveitar-se dele; seja pelo ódio que os une devido a encarnações passadas.
A obsessão, porém, nunca tem como causa o Espírito obsessor, mas sim, as más tendências que todos carregamos dentro de nós. Ou seja, o obsessor é sempre consequência de nossa condição moral, pois se estivéssemos livres do orgulho, do egoísmo, da maledicência, do nervosismo, da impaciência, da avareza, da sensualidade exagerada, não haveria como uma entidade má se aproximar de nós. Pois a aproximação só se dá pela afinidade de pensamentos e desejos.
Pensar e agir bem, portanto, é o melhor método de afastarmos as obsessões de perto de nós. E se necessário, a administração de um Tratamento Espiritual (descrito a seguir) dará grandes possibilidades de livrar o obsediado desta doença moral.

Tratamento espiritual
Todo aquele em que foi diagnosticada uma obsessão poderá passar por um tratamento espiritual. Ele consiste na aplicação de passes semanais, ingestão de água fluidificada e o acompanhamento das palestras no centro espírita, buscando a análise constante das imperfeições que possibilitaram à má influência instalar-se ao seu lado, tentando melhorar-se moralmente a cada dia.
Este tratamento será complementado nas reuniões mediúnicas, onde os responsáveis pela ajuda continuarão a evocar a entidade perturbadora no sentido de orientá-la a seguir outro caminho.
Assim, atua-se nos dois campos que geram o problema obsessivo: o obsediado, orientando-o moralmente e auxiliando-o fluidicamente; e o obsessor, alertando-o de seu estado e encaminhando-o para um melhor estágio espiritual.

Passes
Os passes são transmissões de fluidos de um ser para outro. Os fluidos são energias que fazem parte da estrutura material e espiritual dos seres. Nos centros espíritas é aconselhável que os médiuns passistas tenham uma vida regrada, sem os vícios já citados no item “Reuniões mediúnicas”. Afinal, se seus fluidos estiverem contaminados por maus pensamentos ou atitudes indevidas poderão prejudicar ao invés de auxiliar quem os recebe.
O passe é aplicado apenas com a imposição das mãos do passista sobre a fronte do indivíduo. Não é necessário tocá-lo.
No momento do passe, o passista busca sintonia com os Espíritos superiores, geralmente através de uma prece feita de pensamento. Com isso, estes amigos espirituais poderão ajuntar seus fluidos aos fluidos do médium, favorecendo ainda mais quem está recebendo. A pessoa após o passe irá se sentir fortalecida e mais disposta frente aos problemas por quais passa.
Importante: o passe é um complemento espiritual, e não a solução. Para que o indivíduo possa melhorar é necessário que busque constantemente a libertação de suas imperfeições. Aqueles que buscam a casa espírita apenas para receber o passe devem ser orientados sobre a necessidade do esclarecimento através das palestras e das boas leituras.

Livro de preces
Muitas pessoas que vêm ao centro têm parentes e amigos que não podem acompanhá-los por variados motivos: doença, viagem, trabalho ou mesmo ignorância sobre o que é a Doutrina Espírita. Outras há que gostariam que seus entes desencarnados recebessem boas vibrações através de orações feitas no núcleo. O livro de preces serve para isso. As pessoas deixam lá os nomes, idade e endereço dos que elas gostariam que fossem beneficiados pela prece. Um trabalhador da casa pode ficar responsável por anotar os dados, que posteriormente serão levados para a reunião mediúnica. Assim, em determinada parte do trabalho, será feita uma prece a Jesus e aos bons Espíritos, pedindo que possam interceder junto àqueles que ali estão anotados.
Importante: sempre que possível, orientar ao público que embora as preces à distância possam levar ajuda, o ideal é a presença da pessoa na casa espírita, onde o amparo será mais direto e os resultados melhores.

Estudo doutrinário
É indispensável ao bom funcionamento do centro espírita o estudo semanal das Obras Básicas da Doutrina Espírita. Para os trabalhadores em geral, é aconselhável a leitura de “O Livro dos Espíritos” e de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Quanto aos que trabalham na mediunidade, a leitura de “O Livro dos Médiuns” torna-se obrigatória para o bom desenvolvimento de suas faculdades.
Se a casa espírita fica sem estudo torna-se presa fácil de Espíritos atrasados que vez por outra tentam atrapalhar o bom andamento dos trabalhos em nome de Jesus. Conhecendo as Obras Básicas da Doutrina, as orientações de Kardec e os conselhos dos Espíritos superiores, os trabalhadores do centro estarão mais atentos para saberem se estão ou não fazendo da casa um núcleo espírita sério.
As obras acessórias que existem no movimento espírita, psicografadas (escritas através de médiuns influenciados por Espíritos) por Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco e tantos outros médiuns de renome também podem ser estudadas, desde que não sejam o alvo principal dos estudos. O trabalhador precisa estudar e revisar constantemente as obras de Kardec para poder separar o joio do trigo existente nas obras acessórias.
Importante: para os que estão ingressando ou querendo ingressar nos trabalhos da casa, é importante que o centro tenha um curso para iniciantes, como o que estão participando.
Há vários cursos deste tipo no movimento espírita, que trazem um resumo da Doutrina e de sua história. É aconselhável que diferente dos trabalhadores, que devem estudar sempre, os iniciantes tenham um curso de curta duração (no máximo 5 meses, com aulas semanais). Caso contrário, poderão desanimar antes de conhecerem mais a fundo o Espiritismo.
Se o curso seguir estas dicas, com certeza será um grande auxiliar na captação de novos trabalhadores para o centro.

Assistência material
A caridade material deve fazer parte de toda casa espírita. Se ficarmos apenas na teoria, sem colocar “a mão na massa”, o centro corre o risco de tornar-se apenas um núcleo de muita conversa e pouco serviço.
Trabalhos assistenciais a serem desenvolvidos não faltam: visitas a enfermos em hospitais, manicômios, orfanatos, asilos; distribuição de cestas de alimento, de roupas, de comida; desenvolvimento de escolas profissionalizantes, cursos de gestantes, evangelização infantil em favelas e muitas outras formas de auxílio aos carentes do pão material.
Todo trabalhador do centro espírita deve buscar ao menos um tipo de caridade material por semana. Isso desenvolverá dentro dele o sentimento de compaixão ao próximo, que lhe será muito útil em sua vida, dentro e fora da casa espírita.

Divulgação doutrinária
A Doutrina Espírita precisa ser bem divulgada para que diminuam as confusões existentes entre ela e cultos espiritualistas ou afro-brasileiros. Ter uma biblioteca na casa é de extrema importância. O centro poderá comprar ou receber em doações uma série de livros doutrinários que possam esclarecer o leitor sobre as bases do Espiritismo e do mundo espiritual. Estas obras devem ser emprestadas ao público que terá cerca de vinte dias para ler e devolvê-la para a casa. Uma pessoa fica responsável pelo empréstimo e anotação do nome, endereço e telefone do locatário. Com isso, se caso houver uma demora na devolução, o bibliotecário poderá contatar o leitor e lembrá-lo de devolver a obra para que outras pessoas possam usufruí-la também.
Outras formas importantes de divulgação são a Internet e os folhetos  ou jornais doutrinários que podem ser confeccionados pelo grupo. O teor das matérias deve ser o esclarecimento das práticas espíritas, a exposição de temas evangélicos e o comentário de situações e fatos do cotidiano à luz da Doutrina Espírita.



O TRABALHADOR ESPÍRITA




O TRABALHADOR ESPÍRITA
Agora que sabemos o que é a Doutrina Espírita, quais seus princípios e como ela deve ser praticada nos centros espíritas, comentaremos sobre como deve ser um trabalhador espírita.
Prestar serviço caritativo em uma casa religiosa requer boa vontade e perseverança.
Primeiro, porque sempre que modificamos algo em nossa vida, há como que uma barreira a ser transposta. Isso é a tentativa de mudança causando uma reação contrária.
Mudar o estabelecido, os costumes que temos, é muito difícil, pois nos fará rever conceitos e assumir novos compromissos.
E estas dificuldades de adaptação poderão ocorrer em muitos setores de nossa vida.
Ao comentá-los, lembremos da “Parábola do Semeador”, onde caberá a nós deixarmos ou não as sementes frutificarem em nossos corações.

No lar
Se ambos os cônjuges resolvem trabalhar em prol do próximo, não há problemas, pois os dois irão se ajudar nessa nova etapa da vida. Porém, se apenas um toma esta decisão, terá que saber contornar, com paciência e humildade, as reclamações e questionamentos do companheiro (a).
Raros são os casos em que mesmo não frequentando um trabalho caritativo o cônjuge não implica com o outro. Isso porque inconscientemente sente-se diminuído, sem forças para buscar algo novo, o que começa a perturbar.
Cabe àquele que decidiu buscar fazer algo de bom pelo próximo manter um diálogo constante, sem forçar ao outro a mesma iniciativa. Com exemplos na conduta e mostrando diariamente o quanto o trabalho espiritual tem lhe feito bem, irá tocar o coração do companheiro (a), que poderá vir a juntar-se a ele na seara de Jesus.
Mas mesmo que isso não ocorra, com o passar do tempo a mudança de atitudes dos que trabalham no centro espírita irá beneficiar diretamente toda sua família, ajudando na manutenção de um ambiente harmonioso e feliz, construindo um lar onde os filhos terão prazer em viver. Enfim,  uma família cristã.

No trabalho
 Muitos dos velhos companheiros do novo trabalhador (a) espírita irão estranhar quando, no sábado à tarde, ao invés de ir no futebol ou às compras no shopping, ele  for visitar velhinhos no asilo; ou bater de porta em porta pedindo alimento aos carentes. Será, então, chamado de “carola”, “fanático”, “rato de igreja” e outros adjetivos próprios de nossa sociedade. Esta será a fase mais difícil, pois muitas vezes passamos mais tempo com os amigos do trabalho e do lazer do que com nossa própria família.
Isso também passará com o tempo, quando seus amigos perceberão que não é a dedicação de algumas horas semanais em benefício alheio que o tornará menos sociável. Pelo contrário, sentirão uma maior serenidade em seus atos, um maior equilíbrio em seu cotidiano.
E o futebol, como as compras, não deixarão de existir em sua vida. Apenas cederão um pouco de espaço para os que necessitam de nosso amparo.

Os vícios
Todos sabemos que cigarro e álcool não fazem bem para o organismo, nem em pequenas doses. Mas muitos de nós não conseguimos nos afastar, ainda, destes vícios. Compreendendo a Doutrina Espírita e como agem os fluidos que nos envolvem, percebemos que estes hábitos também prejudicam nosso corpo espiritual, o Perispírito, deixando-nos impregnados com as sensações dos mesmos.
O trabalhador espírita iniciante deve estar consciente da necessidade de lutar contra esses vícios materiais. Não de forma radical, pois a natureza não dá saltos. Mas de forma sensata e constante, contando com a ajuda dos bons Espíritos e de Jesus.
Já para o trabalhador espírita que pratica a mediunidade, ou que transmite passes, o uso do cigarro e do álcool é excluído. Isso porque no caso da mediunidade, muitos são os Espíritos comunicantes ainda ligados a esses vícios. E para orientá-los, ou envolvê-los em boas vibrações, médiuns e doutrinadores precisarão ter a “força moral na palavra”, prescrita por Allan Kardec. Ou seja, se vamos orientar alguém para desvincular-se do vício, nós mesmos devemos estar desvinculados. Caso contrário, nossas palavras não emitirão sinceridade, apenas superficialidade.
É o mesmo que o pai ou mãe que bebem, fumam ou falam palavrões quererem proibir os filhos de fazerem o mesmo. De nada adiantará, se não houver o exemplo.
Já no caso do passista, ao ministrar o passe estará doando seus fluidos, juntamente com os dos Espíritos superiores. E se os seus estiverem contaminados pelas substâncias contidas no cigarro e no álcool, irão transmiti-las aos receptores.
É verdade que de nada adianta o médium não beber ou não fumar e viver na mentira, desonestidade, adultério e orgulho. Porém, estes são os vícios morais que a convivência com a Doutrina deve nos levar a modificar. E, verdadeiramente, são mais difíceis de vencer.
Começar pelos vícios materiais pode nos ajudar a ter força de vontade. Cabe a nós decidirmos.

As compensações
Realmente, ser um trabalhador espírita necessita muito ânimo e coragem. Porém, as recompensas são reais. Pois todo aquele que trabalha para Jesus com sinceridade no coração encontra o “Reino de Deus” dentro de si, que nada mais é do que a paz de espírito e o equilíbrio na vida.
Abaixo, transcrevemos uma passagem contida em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo 20, item 4, intitulada “Missão dos Espíritas”, que nos mostra bem o que o Senhor espera daqueles que decidiram ajudar ao próximo.

Missão dos espíritas
“Não escutais já o ruído da tempestade que há de arrebatar o velho mundo e abismar no nada o conjunto das iniquidades  terrenas? Ah! bendizei o Senhor, vós que haveis posto a vossa fé na sua soberana justiça e que, novos apóstolos da crença revelada pelas proféticas vozes superiores, ides pregar o novo dogma da reencarnação e da elevação dos Espíritos, conforme tenham cumprido, bem ou mal, suas missões e suportado suas provas terrestres.
Não mais vos assusteis! As línguas de fogo estão sobre as vossas cabeças. O verdadeiros adeptos do Espiritismo!... sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra divina. É chegada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas ocupações fúteis. Ide e pregai. Convosco estão os Espíritos elevados. Certamente falareis a criaturas que não quererão escutar a voz de Deus, porque essa voz as exorta incessantemente à abnegação. Pregareis o desinteresse aos avaros, a abstinência aos dissolutos, a mansidão aos tiranos domésticos, como aos déspotas! Palavras perdidas, eu o sei; mas não importa. Faz-se mister regueis com os vossos suores o terreno onde tendes de semear, porquanto ele não frutificará e não produzirá senão sob os reiterados golpes da enxada e da charrua evangélicas. Ide e pregai!
Ó todos vós, homens de boa-fé, conscientes da vossa inferioridade em face dos mundos disseminados pelo infinito!... lançai-vos em cruzada contra a injustiça e a iniquidade. Ide e proscrevei esse culto do bezerro de ouro, que cada dia mais se alastra. Ide, Deus vos guia! Homens simples e ignorantes, vossas línguas se soltarão e falareis como nenhum orador fala. Ide e pregai, que as populações atentas recolherão ditosas as vossas palavras de consolação, de fraternidade, de esperança e de paz.
Que importam as emboscadas que vos armem pelo caminho! Somente lobos caem em armadilhas para lobos, porquanto o pastor saberá defender suas ovelhas das fogueiras imoladoras.
Ide, homens, que, grandes diante de Deus, mais ditosos do que Tomé, credes sem fazerdes questão de ver e aceitais os fatos da mediunidade, mesmo quando não tenhais conseguido obtê-los por vós mesmos; ide, o Espírito de Deus vos conduz.
Marcha, pois, avante, falange imponente pela tua fé! Diante de ti os grandes batalhões dos incrédulos se dissiparão, como a bruma da manhã aos primeiros raios do Sol nascente.
A fé é a virtude que desloca montanhas, disse Jesus. Todavia, mais pesados do que as maiores montanhas, jazem depositados nos corações dos homens a impureza e todos os vícios que derivam da impureza. Parti, então, cheios de coragem, para removerdes essa montanha de iniquidades que as futuras gerações só deverão conhecer como lenda, do mesmo modo que vós, que só muito imperfeitamente conheceis os tempos que antecederam a civilização pagã.
Sim, em todos os pontos do Globo vão produzir-se as subversões morais e filosóficas; aproxima-se a hora em que a luz divina se espargirá sobre os dois mundos.
Ide, pois, e levai a palavra divina: aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que exigirão provas, aos pequenos e simples que a aceitarão; porque, principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis fervor e fé. Ide; estes receberão, com hinos de gratidão e louvores a Deus, a santa consolação que lhes levareis, e baixarão a fronte, rendendo-lhe graças pelas aflições que a Terra lhes destina.
Arme-se a vossa falange de decisão e coragem! Mãos à obra! o arado está pronto; a terra espera; arai!
Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas, atenção! entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram; reparai, pois, vosso caminho e segui a verdade”.



A PRECE




A PRECE E SUA EFICÁCIA

“Há quem conteste a eficácia da prece, com fundamento no princípio de que, conhecendo Deus as nossas necessidades, inútil se torna expô-las.” [ESE - Cap.  XXVII it 6]
Este argumento não oferece muita lógica porque, independente de Deus conhecer as nossas necessidades, a prece proporciona, a quem ora, um bem-estar incalculável já que aproxima a criatura do seu Criador.
Não existe qualquer fórmula para orar. "O Espiritismo reconhece como boas as preces de todos os cultos, quando ditas de coração e não de lábios somente.” [ESE- Cap XXVIII it 1]
A qualidade principal da prece é ser clara, simples e concisa. Pode ter por objeto um pedido, um agradecimento, ou uma glorificação. As preces feitas a Deus escutam-nas os Espíritos incumbidos da execução de suas vontades. “Pela prece, obtém o homem o concurso dos bons Espíritos que acorrem a sustentá-lo em suas boas resoluções e a inspirar-lhe ideias sãs. Ele adquire, desse modo, a força moral necessária a vencer as dificuldades e a volver ao caminho reto, se deste se afastou. Por esse meio, pode também desviar de si os males que atrairia pelas suas próprias faltas.” [ESE-cap XXVII it 11]
Quando Jesus nos disse: “tudo o que pedirdes com fé, em oração, vós o recebereis” [Mateus-XXI:22] revelou-nos que o ato de orar é algo muito profundo do que se pode observar à primeira vista. Desta máxima: “concedido vos será o que quer que pedirdes pela prece”, fora ilógico deduzir que basta pedir para obter e fora injusto acusar a Providência se não acede a toda súplica que se lhe faça, uma vez que ela sabe, melhor do que nós, o que é para o nosso bem.
“O que o homem não deve esquecer, em todos os sentidos e circunstâncias da vida, é a prece do trabalho e da declaração, no santuário de lutas purificadoras, porque Jesus abençoará as suas realizações de esforço sincero.”

Aprender a orar e a entender as respostas do Alto às nossas súplicas.
“Entre o pedido terrestre e o Suprimento Divino, é imperioso funcione a alavanca da vontade humana, com decisão e firmeza, para que se efetive o auxílio solicitado”
 “Em verdade, todos nós podemos endereçar a Deus, em qualquer parte e em qualquer tempo, as mais variadas preces; no entanto, nós todos precisamos cultivar paciência e humildade, para esperar e compreender as respostas de Deus.”

Características da Prece:
É clara, simples, espontânea e breve;
Está acompanhada de sentimento de humildade e sinceridade;
Dispensa aparatos exteriores e independe do local, hora, atitude física e gestos.



CULTO DO EVANGELHO NO LAR



O QUE É O "EVANGELHO NO LAR"
Trata-se do estudo do Evangelho de Jesus em reunião familiar.
O "Evangelho no Lar", realizado no ambiente doméstico, é precioso empreendimento que traz diversos benefícios às pessoas que o praticam. Permite ampla compreensão dos ensinamentos de Jesus e a prática destes, nos ambientes em que vivemos.
Ampliando-se o conhecimento sobre o Evangelho, pode-se oferecê-lo com mais segurança a outras criaturas, colaborando-se para a implantação do Reino de Deus na Terra.
As pessoas, unidas por laços consanguíneos, compreenderão a necessidade da vivência harmoniosa e, dentro de suas possibilidades, buscarão, pouco a pouco, superar possíveis barreiras, desentendimentos e desajustes, que possam existir entre pais e filhos, cônjuges e irmãos. Através do estudo da reencarnação, compreenderão que, aqueles com quem dividem o teto, são espíritos irmãos, cujas tarefas individuais, muitas vezes, dependerão da convivência sadia no ambiente em que vieram a renascer.
Aqueles que, desde cedo, têm suas vidas orientadas pela conduta Cristã, evitam, com mais facilidade, que os embriões dos defeitos que estão latentes em seus espíritos apareçam, sanando, desta forma, o mal antes que ele cresça.
Se, porventura, tendências negativas aflorarem, apesar da orientação desde a infância, encontrarão seguros elementos morais para superá-las, porque os ensinamentos de Jesus tornam-se fortes alicerces para a sua superação.
Com o estudo do Evangelho de Jesus aprende-se a compreender e a conviver na família humana.
Assim, conscientes de que são espíritos devedores perante as Leis Universais, procuram conduzir-se dentro de atitudes exemplares, amando e perdoando, suportando e compreendendo os revezes da vida.
Quando o "Evangelho no Lar" é praticado fielmente à data e ao horário semanal estabelecidos, atrai-se para o convívio doméstico Espíritos Superiores, que orientam e amparam, estimulam e protegem a todos.
A presença de Espíritos iluminados no Lar afasta aqueles de índole inferior, que desejam a desunião e a discórdia.
O ambiente torna-se posto avançado da Luz, onde almas dedicadas ao Bem estarão sempre presentes, quer encarnadas, quer desencarnadas.
As pessoas habituadas à oração, ao estudo e à vivência cristã, tornam-se mais sensíveis e passíveis às inspirações dos Espíritos Mentores.

Procedimentos
Escolhe-se um dia da semana e hora em que seja possível a presença de todos os familiares ou da maior parte deles, observando-se com rigor a sua constância e pontualidade, para facilitar a assistência espiritual.
A direção do "Evangelho no Lar" caberá a um dos cônjuges ou a pessoa que disponha de maiores conhecimentos doutrinários.
Cabe lembrar, no entanto, que por se tratar de um estudo em grupo não é necessária a presença de pessoas com cultura doutrinária.
 Na pureza dos ideais e na sinceridade das intenções, todos aprenderão juntos, auxiliando-se mutuamente.
É importante que os temas sejam discutidos com a participação de todos, na medida do possível, sem imposições, para evitar-se constrangimentos.
Deve-se buscar um ambiente amistoso, de respeito, pois, viver e falar com Jesus é uma felicidade que não se deve desprezar.
Antes do início da reunião, prepara-se o local, colocando-se em cima da mesa água pura, em uma garrafa, para ser beneficiada pelos Benfeitores Espirituais, em nome de Jesus.

1. Leitura de uma mensagem
A leitura inicial de uma mensagem poderá, após, ser comentada ou não. Ela tem por objetivo propiciar um equilíbrio emocional, procurando harmonizá-lo com os ideais nobres da vida, a fim de facilitar melhor aproveitamento das lições.

2. Prece Inicial
"Dando curso ao salutar programa iniciado por Jesus, o de reunir-se com os discípulos para os elevados cometimentos da comunhão com Deus, mediante o exercício da conversação edificante e da prece renovadora, os espiritistas devem reunir-se com regularidade e frequência para reviver, na prece e na ação nobilitante, o culto da fraternidade, em que se sustentem quando as forças físicas e morais estejam em deperecimento, para louvar e render graças ao Senhor por todas as suas concessões, para suplicar mercês e socorros para si mesmos quanto para o próximo, esteja este no círculo da afetividade doméstica e da consanguinidade, se encontre nas provações redentoras ou se alongue pelas trilhas da imensa família universal."
Após a leitura da mensagem, inicia-se o "Evangelho no Lar", com uma prece.
A oração deve ser proferida por um dos participantes, em tom de voz audível a todos os presentes e de forma simples e espontânea, não devendo ser, portanto, decorada.
Os demais acompanham-no, seguindo a rotativa, frase por frase, repetindo, mentalmente, em silêncio, cada expressão, a fim de imprimir o máximo ritmo e harmonia ao verbo, ao som e a ideia, numa só vibração.
Na prece pode pedir-se o amparo de Deus para o lar onde o Evangelho está sendo estudado, para os presentes, seus parentes e amigos; para os enfermos, do corpo e da alma; para a paz na Terra; para os trabalhadores do Bem e etc.
A prece, além de ligar o ser humano à espiritualidade, traduz respeito pelo momento de estudo a realizar-se.

3. Estudo do Evangelho de Jesus   
O estudo do Evangelho do Cristo, à luz da Doutrina Espírita - "O Evangelho segundo o Espiritismo", de Allan Kardec - poderá ser estudado de duas formas:
a) estudo em sequência - o estudo metódico, em pequenas partes, permite o conhecimento gradual e ordenado dos ensinamentos que o livro encerra.
Após o seu término, volta-se, novamente, ao capítulo inicial;
b) estudo ao acaso - consiste na abertura, ao acaso, de "O Evangelho segundo o Espiritismo", o que ensejará, também, lições oportunas, em qualquer ocasião.
Os comentários devem envolver o trecho lido, buscando-se alcançar a essência dos ensinamentos de Jesus, realçando-se a necessidade da sua aplicação na vida diária.
Pode reservar-se, posteriormente, um momento de palavra livre, onde os participantes da reunião exponham situações da vida prática, para o melhor entendimento e fixação das lições.

4. Prece de agradecimento
Um dos presentes fará uma prece, agradecendo as bênçãos recebidas durante o "Evangelho no Lar", pela paz, pelas lições recebidas etc.

Observações
A duração do "Evangelho no Lar" deve ser de trinta minutos, aproximadamente.
No "Evangelho no Lar" deve ser evitada manifestações mediúnicas. A sua finalidade básica é o estudo do Evangelho de Jesus, para o aprendizado Cristão, a fim de que seus participantes melhor se conduzam na jornada terrena.
Os casos de mediunidade indisciplinada devem ser encaminhados a uma sociedade espírita idônea.
Deve-se evitar comparações ou comentários que desmereçam pessoas ou religiões.
No Evangelho busca-se a aquisição de valores maiores, tais como a benevolência e a caridade, a compreensão e a humildade, não cabendo, dessa forma, qualquer conversação menos edificante.
A realização do "Evangelho no Lar" não deve ser suspensa em virtude de visitas inesperadas.
Deverá ser esclarecido o assunto com delicadeza e franqueza, convidando-se o visitante a participar nesta Reunião, caso lhe aprouver.
O "Evangelho no Lar" não deve ser prejudicado, também, em virtude de solicitações sem urgência, recados inoportunos, passeios, festividades de qualquer ordem.
Soluções razoáveis, de imediato, ou iniciativas, apôs a reunião, deve ser o caminho para superar os pretensos impedimentos.
Somente no caso de situações incontornáveis, em que todos não possam estar presentes, é que se justifica a não realização do "Evangelho no Lar".
Evite-se ligar rádio ou televisão no dia da Reunião, próximo e depois da hora de sua realização, bem como a leitura de jornais ou obras sem caráter edificante, para que se mantenha um ambiente vibratório de paz e tranquilidade dentro do Lar, bem como saídas à rua, senão para inevitáveis e inadiáveis compromissos.
As crianças devem, também, participar do "Evangelho no Lar", nesses casos, os adultos descerão os comentários ao nível de entendimento delas.



REFORMA ÍNTIMA


 

A REFORMA ÍNTIMA

É um processo contínuo de autoconhecimento, de conhecimento da nossa intimidade espiritual, modelando-nos progressivamente na vivência evangélica, em todos os sentidos da nossa existência. É a transformação do homem velho, carregado de tendências e erros seculares, no homem novo, atuante na implantação dos ensinamentos do Divino Mestre.

 

a) Por que a Reforma Íntima?

Porque é o meio de nos libertarmos das imperfeições e de fazermos objetivamente o trabalho de burilamento dentro de nós, conduzindo-nos, compativelmente, com as aspirações que nos levam ao aprimoramento do nosso Espírito.

 

b) Para que a Reforma Íntima?

Para transformar o homem e, a partir dele, toda a Humanidade ainda tão distante das vivências evangélicas. Urge enfileirarmo-nos ao lado dos batalhadores das últimas horas, pelos nossos testemunhos, respondendo aos apelos do Plano Espiritual e integrando-nos na preparação cíclica do Terceiro Milênio.

 

c) Onde fazer a Reforma Íntima?

Primeiramente dentro de nós mesmos, cujas transformações se refletirão depois em todos os campos de nossa existência, no nosso relacionamento com familiares, colegas de trabalho, amigos e inimigos e, ainda, nos meios em que colaboramos desinteressadamente com serviços ao próximo.

 

d) Quando fazer a Reforma Íntima?

O momento é agora e já; não há mais o que esperar. O tempo passa e todos os minutos são preciosos para as conquistas que precisamos fazer no nosso íntimo.

O Conhecimento de Si Mesmo

De modo geral, vivemos todos em função dos impulsos inconscientes que se agitam no nosso mundo interior. Manifestamos, sem controle e sem conhecimento próprio, nosso desejos mais recônditos, ignorando suas raízes e origens.
Somos todos vítimas dos nosso próprios desejos mal conduzidos. Se sentimos dentro de nós uma atração enorme e alimentamos um desejo de posse, não nos perguntamos se temos o direito de adquirir ou de concretizar aquela inspiração. Sentimos como se fôssemos donos do que queremos, desrespeitando os direitos do próximo. Queremos e isso basta, custe o que custar, contrariando ou não a liberdade dos outros. O nosso desejo é mais forte e nada pode obstá-lo, esta é a maneira habitual de reagirmos internamente.
Agindo desse modo, interferimos na vontade dos que nos cercam e contrariamos, na maioria das vezes, os desejos daqueles que não se subordinam aos nossos caprichos. Provocamos reações, violências de parte a parte, agressões, discussões, desajustes, conflitos, ansiedade, tormentos, mal-estares, infelicidades. Vemos constantemente os erros e defeitos dos que nos rodeiam e somos incapazes de perceber nossos próprios erros, tão ou mais acentuados que os dos estranhos. As nossas faltas são sempre justificadas por nós mesmos, com razões claras ao nosso limitado entendimento. Colocamo-nos sempre como vítimas. Esse comportamento é típico nos seres humanos e confirma o desconhecimento de nós mesmos, das reações e manifestações que habitam a intimidade do nosso eu, sede da alma.
A grande maioria das criaturas humanas ainda se compraz na manifestação das suas paixões e não encontra motivos para delas abdicar em benefício de alguém; são os imediatistas, de necessidades mais elementares, com predominância das funções animais, como reprodução, conservação, defesa. Dentro dessa maioria, compreendemos claramente como hábitos mais evidentes e comuns a sensualidade, a gula, a agressividade que, no ser tradicional, muitas vezes ultrapassam os limites das reações primitivas animais nos requintes de expressão, decorrentes daqueles três hábitos: ciúme, vingança, ódio, luxúria, violência. Podemos dizer que há nesses tipos de indivíduos a predominância da natureza animal, orgânica ou corpórea.
Uma pequena minoria da Humanidade compreende a sua natureza espiritual, e como tal, reflete um comportamento mais racional e menos impulsivo, isto é, suas necessidades já denotam aspirações do sentimento, algum esforço em conquistar virtudes e, assim, libertar-se dos defeitos derivados do egoísmo.
Estamos todos, possivelmente, numa categoria intermediária, numa fase de transição de Espíritos imperfeitos para Espíritos bons e, portanto, ora nos comprazemos dos impulsos característicos do primeiro, ora buscamos alimentar o nosso Espírito nas realizações do coração, na caridade, na solidariedade, no esforço de auto aprimoramento. Vamos, assim, de modo lento, nas múltiplas existências realizando o nosso progresso individual, elevando-nos na escala que vai do ser animal ao ser espiritual, alicerçando interiormente os valores morais.
Em [LE-qst 919a] Santo Agostinho afirma: “O Conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual”.  Todo esforço individual no sentido de melhorar nesta vida e resistir ao arrebatamento do mal só pode ser realizado conscientemente, por disposição própria, distinguindo-se claramente os impulsos íntimos e optando por disposições que nos levam às mudanças de comportamento. Desse modo, “conhecer-se a si mesmo” é a condição indispensável para nos levar a assumir deliberadamente o combate à predominância da natureza corpórea.

Como Conhecer-se

A disposição de conhecer-se a si mesmo pode surgir naturalmente como fruto do amadurecimento de cada um, de forma espontânea, nata, resultante da própria condição do indivíduo, ou poderá ser provocada pela ação do sofrimento renovador que, sensibilizando a criatura, desperta-a para valores novos do Espírito. Uns chegam pela compreensão natural, outros pela dor, que também é um meio de despertar a nossa compreensão.
Um grande número de indivíduos são levados, devido a desequilíbrios emocionais, a gabinetes psiquiátricos ou psicoterápicos para tratamento específicos. Através desses tratamentos vêm a conhecer as origens de seus distúrbios, aprendendo a identificá-los e a controlá-los, normalizando, até certo ponto, a sua conduta. Porém, isso acorre dentro de uma motivação de comportamento compatível com os padrões de algumas escolas psicológicas., quase todas materialistas.
Na Doutrina Espírita, como Cristianismo Redivivo, igualmente buscamos o conhecimento de nós mesmos, embora dentro de um sentido muito mais amplo, segundo o qual entendemos que a fração eterna e indissolúvel de nosso ser só caminha efetivamente na sua direção evolutiva quando pautando-se nos ensinamentos evangélicos, únicos padrões condizentes com a realidade espiritual nos dois planos da nossa existência.
É preciso, então, despertar em nós a necessidade de conhecer o nosso íntimo, conhecer exclusivamente as causas e as origens de nosso traumas e recalques, de nossas distonias emocionais nos quadros da presente existência é limitar os motivos dos nossos conflitos, olvidando a realidade das nossas existências anteriores, os delitos transgressores do ontem, que nos vinculam aos processos reequilibradores e aos reencontros conciliatórios do hoje.
As motivações que nos induzem a desenvolver nossa remodelação de comportamento projetam-se igualmente para o futuro da nossa eternidade espiritual, onde os valores ponderáveis são extremamente aqueles obtidos nas conquistas nobilizantes do coração.
Percebendo o passado longínquo de erros, trabalhamos livremente no presente, preparando um futuro existencial mais suave e edificante. Esse é o amplo contexto de nossa realidade espiritual, à qual almejamos nos integrar atuantes e produtivos.
Allan Kardec [CI-cap VII] mostra, que no caminho para a regeneração não basta ao homem o arrependimento. São necessárias a expiação e a reparação, afirmando que “A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal” , e também “praticando o bem em compensação ao mal praticado, isto é, tornando-se humilde se tem sido orgulhoso, amável se foi rude, caridoso se foi egoísta, benigno se perverso, laborioso se ocioso, útil se for inútil, frugal se intemperante, exemplar se não o foi.”
Como podemos nos reabilitar dentro dessa visão panorâmica da nossa realidade espiritual, infinitamente ampla, é o que pretendemos, à luz do Espiritismo, abordar neste trabalho de aplicação prática.
Reabilitar-se exige modificar-se, transformar o comportamento, a maneira de ser, de agir; é reformar-se moralmente, começado pelo conhecimento de si mesmo.
Múltiplas são as formas pelas quais vamos conhecendo a nós mesmos, nossas reações, nosso temperamento, o que imprime as nossas ações ao meio em que vivemos, aquilo que é a maneira como respondemos emocionalmente, como reagimos aos inúmeros impulsos externos no relacionamento social.
Podemos concluir que a nossa existência é todo um processo contínuo de reformulação de nossos próprios sentimentos e de nossa compreensão dos porquês, como eles surgem e nos levam a agir. Quando não procuramos deliberadamente nos conhecer, alargando os campos da nossa consciência, dirigindo-a rumo ao nosso eu, buscando identificar o porquê e a causa de tantas reações desconhecidas, somos igualmente levados a nos conhecer, exatamente nos entrechoques com aqueles do nosso convívio, no seio familiar, no meio social, nos setores de trabalho, nos transportes coletivos, nos locais públicos, nos clubes recreativos, nos meios religiosos, enfim, em tudo o que compreende os contratos de pessoa a pessoa.

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