O cuidado com a palavra

Por: Eugênia Pickina 

A luz do sol multiplica aves e árvores, relva e areia.
Silencia ou celebra e, para seu bem sincero, que abre noite e estrelas,
Priva o cerrar da tarde do incauto maldizer.
As leis divinas instrumentalizam o precioso recurso da reencarnação. Nova oportunidade é dada ao Espírito, imortal, para renovar repertórios mentais e afetivos e, desse modo, desenvolver um novo campo de ação, apto a ampliar a percepção para a verdade que esclarece, liberta e amplia. Com isso, alarga-se também a capacidade de entendimento do bem, da caridade, como recursos terapêuticos e promovedores da espiritualização da existência.
Mas, como espiritualizar a existência?
Na maioria dos casos, as principais dificuldades do ser humano estão enraizadas nos sentimentos e pensamentos em desalinho. Muitas alternativas poderiam ser sugeridas para a condução do realinhamento mental-afetivo sobre bases articuladas e comprometidas com o bem. Contudo, penso que uma atitude poderá ajudar todo aquele que se preocupa em iluminar suas ações por uma vida atenta das coisas essenciais: o cuidado com a palavra emitida e recebida.
“A conversação menos digna deixa sempre o traço da inferioridade por onde passou. A atmosfera da desconfiança substitui, imediatamente, o clima da serenidade. O veneno de investigações doentias espalha-se com rapidez. Depois da conversação indigna, há sempre menos sinceridade e menor expressão fraterna”. (1)
A condicionante da fala indigna, expressada no vício da fofoca, da calúnia, das opiniões ásperas, além de induzir os que ouvem ao engano e ao malogro, alimenta a corrupção dos pensamentos e sentimentos bons. A má conversação, em palavras simples, compromete a saúde da estrutura mental, obscurece as energias trocadas nos relacionamentos, o que dá, como consequência imediata, endividamento no plano consciencial. Desse modo, se for para falar mal, melhor silenciar; se for para internalizar uma má notícia, melhor se fazer de surdo.
Nos painéis da vida, os cenários de relação abrem o indivíduo, no mundo, para o enriquecimento da capacidade de enternecimento, integridade e troca de mensagens positivas. Mais do que falar de qualquer jeito, disciplinar-se e evitar situações que fazem da palavra o transtorno de uma ação carente de bom senso, de compaixão, de respeito.
Como sabemos, as palavras são portadoras de intenções e de sentidos (significados): elas, então, são agentes que podem dignificar a vida de relação (a prática do bem dizer) ou intoxicar a vida de relação (a prática do maldizer). Logo, o existir responsável é exigente também da vigília nas experiências dialógicas.   
Se a indisciplina da má conversação está atada a circuitos mentais e afetivos desequilibrados, que contaminam os centros da consciência e da vontade, neste caso, um dos antídotos indicados perpassa pela prática do silêncio (abster-se no lugar de maldizer) ou da não-recepção da mensagem negativa, pois ninguém pode melhorar-se aprisionado a pensamentos e sentimentos menores.
Viver e querer compreender a vida como Espírito em mais uma experiência corporal solicita aproximar-se da consolação ofertada pelo Cristo à humanidade. Dessa forma, para o próprio bem, deve haver de nossa parte um alegre esforço para dar concretude, nas nossas experiências de relação, às palavras de Emmanuel:
“Quando o coração se entregou a Jesus, é muito fácil controlar os assuntos e eliminar as palavras aviltantes”. (2)  
Bibliografia:
(1) EMMANUEL [XAVIER, Francisco Cândido]. Pão Nosso. RJ: FEB, 2006, p. 163.
(2) EMMANUEL [XAVIER, Francisco Cândido]. Pão Nosso. RJ: FEB, 2006, p. 164.
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