Por Alexandre
Mansur
O jornalista
André Trigueiro, da Globonews, vai lançar seu novo livro “Espiritismo e
Ecologia”, dia 12 de setembro, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, no
Riocentro.
O evento
funcionará como um debate, onde o público pode fazer perguntas ao autor. Em seu
livro, Abdré Trigueiro identifica como a preservação ecológica se identifica
com o espiritismo, e com a espiritualidade, em um sentido mais amplo. “Se
equilíbrio é sinônimo de sustentabilidade, quem busca o equilíbrio através da
religião precisa ser sustentável”, diz.
Trigueiro
explica isso em detalhes na entrevista que concedeu à Época:
Época: O que o espiritismo diz sobre
ecologia?
André
Trigueiro: A
expressão “ecologia” foi cunhada na Alemanha apenas nove anos depois de a
primeira edição de o “Livro dos Espíritos” ter sido lançada na França , no
inspiradíssimo século XIX do evolucionismo, do positivismo, do comunismo, da
psicanálise, e de outras correntes de pensamento referenciais para parcela
expressiva da humanidade. Espiritismo e ecologia explicam, cada qual ao seu
modo, um universo sistêmico e interligado, o uso racional dos recursos naturais
baseado no princípio da necessidade - e não da opulência -, uma nova ética
solidária que leve em conta os interesses de todos e não de uma minoria, o
respeito a todos os seres viventes. Espíritas e ecologistas também reconhecem a
existência de mecanismos de autoproteção da Terra, embora expliquem isso de
formas distintas. E estudam os efeitos colaterais da poluição nos dois planos
da vida: enquanto a ecologia investiga o impacto dos poluentes na matéria (ar,
água, solo), o espiritismo desdobra-se na investigação dos impactos de outros
gêneros de poluentes (formas-pensamento, miasmas, etc) no campo sutil, no plano
atral, também chamado de psicosfera.
Época; Como a ética religiosa pode
ajudar a preservar a natureza?
Trigueiro: Onde se aceita a idéia de Deus,
a natureza é entendida como obra divina, onde o sagrado se manifesta de forma
rica e exuberante. Depredar a natureza significa macular um sistema em
equilíbrio que dispõe de tudo o que nos é necessário para que possamos viver
bem. De uns tempos para cá, diversas tradições vem descobrindo a riqueza da
teologia ambiental para explicar, cada qual a seu modo, como as leis que regem
a vida e o universo precisam ser respeitadas em favor de nós mesmos. Não
estamos desconectados do meio que nos cerca. Na verdade, essa ligação é
intrínseca e visceral. Se equilíbrio é sinônimo de sustentabilidade, quem busca
o equilíbrio através da religião precisa ser sustentável. Época: Você
acha que se as pessoas tivessem mais espiritualidade, cuidariam melhor do
ambiente?
Trigueiro: Quem cuida do lado espiritual -
e realiza essa busca solitária e persistente de Deus em si mesmo - tende a ser
menos dependente dos bens materiais - portanto menos consumista - e mais atento
ao legado, aos impactos de ordem material e moral de sua passagem por este
planeta. Mas cada vivência espiritual é pessoal e intransferível. A
espiritualidade contém todas as religiões, mas uma única religião não contém
toda a espiritualidade. A religião também não salva ninguém, mas antes, a
disposição de cada um em ser alguém melhor, mais solidário e amoroso. Também é
verdade que muita gente que não acredita em Deus - ou na vida após a morte -
realiza importantes trabalhos na área da sustentabilidade. Não importa em que
se crê, mas naquilo que se faz de verdade em prol dos outros e do planeta que
nos acolhe. Época: Como você descobriu o espiritualismo?Trigueiro: Em 1987,
tive uma curiosidade irrefreável de investigar os livros de cabeceira de minha
mãe, onde estavam as obras básicas da Doutrina Espírita. Então iniciei uma
aproximação que não teve mais freios nem pudores. Já na juventude, fazendo
questionamentos enormes de ordem existencial e procurando respostas que não
encontrei em outras religiões, me senti muito bem amparado pelo Espiritismo.
Foi um processo natural.
Época: Como você começou a relacionar a
espiritualidade com a preservação ambiental?
Trigueiro: Há seis anos, fui convidado
para fazer uma palestra em um centro espírita do Rio de Janeiro pelo saudoso
escritor, musicoterapeuta e médium Luiz Antônio Millecco, fundador da Sociedade
Pró-Livro Espírita em Braile (SPLEB). O tema era “Ecologia e Paz”. Creio que o
livro começou a nascer nesta palestra. De lá para cá, através de minhas
pesquisas, descobri que o pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (que
usou o pseudônimo de Allan Kardec ao assinar as obras básicas do espiritismo) e
o naturalista alemão Ernst Haeckel, tido como o Pai da Ecologia, eram homens de
ciência que deixaram um legado importantíssimo para os dias de hoje, em que
tentamos entender melhor a origem de múltiplas crises (econômica, social,
ética, ambiental) e os caminhos para resolvê-las.
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