A mediunidade no movimento espírita

"Três períodos distintos apresenta o desenvolvimento dessas idéias (espíritas): primeiro, o da curiosidade, que a singularidade dos fenômenos produzidos desperta; segundo, o do raciocínio e da filosofia; terceiro, o da aplicação e das conseqüências. O período da curiosidade passou... começou o segundo período, o terceiro virá inevitavelmente"
(Allan Kardec – Obras Póstumas – Conclusão – item V).

O mestre lionês descreve, com singularidade, o desenvolvimento das idéias espíritas ao longo do tempo.
Há muita semelhança entre as afirmações acima e a história do movimento espírita no Brasil. No início a predominância era a prática mediúnica. O intercâmbio com o plano espiritual era a prioridade total dos Grupos e Centros Espíritas. Esse período foi se mesclando, ao longo do tempo, passando o estudo também a fazer parte de certos grupos, e a divulgação das obras básicas e complementares veio proporcionar meios para que as pessoas pudessem, mesmo sem participar de Grupos e Centros Espíritas, conhecer a filosofia espírita, aguçando o raciocínio, libertando-se das peias dos dogmas impostos por uma religião oficial.
No entanto, durante um bom tempo, houve oposições sistemáticas ao estabelecimento de cursos regulares e metódicos do Espiritismo.
Isso fez com que o crescente número de Grupos e Centros Espíritas que se formaram na primeira metade deste século priorizassem a prática mediúnica aliada a uma assistência social pura e simples.
Só mais recentemente, nos últimos trinta anos, o estudo seqüencial passou a ser introduzido nas Sociedades Espíritas com programas definidos.
Inicialmente esses estudos se fixaram mais na educação de mediunidade. (Exemplos: Pontos da Escola de Médiuns de Edgard Armond e Centro de Orientação e Educação Mediúnica – COEM do Centro Espírita Luz Eterna de Curitiba, entre outros).
No início, simplesmente roteiros com indicações bibliográficas e, posteriormente, publicações mais elaboradas com indicações metodológicas para estimular os estudos em grupo.
O Estudo e Educação da Mediunidade, substituindo a prática até então vigente de se introduzir o neófito diretamente nas reuniões mediúnicas, trouxe, realmente, um grande deferencial para o movimento Espírita.
Mas o principal veio mais tarde, quando se vislumbrou o óbvio: o principiante precisa conhecer primeiro a filosofia espírita para ter bases sólidas, a fim de enfrentar a vida. Descobriu-se que para ser espírita não há necessidade de ser médium e nem de freqüentar reuniões mediúnicas.
Os órgãos de unificação em alguns Estados, no Paraná inclusive, fizeram enormes esforços para disseminar os programas de Estudos Sistematizados da Doutrina Espírita.
Recentemente, o movimento espírita foi despertado para a divulgação com o lançamento da Campanha de Divulgação do Espiritismo. Os vários meios de comunicação estão sendo utilizados nesse mister.
Hoje, o que se nota é a afluência de pessoas nas casas com sede de conhecimento da Doutrina Espírita, e uma grande parte nem se preocupa com a mediunidade.
Parece que já estamos no terceiro período citado por Kardec de aplicação e das conseqüências. Será mesmo?
Cuidemos para não retroceder ao período da curiosidade!

Fonte:
Mundo Espírita - maio de 1998

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