A disseminação da Boa Nova

Por:  Antônio Leite
Ao reler a nossa própria trajetória pessoal pela vida afora, constatamos muitos equívocos e paradoxos em nosso comportamento no que diz respeito a nossa atitude perante às questões relacionadas com a nossa própria existência, a existência da alma ou espírito e a sobrevivência deste à morte física, a possibilidade de um permanente intercâmbio entre o mundo físico e o espiritual, a reencarnação, enfim, essa problemática que tanto diz respeito e afeta a nossa vida.
 Em um primeiro momento, quando o véu da ignorância paira soberanamente sobre as nossas mentes e empana quase que por completo a nossa inteligência e razão, mantemo-nos como que anestesiados e insensíveis ao conhecimento dessa realidade. Este ainda não é o mais crítico dos momentos no tocante a nossa intransferível responsabilidade perante a vida e o progresso moral, pois somos nesta fase beneficiados pela atenuante da falta de conhecimento.
No prosseguimento da nossa jornada rumo ao conhecimento das coisas e do entendimento da própria vida, insistimos nos enganos e paradoxos. No ponto em que já desenvolvemos relativamente o conhecimento intelectual, somos como que acometidos pela enfermidade do orgulho e da vaidade. Aí então, passamos a traçar conjecturas e imaginamo-nos as pessoas mais capazes e habilitadas a emitir um parecer racional sobre os dilemas da vida e suas consequências práticas. Assumimos a postura do mais lúcido dos filósofos e julgamo-nos os únicos pesquisadores capazes de desvendar os segredos que levam à Verdade. Assim, do púlpito da nossa pedante arrogância desafiamos e debochamos daqueles que ousam enveredar pelos caminhos do autoconhecimento, especialmente os que levam à descoberta da nossa realidade intrínseca de seres imortais.
Tudo, dizemos, não passa de misticismo, ocultismo, superstição, enfim, coisas indignas de serem ao menos cogitadas e objeto de estudos e considerações mais sérias. Como diria jocosamente o lúcido escritor espírita, Hermínio C. Miranda, que ao darmos azo a tão despropositado absurdo que representam essas possibilidades temerárias, correríamos o risco de se nos deparar com o seguinte dilema: " - então, meu Deus!, somos todos espíritos sobreviventes, reencarnantes, comunicantes e até imortais! Um horror!" 
Continuamos a nossa jornada de aprendizado pelos corredores da melhor e mais apropriada de todas as escolas - a própria vida. Nessa longa caminhada, por razões e 'coincidências' que na maioria das vezes não procuramos analisar mais sabiamente, quiçá uma delas a dor, vamos nos encontrar mais adiante, em posição um pouco mais de vanguarda, e aí já até admitimos sondar essas questões existenciais com mais abrandamento. Iremos nos surpreender até, quando nos vermos mais à frente, integrados às fileiras de uma das mais variadas correntes do pensamento, seita ou religião. Como somos espíritos imortais em longa jornada de aprendizado, muito embora não tenhamos admitido tão estapafúrdia ideia por longos séculos e talvez milênios, a razão nos diz que a probabilidade mais acertada é a de que antes de chegarmos aonde nos encontramos nesta fase da vida, fizemos pouso em muitas paradas.
Como sabemos, a natureza não dá saltos. Apesar do conhecimento intelectual que até aqui adquirimos ao longo dessas pretéritas experiências vividas na carne e fora dela, bem como o abrandamento da nossa postura em relação aos questionamentos existenciais mais urgentes, e mais ainda, apesar do exercício salutar do relacionamento humano mais direto nas fileiras dos credos por onde fizemos paradas, fato é que ainda perpetuam-se os equívocos e os desacertos mais triviais. O orgulho, a vaidade e a falta de humildade empanam a nossa razão e ainda nos prendem aos atavismos do passado e nos impedem de enxergar a humanidade como uma grande família universal, da qual somos todos membros e como tal devemos nos tratar, não importando a que segmento social, filosófico ou religioso fizermos parte.
Assim, tem sido a nossa jornada, repleta de equívocos, erros e também acertos, convenhamos, mas enfim, de aprendizado. Hoje nos encontramos vivendo em um mundo em que os valores humanísticos são apregoados às escâncaras, muito embora praticados à míngua. Mas se não os incorporamos na prática em nossas vidas diária, não é por causa de ignorância ou falta de conhecimento, é opção mesmo. Afinal de contas já se vão mais de dois mil anos em que repetidamente temos recebido a visita de inúmeros mensageiros do Amor e da Verdade, os quais insistentemente têm nos falado dessas coisas, inicialmente por metáforas e parábolas, e posteriormente, em linguagem clara e incontroversa. Na altura dos acontecimentos, pois, encontramo-nos em uma situação em que não mais seremos beneficiados pela atenuante da dúvida ou falta de conhecimento. Não, este tempo já passou. A razão nos adverte e naturalmente nos impulsiona na direção de um raciocínio mais lógico e compatível com o nosso grau de progresso moral e intelectual. Quer aceitemos ou não, nossa consciência nos mostra que o princípio da responsabilidade individual é o apelo maior e constante a proclamar a máxima do "A quem mais se dá, mas será cobrado".
Depois de muitas idas e vindas aqui nos encontramos em pleno século 21, ainda um pouco atônitos por testemunhar de perto tantos equívocos, desacertos e sofrimentos, apesar de vivermos em um mundo globalizado onde o progresso tecnológico alcançou patamares jamais vistos, e muitos até bem recente inimagináveis.
 Nós outros que fomos ao longo dessa jornada contemplados com a dádiva dos conhecimentos esclarecedores da doutrina consoladora dos espíritos, podemos nos considerar privilegiados. Seria este mesmo o entendimento que devemos ter frente a esta realidade?
Não resta a menor dúvida que os ensinamentos sábios e seguros da Doutrina Espírita podem ser comparados a um poderoso e eficiente jato de luz a iluminar a nossa caminhada rumo ao progresso espiritual. Entretanto, devemos compreender que temos que ir além do simples conhecimento e nos render ao seu apelo maior, quer seja, aquele que nos fala do verdadeiro senso de responsabilidade individual e comprometimento com os valores objeto da proposta espírita. Somente assim, poderemos nos sentir verdadeiros privilegiados por ter tido a abençoada oportunidade de, nesta existência, ter travado contacto com esses tão benéficos ensinamentos.
Finalmente, voltamos a nossa atenção para o ponto essencial circunscrito no título desta despretensiosa mensagem editorial.
É muito natural que queiramos dividir com os nossos irmãos um pouco daquilo que nos tem feito tanto bem. Afinal de contas, nos imaginamos preparados para iniciar tal empreitada, uma vez que entramos para as fileiras do Espiritismo já há muito tempo, diremos nós. E neste ponto, mais uma vez recorro à sutileza do humilde escritor espírita Hermínio Miranda que alhures afirmou mais ou menos o seguinte: "é fato que já entramos no Espiritismo, mas o que precisamos é ter a certeza de que o Espiritismo entrou em nós."
E aqui, encerramos com uma mensagem para todos aqueles que se põem a serviço da nobre tarefa de disseminar a Doutrina dos Espíritos, especialmente quando este reconhecido ato de caridade é dirigido para irmãos de outras culturas. Primeiramente, jamais percamos de vista que o exemplo é o maior entre todos os meios de que dispomos para o exercício desse mister. Quanto ao mais, a Doutrina dos Espíritos está assentada em base sólida e segura - A Codificação -, a qual não foi objeto de interpolações e interpretações duvidosas. Assim, tenhamos a humildade de estudá-la com dedicação e perseverança, para que possamos nos habilitar a disseminar os seus ensinamentos com simplicidade e clareza, que são características da sua própria mensagem, nos abstendo de restringi-la ou atrofiá-la com a aplicação de rótulos de qualquer natureza, pois a sua mensagem é universal e apela para o coração e a mente de qualquer ser humano esteja ele na posição que estiver.

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